Inusitado

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    O falatório na Vila Maia era geral. Todos estavam ansiosos para conhecer a nova família que estava se mudando para o número 94. A notícia se espalhou quando uma das fofoqueiras do bairro viu um homem de terno conversando com o antigo dono da casa e foi espalhar na mercearia do bairro.

    No dia 2 de fevereiro, dia da mudança da família a Rua Antônio Gomes das Graças estava cheia. Todos diziam estar ali visitando algum amigo ou parente, mas estavam mesmo observando o grande caminhão de mudança parado em frente ao número 94. 

    Do caminhão os carregadores retiraram muitas coisas, objetos que pareciam ser muito caros, coisas finas. Pelos móveis as pessoas podiam dizer que era um casal e que tinham dois filhos, um menino e uma menina. 

    Pouco tempo depois, atrás do caminhão parou um carro azul, modelo do ano. Do carro desceram quatro pessoas. Um homem de terno, que todos identificaram como o pai da família, uma mulher japonesa, que devia ser a mãe, uma menininha que aparentava uns quatro anos e um garoto que julgaram ser estranho. O cabelo do garoto era roxo, tinha orelhas pontudas e por trás de grandes óculos estava um par de olhos cinzentos e profundos. 

    -Deve ser um delinqüente! -Disseram as más línguas. 

    O garoto em questão, o de cabelo roxo, se chamava Yoshiro Yamagushi, mas preferia que o chamassem de Yosh. Era um apelido que ganhara de sua prima Yumi há muito tempo. 

    Yosh olhou para os lados. A rua estava muito cheia. Pensou que estava tento alguma festa no bairro ou coisa do tipo. Estava odiando tudo aquilo. Detestava ser o centro das atenções, embora fosse difícil não ser com os cabelos roxos. Mas o que ninguém sabia era que os cabelos do garoto eram roxos de nascença. Único caso no mundo inteiro. 

    Em frente á casa que Yosh e sua família mudariam tinha uma enorme mansão. Yosh sabia quem morara ali. Tinha sido um dos motivos pelo qual ele aceitara se mudar tão facilmente. 

    O homem que morara ali tinha tirado a Vila Maia da idade das trevas. Era um renomado cientista e arqueólogo que Yosh admirava muito. 

    Diferente de sua nova casa, a mansão estava cheia de teia e lixo. Sinal de que ninguém pisava ali há séculos. 

    Ignorando a mansão e a multidão Yosh se virou para sua nova casa. Dois andares, garagem para dois carros, paredes na cor verde-limão e portas e janelas brancas. No telhado a cor laranja predominava. Era uma casa bonita. 

    Yosh seguiu sua família para dentro da casa. Era mais bonita ainda por dentro. Na entrada estava a sala, que dava passagem para a cozinha e um banheiro no andar de baixo, e a escada no canto da parede levava para três quartos, um escritório e outro banheiro. 

    -Qual quarto você quer, querido? -Perguntou Hyoko, mãe de Yosh, com sua voz sempre doce. 

    -Esse. -Yosh apontou para o quarto de frente para o banheiro. Não era muito diferente dos outros. Mais o que influenciou a escolha de Yosh foi a janela que era virada para o morro. 

    Yosh adorava olhar as estrelas durante a noite, e imaginou que dali poderia vê-las bem melhor. 

    -Vou ficar com esse quarto, do lado do quarto do meu maninho. -Yosh ouviu sua irmã, Kato, gritar do lado de fora. 

    Os móveis do quarto de Yosh foram sendo colocados no quarto pelos carregadores. Pouco a pouco os móveis foram sendo montados. Primeiro a cama, depois a mesa do computador, depois o guarda-roupas e por último uma estante para os livros que Yosh tanto adorava. 

    Quando todos os móveis foram montados o relógio do celular de Yosh marcava três e quinze da tarde. 

    A casa já podia ser habitada. 

Anelaris - O Encontro dos MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora