XIV

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Jungkook's vision

Não consegui dizer nada, eu deveria?

Depois de tanta coisa, tantos pensamentos, tantas conversas criadas mentalmente, tantas dicas recebidas de biscoitos da sorte e de Jimin, eu ainda não conseguia dizer nada perto dela.

Ela sorriu. Merda, por que essa garota tem que sorrir assim? Ela não tem pena de mim?

Lisa parecia estar na mesma situação que eu, tentando entender toda essa confusão mental.

– São as minhas favoritas, sabe? – Falou Lalisa olhando para os próprios pés, muitas pessoas esbarravam em mim, ou eu estava tão atordoado que estava esbarrando nelas?

– Sério? – Me forcei a sorrir também, a aparição dela me acertou como um soco no meio da cara.

– Sim, as margaridas são as favoritas das borboletas também, por terem esse miolo maior do que a maioria das flores, além de serem cheias de pólen. – Não parou de sorrir enquanto finalmente me encarava para falar, foi minha vez de olhar para os pés.

– Como você sabe de tudo isso? – Pergunto. Ah, minha curiosidade denovo. Ela suspirou.

– Na verdade, sinto como se sempre soubesse. Isso só... Só está em mim. – Ela diz com a mão nos bolsos do casaco. E sem dizer nada começamos a andar sem rumo, ainda seguro as flores na minha mão.

– Toma. – As entrego pra ela, ela pareceu surpresa, talvez não esperasse que eu desse a ela de fato.

– O-Obrigada. – suas bochechas ficaram vermelhas, ela sorriu até que seu nariz ficou todo enrugado. – Kookie... Sobre aquela festa de sexta-feira...

– Não. – Pus o dedo sobre seus lábios, eu não queria falar sobre aquilo, tudo estava tão bom agora. – Só vamos... Esquecer aquilo, tá bom?

Ela se calou, pareceu confusa por algum tempo mas depois balançou a cabeça concordando e seguimos andando.

– Pra onde vamos? – Lisa pareceu se reanimar depois de andarmos por umas duas ruas movimentadas – Ouvi dizer que tem um restaurante francês ótimo por aqui, mas se você não gostar de comida francesa tem também uma lanchonete vegana que tem uns hambúrgueres muito deliciosos e... – Ela parou e olhou pra mim. – Eu estou falando muito, né?

– O quê? – Desviei o olhar da rua – Não... Pode continuar, gosto de quando você tagarela. – Sorrio. Ela sorri também e me dá um tapinha no braço.

– Ei! Eu não "tagarelo", eu só falo muito do que eu penso, é diferente...

– OK...

– Ao contrário de você, que é um caladão nunca fala nada do que pensa e sempre me deixa confusa. Você é tão malvado. – Ela diz sem muita seriedade e finge estar com raiva, mas não solta o meu braço.

– Ah, tá. Então você quer que eu fale, certo? Eu vou falar. – Pigarreei, estava meio resfriado por causa do frio. – Desde que você chegou lá na biblioteca, minha vida está virada de cabeça pra baixo, tipo, eu nunca tinha conseguido fazer várias coisas como ter uma conversa franca com meu pai, ou dizer que eu amo ele e a minha mãe, porque eu sempre meio que reclamei que eles não davam a mínima pra mim, mas nunca tentei interagir com eles de fato e... Depois de ver você conversando com a minha mãe como se fossem super amigas eu pensei, por que eu não posso ser assim com a minha mãe também?”. E aí teve toda a merda da descoberta que eu sou um depressivo idiota pra acabar com todas as minhas esperanças de seguir em frente, tudo isso junto com a ansiedade de não me sentir pronto pra falar isso nem pra o meu melhor amigo, mas estar falando pra você, que até a pouco tempo era a pessoa que eu mais odiava. – Falei tudo isso em loucas pausas, Lisa não tinha me interrompido uma só vez, quando terminei ela parou e me fez parar também, por ainda estar agarrada ao meu braço. Eu não devia ter falado sobre a doença, Jungkook você é um retardado mesmo, agora o nosso assunto será esse.

– Você me odiava? Mas eu sou a pessoa mais amorzinho do mundo. – Ela perguntou mais pra si mesma do que pra mim. Ri do seu pensamento bobo.

– Eu meio que odeio todo mundo, sabe? – Lisa sorriu quando eu disse isso, aposto como ela já tinha percebido isso a muito tempo. – E você é uma das únicas que eu não odeio. Não mais.

– Ah, então quer dizer que tem outras além de mim, é? – Ela cruzou os braços.

COMO PODE SER TÃO FOFA, JESUS?

Para de besteira, guarda esse ciúme pra o seu namorado. – Disse descontraído, não me importava mais de ela ter um namorado, se ela estava aqui do meu lado, agora.

– Namorado? Que namorado? – Ela pergunta. Como assim que namorado? Será que é aquele que você beijou na festa na frente de todo mundo? Aquele que você gritou o nome e chamou de “Oppa”? Será que você se lembra, Lalisa? – Olha só! Um carrinho de sorvete, vamos!

Ela começou a me puxar para a lateral da rua, eu a segui, o que poderia dar errado?

De todos os momentos felizes que eu tive na minha vida, como quando aprendi a andar de bicicleta ou quando fui premiado como melhor aluno da escola, eu acho que nunca reconheci de fato a felicidade nesses instantes, talvez eu sempre fui ambicioso de mais para me satisfazer com o que tinha, sempre fui insatisfeito com tudo, mas o porquê disso tudo eu não sabia.
E também nunca tinha parado para me perguntar isso, passei a vida sentindo que deveria ser infeliz por não ter a quantidade de amigos que todo mundo tinha, por não ter uma namoradinha no primário, por não sair de férias para a praia porque meus pais nunca estavam em casa, por nunca ter ido dormir com alguém contando uma história infantil pra mim, ou por nunca ter me permitido sentir o amor de verdade.
Mas hoje eu estava feliz, e sabia disso, e queria isso. Porque uns dias atrás eu parei e disse pra mim mesmo: hey, eu também mereço sentir isso, essa é a minha chance. Sempre me proibi de ser feliz por achar que a felicidade viria sem mais nem menos e me acertaria com um soco na cara, talvez tenha sido isso mesmo, mas eu mesmo tive que ir lá provocar o destino para que ele me socasse.

Enquanto eu tomava meu sorvete de flocos e via Lisa se lambuzar igual uma criança comendo o dela, pensei em como eu reconheceria esse momento no futuro.

Um futuro tão incerto que me assustava. A minha rotina tinha acabado, não poderia previr o que faria amanhã, ou daqui a dois minutos.

O resto do dia foi meio improvisado, eu não queria ir para casa, ter que ficar sozinho com meus medos de novo, Lisa não pareceu se importar com a minha persistência em ficar a tarde toda fazendo coisas bem fúteis, na verdade ela achou bem divertido.

– Então, você se sente mais feliz desde que vem tomando os remédios. – Lisa me perguntou sentada num dos cinco puffs da ala infantil da biblioteca, sra. Han tinha ido para algum tipo de clube de tricô, esse tipo de coisa que gente velha faz, e Lisa tinha as chaves do prédio velho e deteriorado.

– Acho que não, ao menos que eles só façam efeito quando estou com você. Porque é a única hora do dia em que eu estou feliz. – Eu estava em um puff também, já deviam ser umas dez da noite e a gente tinha feito tanta coisa divertida que é quase impossível listar. Depois de tomar sorvete fomos pro cinema e assistimos uns dois filmes de terror, confesso que fiquei com mais medo que Lisa, mas ela também só ficava olhando pra minha cara em vez de assistir o filme, depois fomos pra o rio Han ver algumas apresentações culturais que sempre tem lá, só me lembrei da Sra. Han, mas não porque o rio tem o mesmo nome que ela, e sim porque ela sempre foi fã de coisas culturais assim. E teve tantas outras coisas, o dia tinha sido tão longo que meus olhos não demoraram a pesar.

Eu cochilei em pouco tempo, Lisa deu um beijo na minha testa e pareceu se aconchegar no puff dela para dormir também, ninguém ia se importar de fato com a gente ali.

butterfly ☮ jungkook × lisaOnde histórias criam vida. Descubra agora