II

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Encontrar a Luísa não foi um problema. Ela é muito previsível e os sítios que escolhe quando está a chorar ou tem um problema também não são difíceis de adivinhar. Comecei a correr e só parei quando cheguei ao ginásio. Se estivesse certa, a Luísa estaria por de trás deste, num banco que eu aposto que nem metade dos alunos desta escola sabiam da sua existência. Conhecia a Luísa demasiadamente bem. Conheci-a quando andávamos no 3º ano. Ambas nas férias ficávamos no ATL da escola quase todos os dias. No 5º ano, como ficámos na mesma turma a nossa amizade cresceu e agora éramos inseparáveis. Já tínhamos passado por muitos momentos humilhantes, divertidos e inesquecíveis, mas claro que também já passámos por momentos complicados onde a nossa amizade esteve quase a acabar, mas eu não podia deixar isso acontecer, obviamente. O que seria de mim sem uma Luísa? Não sei como é que as outras pessoas aguentam sem uma Luísa... 

- SOFIA! - gritou para me chamar a atenção. Parecia feliz por me ver embora tivesse o rosto banhado em lágrimas.

- O que aconteceu? - perguntei já ao seu lado. Queria saber a resposta o mais depressa possível

- Lembras-te da-daquele trabalho de casa que a professora de desenho nos deu logo, nos deu logo no inicio do ano? Que lhe podíamos entregar a-a-a qualquer altura do ano? - já tinha parado de chorar mas ainda soluçava

- Sim, claro! Ainda não acabei o meu. Aquilo exige imenso tempo, é preciso ter muita criatividade e... - não acabei a frase pois distraí-me com os seus olhos. Estavam vermelhos e inchados. Em baixo dos olhos tinha um pequeno borrão preto. Rímel, deduzi. Já tentara tirar a sujidade mas continuava um pouco preto.

- Pois, mas eu já tinha acabado o meu. Eu pu-lo no meu cacifo e hoje como temos desenho fui buscá-lo para o poder entregar mas imagina só... roubaram-mo! - e assim que acabou a frase começou outra vez a chorar. Abracei-a chocada com aquilo que tinha ouvido. Com uma mão fazia-lhe festas nas costas e com a outra acariciava-lhe o cabelo.

- Não pode! Tu tens de falar com a diretora! E com a professora também. - fiz uma pequena pausa para pensar melhor no assunto - Mas tu tens a certeza que ele estava no cacifo? Não o perdeste sem querer ou não o deixaste em casa? - arrependi-me logo que fiz aquelas duas perguntas. Ela olhou para mim com um olhar de quem diz 'Mas tu não confias em mim? Achas mesmo que eu inventar isto tudo porque o tinha perdido?' por isso repeti uma frase que já tinha dito só para não deixar em aberto aquelas perguntas - Tu tens de falar com a diretora!

- Eu tenho é de, de falar com a professora! Aposto que vai pensar que eu só lhe a dizer isto porque não fiz o trabalho e agora não tenho tempo para o acabar. Ou então vai pensar que não o quero fazer simplesmente.

- Não não vai! Ela sabe o quanto tu gostas da disciplina e eu acho que ela já te viu a trabalhar no desenho.

- Espero bem que sim... - e disse isto como se fosse a sua única hipótese de não te 0 no trabalho.

- Nós vamos descobrir quem te roubou o trabalho. - ela esboçou um pequeno sozinho como agradecimento - Quer quer que tenha sido tem de ser do 10º de artes. Eu falei com o Rafa sobre este trabalho e pelos vistos todas as turmas de artes o têm de fazer. Nós vamos descobrir quem te roubou o desenho! - mas desta vez disse isto para mim como uma promessa e não para a acalmar. Tinha tanta curiosidade de saber quem era, mas sabia que quer quer que fosse eu ia odiar essa pessoa e acho que não a ia perdoar por ter feito tal coisa.

Ficámos abraçadas durante algum e até teríamos ficado mais tempo se não tivéssemos atrasadas para a aula de português. A nossa sorte foi que a professora viu que a Luísa tinha estado a chorar, muito, e deixou-nos entrar sem fazer quaisquer tipo de perguntas como costumava fazer.

O resto do dia foi igual aos outros todos, ou seja, longo e cansativo. As aulas pareciam não ter fim excepto as aulas de História e Inglês. As únicas que eu gostava mesmo passavam num instante. Na aula de Inglês a professora entregou-nos os testes e eu tive um 19 que me deixou super feliz. No final da aula de História o professor deu-nos um trabalho de casa e eu decidi fazê-lo  assim que as aulas terminassem. Assim já ficava feito e como eu gostava da matéria não era um problema ficar na biblioteca da escola depois das aula acabarem e perder a minha tarde.

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