Eu sobrevivi. Mais uma vez, falhei miseravelmente na tentativa de tirar minha própria vida, ainda bem, talvez eu não estivesse pronta. Essa lembrança tornou-se mais uma mágoa para mim, mas felizmente eu não pensava mais em suicídio, na verdade, não pensava mais em nada, tinha mais ou menos uma semana que eu não saía de casa nem para ir à escola, na verdade, não saia do quarto, a minha única vontade era ficar deitada sem fazer nada, simplesmente cansei de tentar qualquer coisa. Minha mãe me" visitava" no quarto, junto com meu pai para levar comida e conversar comigo, ainda era por eles que eu permanecia ali de alguma forma, tenho certeza que foram eles que não me deixaram morrer, me amam demais para permitir que isso aconteça. Só querem me proteger, mesmo que seja de mim mesma.Meu pai entrou no meu quarto numa manhã, ele tinha uma mala em mãos e se sentou na beira da cama, me fitou por alguns segundos.
-Filha, eu e sua mãe chegamos a uma conclusão. -começou com um rosto deprimido.-você vai ir morar num lugar diferente até melhorar, onde vai ter mais gente para cuidar de você.
-Vocês vão me internar num manicômio? -perguntei sem conseguir acreditar.
Ele não podia estar falando sério.
-Não é bem um manicômio, é ...uma clínica! -como se um nome diferente fosse mudar alguma coisa. -Me perdoe, mas foi a única maneira que achamos de proteger você de você mesma.
Eu baixei os olhos e tentei processar aquilo. Será que estavam desistindo de mim? Isso é um pretexto para me abandonarem.
-Eu prometo que vamos te visitar sempre que pudermos! -disse e deu um sorriso triste. -Eu também não estou feliz com isso, mas você sabe que eu e sua mãe só queremos o melhor para você.
Ele estava desistindo de mim.-Perdão pai. -pedi. -Eu sinto muito por ser uma filha tão problemática.
-Não, não, você não é problemática. -falou enquanto negava com a cabeça, ele não queria admitir. -Você só precisa de ajuda, só que agora a nossa não é o suficiente, por isso você vai para a clínica.
-Você não quer que eu seja feliz? -perguntei e ele assentiu. -Eu não vou ser feliz lá.
Seus olhos estavam marejados.
-Ah, meu amor, vão curar você, tenho certeza, você vai voltar para casa assim que melhorar!-tentava ao máximo justificar, mas era óbvio que eu não estava convencida.
Meu pai se levantou e saiu do quarto, me deixando sozinha com os meus pensamentos, deixei as lágrimas rolarem pelo meu rosto, eu não tenho jeito mesmo. O que eu posso fazer? Dizer que não vou? Sinceramente, foda-se, não vou perder o meu tempo com isso.
============================O táxi para em frente ao aeroporto, saio de dentro dele puxando uma mala, meu pai evita olhar para mim e minha mãe me fita com pena no olhar, Minerva anda ao meu lado, cabisbaixa, juntos esperamos a hora do meu voo, minha mãe vai me acompanhar na viagem, para poder ficar me visitando por alguns dias.
Poucos minutos se passam em silêncio e é hora de embarcar, abraço minha irmã que se controla para não chorar.-Eu vou sentir muita saudade, Ayshila, se cuida e volte logo.-falou ao fim do abraço.
-Eu também Mines, pode deixar. -dei um sorriso triste.
Meu pai me abraçou e eu retribui um pouco contragosto.
-Eu sei que você vai melhorar minha menina! -eu apenas assenti, foi a única coisa que ele disse.

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Liberdade
RandomA felicidade não é encontrada em comprimidos, não. Essa é uma estória sobre liberdade, mais precisamente a luta por ela. Uma distopia onde a luta não é só pela liberdade política, mas por algo a mais...