O telefone toca e como a única pessoa em casa eu vou atender, me surpreendo ao ver quem é, sinto um misto de felicidade e nostalgia.-Alô? Posso falar com a Ayshila?
-É a própria. -respondi.
-Ayshila, é a Lúcia! -disse minha irmã mais velha. -Como você está?
-Bem.
-Que bom! Eu andei meio preocupada, coisa de irmã sabe?
-Sei. -disse e dei um risinho.
-Ainda me sinto culpada de ter deixado você. -Sua voz soou mais fraca do outro lado da linha.
-Não se sinta culpada! Você só foi correr atrás dos seus sonhos, e não culpo você. -falei a verdade na tentativa de confortá-la.
Eu sei como Lúcia se importa comigo, ela não é só minha irmã, foi minha companheira a vida inteira, mas ela se mudou para Buenos Aires, pois conseguiu um emprego lá como sempre sonhou, só que quando ela foi eu estava numa fase bem ruim, ela se sente mal por isso.
-Você tem ido ao psicólogo? -perguntou com preocupação na voz.
-Tenho consulta com ele semana que vem. -confirmei.
-Está tomando seus remédios?
-Pontualmente.
-Está indo à escola?
-Garanto que sou a aluna mais assídua de lá. -e eu tinha orgulho de mim por isso.
-Me diga. Está melhorando não está? -ela parecia animada.
-Eu acredito que sim. -sorri sem vontade como se ela pudesse ver, para que se sentisse bem, mas ela não estava.
-Não sabe como é bom ouvir isso, assim que você completar dezoito eu vou te buscar.-disse quase cantando do outro lado da linha.
-Vou esperar ansiosa.
Após alguns minutos irrelevantes de conversa desliguei.Eu e Lúcia somos bem próximas, apesar de ela ser 5 anos mais velha que eu, diferente de Minerva, ela tem 14 anos e é bem mimada na verdade, às vezes penso que tem ciúme da atenção que recebo, sinto que ela se esquece que tudo isso é só porque eu estou doente, ainda é muito jovem para entender.
Há coisas que não me permitem melhorar, como os olhares de pena, que não suporto, os caras que dão em cima de mim, nojentos, o bullying de algumas pessoas que aprendi a ignorar, e um garoto agressivo que é cismado comigo, não dou confiança para ele, o mesmo me dá medo.
Voltei a me trancar no quarto e ouço uma batida seca na porta.-Quem me incomoda? -perguntei.
-É a Minerva!-a voz quase infantil respondeu.
-O que você quer?
-Só quero conversar Ayshila!
Murmuei um argh e fui destrancar a porta, Minerva entrou e depois se virou, pondo- se de frente para mim.
-Eu estou bonita? -perguntou e eu senti vontade de rir.
-Claro que está. -modéstia parte, minha irmãzinha é linda, tem o mesmo cabelo castanho e liso que eu, e mesmos olhos cor de caramelo que possuo, porém eu não consigo me sentir bonita.
Minerva se parecia mais comigo do que Lúcia, Lúcia tem cabelo preto e parece com nosso pai.
-Aonde você vai arrumada assim?

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Liberdade
De TodoA felicidade não é encontrada em comprimidos, não. Essa é uma estória sobre liberdade, mais precisamente a luta por ela. Uma distopia onde a luta não é só pela liberdade política, mas por algo a mais...