1 semana depois.
Volto ao café somente uma semana depois, estava exausta de tanto conflito, em casa, na rua, na faculdade. Preciso de descanso, de paz em minha vida.
Ao chegar no Moore's Coffee encontro o mesmo garoto de uma semana atrás, sentado em minha mesa. Se não fosse que me conformei que essa semana tá uma merda e vai continuar sendo, eu com certeza demitiria alguém hoje por tê-lo deixado sentar na mesa que fica estritamente reservada para mim, independente da situação.
Vou até o balcão e vejo que a nova atendente está lá.
- Você é a nova atendente? - pergunto sorrindo. Ela afirma. - Se não quiser perder seu emprego, igual a última, saiba que aquela mesa... - aponto com os olhos - é minha, ninguém senta nela até segunda ordem. - sussurro pra mulher que assente e sai.
Poucos segundos depois ela volta.
- Pronto senhora, o moço já saiu pode se sentar agora. - ela diz trêmula. Mulher idiota.
- Chame o Symon. - digo e vou me sentar.
- O que quer falar comigo, senhorita Mitsu? - ele pergunta parando em minha frente.
Symon August Cov, 38 anos, cozinheiro e confeiteiro do café, funcionário mais antigo.
Aponto a cadeira a minha frente e ele se senta.
- Tenho uma proposta a lhe fazer. - vou direto ao ponto, odeio quem enrola pra falar.
- Pois não?
- Quero que trabalhe na minha casa, você receberá bem mais, ficará como meu cozinheiro particular, poderá montar sua antiga equipe de culinária quando tiver alguma comemoração, e afirmo que será melhor do que ficar aqui.
- A senhorita acha que dá pra trabalhar aqui e lá? Faz anos que trabalho aqui, não sei se me adaptaria bem em outro lugar.
-Esse será seu horário de trabalho, olhe e veja se dá. - lhe dou um gráfico que eu mesma fiz, com os horários e dias que ele precisa ir.
Café da manhã - Terça, Quarta, Sexta. Pronto às 7.
Almoço - Segunda, Quarta, Quinta. Pronto ao meio dia.
Jantar - Segunda, Quinta. Pronto as 7.
Sábados e domingos - Quando haver comemorações Variações.
- Senhorita Mitsu. Eu aceito.
Após uma longa conversa, ele aceita. Amanhã irá ao escritório do meu pai, assinar um contrato de um ano e meio, eu lhe expliquei caso queira sair antes, tem que pagar uma multa, não muito cara. Adoro colocar esses pormenores em cláusulas extras de contrato. Acho que puxei ao meu pai no quesito de querer colocar multa em quase tudo.
- Achei que ele nunca mais fosse sair. - diz o garoto, se sentando na minha frente.
- O que quer? - falo emburrada. - Não te convidei a sentar.
- Você fez eu ficar na cadeia, uma noite, mas fez. - ele me ignora
Coloco meus fones e os conecto no celular, colocando na pasta de Lord. Fecho meus olhos e escuto a melodia. Quando os abro novamente, o garoto me encara.
- Fala de uma vez. - falo impaciente, retirando meus fones e os jogando na bolsa, junto com o celular. Essa semana realmente não está sendo uma da melhores.
- Aqui está seu café senhorita. - diz a nova funcionária.
- Obrigado, aliás, como é seu nome? - eu a olho com um falso sorriso no rosto.
- Millie.
- Millie sabe as regras, certo? - ela afirma - se quebrá-las sabe as consequências, certo? - ela afirma - Então ouça bem, se chegar perto desta mesa de novo enquanto eu estiver conversando, está no olho da rua.
- Desculpe senhorita. - ela deixa o café e sai caminhando até outra mesa, para atender um pedido - imagino.
- Porque é tão dura com ela? - O que esse garoto ainda quer aqui?
- Regras são feitas para serem seguidas. Afinal, o que quer comigo? Não pedi que saísse da mesa antes para ter o desprazer de ter ver voltar a se sentar.
O garoto que se apresentou como Andy Biersack- de nome verdadeiro Andrew, ficou alguns minutos me perguntando como eu não o conhecia.
Quando minha paciência esgotou em definitivo, saí do meu estabelecimento e comecei a andar, enquanto escutava uma música aleatória de Chopin.
Senti duas mãos me segurarem pelos ombros e logo parei de andar, para ver a cara de tapado do garoto novamente.
-Desculpa, paro de te perseguir se você olhar no fundo dos meus olhos e dizer que não me conhece?
- Eu não te conheço - digo ao me virar e encará-lo. - Mas conheço alguém que te conhece. - ele sorri e começa a andar ao meu lado, explicando quem ele seria.
- Então você já sabia quem eu era, mesmo que tivesse descoberto naquele dia.
- É, é. Agora cala a boca e anda quieto.
Até chegar em minha casa respondi com 'Legal' tudo que ele dizia, o que deixou óbvio meu tédio e falta de interesse na conversa unilateral que ele estava tendo comigo.
O deixo entrar e o mando se sentar no sofá. Vou até a cozinha e a encontro comendo, como sempre.
- O que que? Veio jogar na minha cara que eu...
- Andy biersack te espera na sala. - digo e ela fica pálida, corre para o banheiro dos funcionários . Reviro os olhos pela sua atitude desesperada e pego uma maçã, e logo depois sigo em direção ao meu quarto.
Ao passar pela sala, vejo Suly quase no colo do garoto (pouca vergonha, ele um adolescente e ela uma velha), que tenta desviar a atenção, até que seus olhos param em mim. Volto a subir as escadas até meu quarto, quando entro, sinto paz. Paredes à prova de som, foi o melhor que inventaram até hoje.
Meu quarto é grande, muito grande. Coloco minha bolsa na cama e retiro o celular que começa a tocar.
- Mitsu, Suly me contou que você a demitiu. A garota não para de comer desde semana passada.
- Pai, ela é uma incompetente, mas se ligou para falar dela, tchau.
- O Symon aceitou? Com todas as suas exigências?
- Sim, se eu vou pagá-lo, bom que trabalhe direito. Tchau, te espero no jantar para falar sobre a empresa, e a faculdade.
Coloco o celular no carregador e me sento em frente ao piano, como sempre faço as vezes, a tarde. Passo alguns minutos até sentir alguém me observando.
- O que faz aqui? - parei de tocar, e comecei a fechá-lo.
- Você toca bem.
- Saia e feche a porta. - digo me levantando e indo para perto da janela, que era toda de vidro. Observei o céu, estava ficando nublado.
- O tempo vai fechar, e minha paciência vai acabar.- digo mais para mim que para ele, odio dias chuvosos.- Melhor ir embora. - digo me virando para ele, que estava a... tocar no piano. - Eu disse que não era pra tocar em nada meu! - tiro sua mão do piano e a torço, fazendo ele gemer.
- Desculpe, pirralha. Desculpe.
- Suly! - grito.
- O que foi?
- Tire esse idiota daqui antes que eu o mate!
Se fosse um filme ele já estaria morto.
Os dois apenas saem do quarto e eu me permito jogar na cama.
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Menina Estranha©
Ficção AdolescenteMitsu, uma garota muitas vezes calada, fria e calculista. Dona do próprio nariz, tem a vida um pouco modificada quando conhece Andrew. Aos poucos ela vai conquistando seus objetos. Somente um, não estava programado, mas foi uma das melhores coisas q...