VI

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Ele esperava encontrar qualquer coisa em Kaiservilla, menos a paixão. Também jamais esperou reencontrar Helene algum dia em sua vida, aquilo parecia ser uma brincadeira do destino. Estava satisfeito no exército sendo coronel, afastado da sua família, sem problemas. Agora estava atolado em problemas até o pescoço.

Não sabia o que tinha acontecido com Helene, pois ela foi obrigada a descer do cavalo e entrar na carruagem onde estava sua mãe. Sabia que a baronesa era como sua mãe em questões de comportamento e educação, deveria ser esse o motivo de se darem tão bem.

Desejava ir embora, mas seu pai não permitiu, e pediu uma audiência com ele mais tarde. Tinha receio do que poderia ser o assunto, não estava gostando do rumo que as coisas estavam tomando naquele lugar.

Começou a girar seu anel no dedo com ansiedade, como sempre fazia quando pensava demais sobre algum assunto. Precisava relaxar em algum lugar longe dali.

Ouviu batidas na porta, quando o secretário do seu pai adentrou no quarto com seu irmão. Revirou os olhos quando Albert sentou em uma cadeira próxima a lareira, enquanto seu pai permaneceu em pé com as mãos para trás.

— O que devo a honra dessa visita?

— Quero lhe comunicar que em breve poderá voltar para o exército.

— Certo. — Karl colocou as mãos sobre a mesa. — Mais alguma coisa que eu deva saber?

— Meu casamento será daqui há uma semana.

Karl respirou fundo e olhou para a expressão de triunfo no rosto de Albert.

— Uma semana? — conseguiu dizer finalmente.

— Se ela ousar aprontar mais uma fuga dessa novamente, tentaremos fazer em menor tempo. Mas creio que Helene aceitou a ideia de se casar comigo, sou um excelente partido.

Karl deu uma risada irônica e balançou a cabeça negativamente.

— Acha mesmo que ela gosta de você? Não seja ridículo, Albert. É nítido que Helene não suporta nem olhar em seu rosto.

— Como é possível saber disso? Faz muito pouco tempo que está aqui. — estreitou os olhos. — Vocês estão tendo algum caso? — levantou-se da cadeira e começou a andar em sua direção. — É por isso o motivo o seu incômodo em meu casamento com Helene?

— Escute-me bem, Albert. — Karl colocou o dedo no rosto do irmão. — Tenha respeito por sua noiva, eu não faço a mínima questão do seu respeito por mim, porque eu não me importo com você, e nunca vou me importar. Considero sua existência completamente insignificante para mim.

— Não consigo entender toda essa inveja sobre mim, irmãozinho.

Começou a rir ironicamente e desferiu um murro no rosto do irmão.

— Essa é a inveja que sinto por você, Albert.

— Basta! — seu pai gritou e foi até eles. — Está louco, Karl?

— Não, não estou louco. Estou bem lúcido, inclusive. — puxou a camisa de Albert e o deixou bem próximo do seu rosto. — Estou tão satisfeito em ver esse seu nariz, única coisa perfeita em você, sangrando.

— Pare com isso, Karl. — seu pai o afastou do irmão. — Isso não vai resolver as coisas.

Colocou as mãos no bolso da sua calça e andou até a janela para não olhar novamente para Albert e perder o controle. Aquele rosto ficaria roxo por alguns dias, desejava que ficasse até o casamento para todos perguntarem o que havia acontecido.

Ouviu o barulho da porta sendo fechada com força, nem olhou para trás, não fazia a mínima questão em tê-los em seu quarto. O ar ficava pesado quando ficava perto do seu pai e seu irmão. Eles fizeram com que ele tivesse todos esses ressentimentos, mágoas, que não conseguia superar de forma alguma. Apesar de dizer que estava bem, não estava. Disfarçava tudo com respostas irônicas, sorrisos, rebeldia, e todos acreditavam no seu circo.

— Karl, eu nunca imaginei que o ódio que sente por seu irmão chegasse a ser tanto. Não compreendo como as coisas chegaram nessa maneira, mas não quero que continue assim. Sua mãe sofre muito com essa instabilidade entre vocês. — tocou em seu ombro. — Eu... — gaguejou. — Sinto muito por tudo.

— Sente? — virou-se com raiva. — Realmente sente, meu pai?

— Pode não acreditar, mas eu sinto. Não fui correto com você, reconheço. Estive pensando em todas as suas atitudes ao longo desses anos. Foram todas para chamar nossa atenção?

— Interessante ter percebido somente agora, quando eu acertei seu filho preferido no rosto. — disse com ironia.

— Você a ama, não ama?

Karl respirou fundo e cruzou os braços.

— Respondeu a minha pergunta.

Tudo que tinha vontade de fazer era expulsá-lo dali, para poder ficar sozinho e chorar. Ele precisava ficar sozinho, estava afetado demais. Seu pai falando aquelas coisas, perguntando sobre seus sentimentos em relação a Helene, tudo estava estranho demais para aceitar e acreditar.

— Aposto que vai dizer ao seu amado filho que desejo a noiva dele.

— Nunca faria isso. Eu não o odeio, meu filho.

Nada disse, apenas assentiu com a cabeça.

— Preciso ir embora.

— É o melhor que o senhor faz.

— Espero que um dia me perdoe, assim como sua mãe.

— Perdão não é uma coisa tão fácil, principalmente quando existem mágoas acumuladas. Não basta o senhor chegar aqui em meu quarto, depois de presenciar um desentendimento entre mim e Albert, me dizer todas essas coisas, e achar que tudo é fácil. Não é fácil, nunca vai ser fácil. Pode comandar um império com suas ordens, mas os meus sentimentos não podem receber suas ordens.

— É tão duro em suas palavras... — notou os olhos do pai brilharem, ameaçando cair lágrimas.

— Sabe, quando eu era criança, enxergava o senhor e minha mãe como os meus maiores ídolos. Albert sempre foi estranho comigo, me tratava muito mal, mas eu nunca reclamei por ele ser meu irmão mais velho. Na verdade, eu acreditava que tudo o que faziam para mim era algo maravilhoso. Fui ficando mais velho, comecei a perceber a distância que mantinham de mim, como se eu fosse uma praga na Áustria. Então eu descobri que não fui muito desejado, pois o senhor já tinha seu herdeiro. Engraçado que muitas famílias procuram ter vários filhos, mas aqui as coisas são diferentes, sempre são. — estava começando a ficar aliviado por estar dizendo aquelas palavras finalmente. — Eu sempre desejei ter uma mínima atenção de vocês, porém eu não tinha essa atenção tão desejada. Quando em meus aniversários não vinham falar comigo, porque estavam ocupados demais, eu chorava. Minha sorte eram os diversos empregados que me faziam rir, sou capaz de amá-los mais.

— Karl...

Karl fez um gesto para que o pai se calasse.

— Conheci Helene alguns anos atrás, eu fiquei completamente encantado por ela. Seus olhos brilhavam de excitação, sua curiosidade era divertida, parecia ser diferente de muitas garotas que eu tinha conhecido em bailes. Quando sua dama veio gritando procurando por ela, chamando seu nome completo, eu nunca esqueci. Jamais esqueci Helene Amélie Sophie Wittgenstein, e nosso aceno. Pensei que jamais voltaria a vê-la, muitas coisas podem acontecer em cinco anos. O destino foi tão misterioso, que me trouxe para perto dela novamente. E quando eu acho que posso me aproximar da alma mais encantadora que conheço, Albert entra no meu caminho.

— As coisas começaram a ser resolvidas antes de chegar aqui.

— O senhor percebe que não se arrepende de nada? Teve a coragem em me dizer que queria ele casado para gerar herdeiros e não me deixar assumir o trono caso Albert morresse com essa doença que desconheço. Helene está sendo vendida como um animal reprodutor para a grande família imperial Anschütz.

— Como ousa falar dessa maneira? — seu pai perguntou com os olhos arregalados.

— Ousando, pois estou correto em minhas afirmações. Pergunte a ela como se sente. Apenas pergunte, se ela responder alguma coisa diferente será sobre a influência da baronesa.

O imperador saiu do quarto negando com a cabeça todo o momento, como se as palavras dele fossem delírios.

Karl sentou na ponta da cama e colocou as mãos sobre o rosto. Sentia-se arruinado, fraco e triste. As lágrimas não demoraram a vir novamente, precisava colocá-las para fora.

HeleneOnde histórias criam vida. Descubra agora