No dia seguinte, quando cheguei à House fui de imediato informada que o Jamie queria falar comigo com urgência. Já te dou a urgência! Pensei eu, quando a Anne me intercetou à entrada.
- Anna, preciso da tua ajuda. – Disse, mal entrei no departamento.
- Bom dia para ti também. – Riu-se e eu ri-me igualmente. – Então diga lá, coordenadora, o que precisa da minha pessoa.
- A gráfica mandou-me uma mensagem a dizer que já tinha tudo pronto para o mural, estou ansiosa. Preciso de ajuda a montar tudo! – Expressei a minha felicidade toda em duas frases e ela percebeu.
Dirigimo-nos ao departamento de impressão e gráfica, no outro lado da editora, perto da porta de serviço. Uma a uma fomos colocando todas as fotografias dos nossos escritores e por baixo os seus nomes, assim como o nome dos seus livros. Era uma imagem incrível e parecia que nunca mais terminava aquela parede. Estava bonita, embora as fotografias estivessem a preto e branco, a moldura que as compunha fazia-me lembrar uma película de filme, aliás, havia sido essa a minha intenção, foi uma pequena surpresa para o senhor diretor, visto que também é dono de uma empresa de produções cinematográficas. Assim que terminámos de colar todos os placards na parede, a Anna e eu não resistimos a tirar uma fotografia. Era a minha primeira grande vitória, desde que o Jamie havia tomado poder.
Ao olhar para o relógio, vi que era hora de almoço. Resolvi que estava na hora de enfrentar Mr. Dornan e dirigi-me apressadamente ao seu gabinete, pois queria muito mostrar-lhe a parede. Ao aproximar-me do gabinete dele, vejo-o a contemplar a minha magnífica obra.
- Estou a ver que quando faz, faz bem feito, senhora coordenadora do departamento lá do fundo. – Disse-me esboçando um grande sorriso.
- É essa a minha especialidade. – Respondi-lhe e ficámos ambos a contemplar a longa parede que ligava uma ponta à outra.
- Aceita almoçar comigo, Dakota? – Perguntou.
- Aceito, mas só porque ainda não almocei e tenho fome. – Virei-lhe as costas e ao caminhar, olhei para trás e conclui. – Espere-me no elevador, senhor diretor.
Havia alguma coisa que estava a mudar e eu não sabia bem como, nem porquê. Dentro de mim a raiva daquele homem estava mais branda, já não me apetecia dar-lhe com livros na cabeça – pelo menos com a intensidade inicial. Até lhe achava uma certa piada, sobretudo depois de ter visto o seu olhar encantado a olhar para o nosso mural em jeito de película de filme que consegui fazer com a ajuda da Anna e do departamento de gráfica e design editorial. Tinha sido para ele uma agradável surpresa vê-lo e pareceu-me que dentro dele havia uma pontada de esperança em como era possível ser feliz ali, fazer coisas interessantes e até ficar terrivelmente satisfeito com elas. Assim queria eu, enquanto pegava na minha mala e me dirigia para o elevador. Ele já lá estava, continuava a apreciar a obra de arte. Via-lhe a expressão tranquila, como se o gesto isento de qualquer agradecimento que tive ao pegar na sua grande paixão – o cinema – o tivesse deixado mais confortável. Queria acreditar nisso, no mais profundo de mim queria muito que as coisas melhorassem entre nós, afinal teríamos todos a ganhar se assim fosse. Da minha parte, tenho o prazer incomensurável de continuar a fazer o que gosto, com a ajuda dos meus ratinhos de biblioteca, em conjunto com os outros departamentos, deixando os autores felizes, os leitores felizes e da parte dele tem o reconhecimento mediático da imprensa e a conta bancária recheada. Teríamos todos a lucrar com as tréguas que no mais profundo de mim quero dar-lhe, portanto já não compreendia o porquê de andarmos às turras, embora me desse um certo deleito vê-lo contorcer-se todo porque lhe fiz frente. Lá no fundo, sabia que o meu eu tinha gostado muito mais de o ver contente e com um ar patético a olhar para a longa parede iluminada que gritava House.
