Capítulo 4

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  Angélica deixou a mãe trabalhando e saiu a procura do irmão. Encontrou-o brincando com os cães.
   -Henrique, por que não foi a escola?
   -Ia ter reunião dos professores.Venha Angélica, vou lhe mostrar o terreno em volta da casa.Deste lado, à direita, tem um declive com árvores, creio que não são nativas, que foram plantadas, pois há muitas plantas da mesma espécie; no fundo um pequeno pomar, na frente o jardim que mamãe está cultivando, deverá ficar lindo, e a esquerda a mata.
   -Daqui não se avista o mar? -Indagou a garota.
   -Só se subir nesta árvore alta.A casa fica no morro, a estrada passa logo ali; indo em frente por este caminho vamis chegar nela, e seguindo uma trilha pela mata, depois das pedras, o mar lindo e maravilhoso, onde as águas batem nas pedras, e andando um pouco mais temos uma bela praia.Descendo pela estrada à esquerda temos a cidade.
   -Vou para o quarto, acho que cansei-falou Angélica, despedindo-se do irmão.
   Entrou e, curiosa, se pôs a olhar tudo, aquela casa despertou seu iinteresse. Tinha três salas grandes, uma pequena e única varanda à frente da porta principal.Havia numa das salas uma lareira de pedras muito bonita.
   "Ficamos todos bem acomodados"-Pensou.
   Entrou no seu quarto, sentou-se numa poltrona, olhou as roupas para pôr no lugar, resolveu deixar para depois e descansar.Estava cansada, um simples passeio a deixou prostrada.
   O vulto a olhou e riu, achou-a muito engraçada careca.Ela se pôs a pensar e ele se sentou perto e ficou escutando.
   "Já se passaram meses, quase dois anos, tudo era tão diferente...Isso sim foi uma grande mudança!
   Eu tinha acabado de completar dezessete anos, estávamos no começo do ano letivo, cursava o terceiro ano do segundo grau, queria continuar os estudos, estava em dúvidas entre psicologia e farmácia. Namorava César, achava que estávamos apaixonados.Tinha muitas amigas, ia a festas, boates, gostava de passear.
   Minha menstruação desregulou, comecei a ter muito sangramento.Fui ao médico, que colheu material para exame e, quando pronto, o médico chamou pelos meus pais.Fui junto, se tinha problema era melhor saber logo. E teve.Doutor Lúcio rodeou, explicou muito, dizendo que eu tinha que procurar um especialista, talvez tivesse de fazer uma cirurgia, etc.
   'Por favor, doutor, fale logo o que minha filha tem'-pediu mamãe.
   Num impulso peguei o papel, o resultado do exame na escrivaninha e li.Os três silenciaram, olharam para mim.Balbuciei:
   'Células cancerosas. Estou com câncer. ..'
   Demorou uns segundos para o médico voltar a falar.
   'Atualmente temos tido bons resultados com esta doença. Por isso recomendo irem logo a um especialista. Você irá se curar! '
   'Como pode ter tanta certeza?'-indagou mamãe.
   'Bem, creio que descobrimos logo e ...'
   'Irei morrer?'-Interrompi.
   'Desta doença, com certeza, não! Você é jovem, lutará e vencerá. Como já disse, muitos saram e você também sarará. '
   Só chorei em casa, sozinha no quarto.Não queria morrer. Tinha tantos sonho, tantas coisas que queria fazer. Era jovem, bonita e feliz. Não queria ter dor.Chorei até adormecer.
   No outro dia, ninguém em casa comentou nada, papai e mamãe pareciam normais, como se nada tivesse acontecido. Resolvi agir como eles.Em vez de ir a escola, fui a uma biblioteca pesquisar sobre a doença; o que li me deixou desanimada, não contive as lágrimas; só que chorei baixinho para não atrapalhar outros leitores.Achando que isso me fez mal,fui embora para casa, não li mais nada e procurei não conversar sobre essa doença. Tentei me animar e pensar nos dizeres do médico amigo, na possibilidade de me curar.Tinha de ter esperanças.Orei muito pedindo a Deus, minha cura.Compreendi que não era só eu que sofria, meus pais também estavam sofrendo muito, por eles me esforcei e aceitei fazer o que decidiram.
Novas consultas, diagnóstico confirmado e foi feita a cirurgia, na qual foram extraídos um ovário e o útero. Foi tudo tão rápido , fui tão mimada e tudo transcorreu bem.César me visitou no hospital, levou-me rosas, me fez conpanhia.As amigas revezavam.Tive dores, mas os dias passaram rápidos e aí veio o pior:o tratamento. Tinha de me internar, ficava no hospital sem os familiares, num quarto com outras pessoas, pois o tratamento era caro e tinha de ser feito pelo plano de saúde do papai. Passava muito mal ao tomar os remédios, vomitava muito, ficava deprimida e de mau humor, os cabelos caíram, as amigas começaram a se ausentar e César começou a diminuir as visitas.
 

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