Como sabemos que estamos morrendo? Acho que a sensação é mais ou menos essa, meu corpo nesse momento esta começando a ficar frio e sinto meus batimentos cardíacos diminuindo a cada minuto e minha cabeça esta tão pessada. Sera que é assim que percebemos que estamos morrendo? Meus pulmões doem por não conseguir buscar o ar suficiente, quero levantar meus braços, mas eles estão pesados demais para isso, meus olhos estão desfocados e ao longe ouço o barulho de uma sirene e vozes ao redor, mas tirando a dor dos meus pulmões não sinto mais nada e isso é tão bom. Acho que é assim que sabemos que estamos morrendo.
Quando acordo as luzes do hospital fazem meus olhos arderem e o barulhinho dos monitores começam a ficar mais altos, olho ao meu redor e vejo minha mãe dormindo numa cadeira que parece ser desconfortável e fico observando seu peito subir e descer com a sua respiração leve. Olho pra janela e vejo que ja esta de dia e ensolarado provavelmente deve ter uma leve brisa la fora, mas não da para notar, ate que a enfermeira entra no quarto pra checar os monitores e me vê acordada
- Ola querida, como você esta? - Ela me pergunta checando minha pressão e os milhares de tubos no meu braço
-Estou com um pouco de sede, o que aconteceu?-Perguntei olhando ela aplicando um medicamento num dos tubos
-Você sofreu uma hemorragia interna, tivemos que fazer cirurgia e transfusão de sangue- Respondeu ela me dando um pouco de agua
-Então ganhei uma nova cicatriz- falei para mim mesma
-Oi querida, que bom que você acordou- Falou meu pai entrando no quarto animado
Nesse momento minha mãe acordou um pouco confusa sem saber onde estava ate que me viu na cama a encarando.
-A quanto tempo esta acordada?-Ela perguntou se levantando e indo na minha direção
- Não sei, mas tempo suficiente pra enfermeira chegar e sair- falei sorrindo- Cade o max?
-Seu irmão esta com os seus avos, ele vira mais tarde- Respondeu papai colocando dois copos de cafe e uns bolinhos na mesa ao lado da cadeira que foi cama da minha mãe alguns minutos atras
Descobri que tenho leucemia a quatro anos atras e desde então as vindas ao hospital são tão frequente que se tornou nossa segunda casa. Nos dois primeiros anos os médicos estavam positivos com a minha melhora, mas depois da primeira hemorragia nasal as coisas foram piorando e a positivida de todos começaram a cair. As possibilidades que um dia eu poderia melhorar são tão baixas como minhas notas em física.
Um mes depois fui liberada do hospital e pude voltar pra casa, max estava me esperando na entrada junto com o nosso cachorro mamute. Quando vi seu rosto se iluminar com a minha chegada eu pude sorrir me sentindo em casa novamente, abracei meu irmãozinho com cheiro de caramelo e o mamute com o seu tipico cheirinho de cachorro entrei em casa e fui recebida com o agradável cheiro de bolinho de canela abracei todos e subi para meu quarto, no momento em que a porta se fecho eu pude chorar com todas minhas forças e abracei meu corpo todas as sensações de perda, de dor, de sentir meu corpo gritar por estar doente me envolveram num único e apertado abraço de sufocamento.
Me olhei no espelho e tentei memorizar meu rosto agora, com meus cabelos pretos na altura do ombro, minha pele cada dia mais pálida, meus olhos escuros com olheiras mais escuras ainda, minha boca que antes era tão vermelha que não precisava passar batom agora esta num tom rosa pálido, toco em meu rosto e vejo e sinto que sou eu mesma me viro e vou por fim banhar. Toco em todas as cicatrizes de cirurgias ao longo dos anos e me sinto uma colecionadora de cicatrizes e o que bem irônico, porque desde pequena achava que iria colecionar figurinhas.Quando saiu do banho para me vestir encontro uma intrusa de cabelos ruivos jogada em minha cama brincando com mamute.
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Sensações
RomanceLua é uma garota de 17 anos diagnosticada com leucemia totalmente negativa em relação a vida e tudo ao redor, ate que um garoto que ama viver a vida de todas as formas possíveis aparece na sua frente. Agora Lua encontra uma nova missão manter esse g...