Capítulo 6 - Culpada

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Ao anoitecer, eu estava caminhando perto da casa e avistei Caleb correndo em minha direção. Havia algo de errado, as coisas ali na casa ficavam mais esquisitas com o passar dos dias e, naquele momento, era como se Caleb fosse voar furioso em minha direção para me matar. Eu continuava querendo fugir dali.

Por isso decidi ir caminhar àquela hora da noite. Havia um caminho de terra que me levaria até a estrada, mas eu não sabia se era certo fugir.

– Harriet! – gritou Caleb e eu parei. Olhei para o lado e procurei a estradinha de terra. Bem na direção dela vinha um vento sereno que trazia um cheiro raro, como de pétalas de rosa. E eu amava rosas.

Todos os aniversários eu ganhava uma rosa branca do meu pai, menos naquele ano.

Quando era mais nova lembro que em minha casa havia um jardim cheio de roseiras, algumas brancas, e meu pai pintava algumas para mim, prin-cipalmente de azul que, segundo ele, simbolizavam o amor.

Caleb vivia falando que eu poderia contar com ele como parceiro e ami-go. Às vezes ele falava muita besteira também. Dizia que eu deveria valorizar meus dons. Que os meus poderes foram dados a mim com uma razão e que eu de veria aprender a me controlar para poder ser alguém melhor.

Mas eu nunca havia visto ele confuso como naquele momento.

– O que você quer? – falei confusa.
Olhei para o caminho de terra e vi a estrada. Seriam alguns passos até a estrada e uma carona para minha casa.

Fiquei parada olhando a rua e com o canto do olho vi que Caleb olhava despercebidamente para a estrada. Voltei meus olhos para baixo e virei para ver o que ele queria.

– Só vim avisar que vou ter que resolver umas coisas na cidade e que vou chegar só pela manhã... – falou, ainda olhando para mim e para a estrada.

– O quê? – gritei. – Você vai me deixar aqui sozinha?

– Você é mais forte do que imagina. Que mal poderia acontecer com você? – falou rindo.

Nunca havia pensado na hipótese de machucar Caleb. Ele era um rapaz bom, apesar de estar me prendendo lá.

– Se eu morrer, por sua culpa... – falei e ele colocou o dedo em minha boca. Fiquei com mais medo do que eu já estava. O toque dele era letal para mim.

– Você não vai morrer... eu voltarei logo e você ficará bem – falou dando um beijo em minha testa.

– Fique – insisti assustada.– Apenas um pouco... – disse.

Pulei no sofá e fiquei assistindo Bob Esponja. Estava no episódio que o Lula molusco guardava sua corneta com o Bob Esponja. Caleb sentou–se ao meu lado e enrugou a testa. Eu não queria que ele ficasse perto de mim, mas também não queria correr perigo enquanto ele estivesse fora de casa.

Sua presença me incomodava e me deixava confiante de que eu não se-ria atacada.

– Odeio este desenho! – disse ele. – Pois eu adoro! – menti e aumentei o volume da televisão.

Ele começou a falar centenas de coisas ao mesmo tempo, mas sua voz era irritante e eu não quis ouvir. Então aumentei o volume até o último. Ele saiu pela porta completamente enfurecido e sem dizer nada.

Quando o desenho terminou fui tomar um banho. Coloquei um pijama e fui até a cozinha. Abri a geladeira e peguei alguma coisa para comer. Comecei a escutar vozes e rangidos dentro das paredes, calcei meu sapato e saí de dentro da casa correndo para perto do lago. Sentei-me na rocha que havia ao lado da árvore queimada. Um formigamento invadiu minhas mãos, vindo de dentro para fora com uma queimação insuportável nas palmas.

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⏰ Última atualização: Aug 08, 2017 ⏰

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