CAPÍTULO 3

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   Já amanheceu, mas ao olhar em meu celular, percebo que ainda são 6:30h, então resolvo ficar na cama.

   Para onde será que vou quando morrer? Será que existe céu? Inferno? Purgatório? Ou algo do tipo? E afinal, antes de nascer, onde eu estava? Como era estar dentro da barriga de minha mãe? Como era ser um bebê? Oque se passava na minha mente quando criança? Por que não me lembro de nada disso? Nada mesmo, nem um brinquedo ou um rosto? Só lembro das pessoas que ainda permanecem.

   Fiquei perdida nos pensamentos até minha sobrinha acordar e me dar oi, ela continuou na cama e a avisei que iria tomar banho.  Ela concordou e foi para o celular. Ao voltar, fomos para cozinha tomar café.

   Peguei as xícaras para lavar e minha mãe estava na pia, pedi licença e lavei as duas, mas claro, não foi assim tão simples, ela me xingou, por a atrapalhar.

- Sua filha da puta. Sabe esperar não? O almoço hoje é tu quem faz, eu vou sair. Não esquece da louça, de fazer café e de limpar o fogão. - Falou de um jeito completamente estúpido e bravo para mim. Ela foi por água para o cachorro, um momento de paz para mim.

  Após o café da manhã fomos ao quarto, ainda bem que ela passará o fim de semana comigo, não aguentaria ficar sozinha por tanto dias.

- Vamos continuar com a conversa de ontem e continuar a contar nossos pensamentos uma a outra? - Perguntou minha sobrinha, concordei enquanto penteava os fios negros de meu cabelo recém lavado.

- Sabe uma coisa que vive em minha cabeça? Essa é uma das piores, definitivamente. Quando eu olho para as pessoas, parece que elas querem me matar, seus olhares são tão.. Não sei como explicar. As pessoas, elas me dão medo. - Falei guardando a escova e sentando na cama em frente de minha sobrinha, que concordou comigo sem falar nada, como se estivesse me analisando.

- Ah, sabe uma dúvida que tenho? Uma de muitas. Por que tipo, a gente acha alguém lindo, lindo mesmo, um deus grego, e uma pessoa vai lá e diz que não? - Perguntou e concordei.

- Bem isso que penso. Para mim um cantor é muito lindo e para outros não. Será que elas enxergam o mesmo que eu? Isso é tão estranho. - Falei.

- E, como as pessoas se sentem? Oque pensam? Se não for igual eu, oque elas pensam? E a dor, elas sentem, eu não. Isso será mentira delas? - Falei novamente, ela concordou, dizendo que também tem dúvidas sobre isso.

- Como existe outros países? Só conheço o Brasil, já que tenho medo de andar de avião e dinheiro é algo que me falta. Quando alguém fala de outro país ou cidade muito longe de onde eu moro, parece que são de outro mundo, que só é possível ver em filmes, séries e coisas do tipo, como se fosse algo impossível de chegar, de alcançar.

- Aham! Parece que nunca poderemos ir para lá. Tipo um lugar isolado. E também, por que há tantas pessoas no mundo? Tipo, eu sou só mais uma, não tem motivos para me sentir especial, certo? Então por que eu deveria? - Falou minha sobrinha. Isso é tão bom, a gente pensa tão igual. Meu pai do céu! Eu não poderia conhecer alguém melhor que ela!

   Ah e afinal, minha mãe quem fez o almoço, saiu de casa, fechou a porta por fora e pela janela de meu quarto ela entregou as chaves dizendo para tomarmos cuidado e blá blá blá.

Entreguei as chaves para meu irmão, e caso alguém queira entrar, ele quem vai abrir. Finalmente, um dia de paz, sem gritos, ofensas ou palavrões.

- Não é estranho ficar encarando as pessoas? Ah, e por que nós só podemos olhar para frente? E, não enxergamos atrás? E se alguém vem e nos apunhala pelas costas? E nos mata? Com uma faca, ou revólver ou algo do tipo? - Perguntou ela.

- Eu sempre pensei nisso. E, se morrer por trás? Ou se for atacada e ainda assim sobreviver, como saberei quem foi que fez isso? - Perguntei e ficamos as duas, como sempre, pensativas, tentando achar uma reposta.

  Há tantas coisas, tantas dúvidas, como eu gostaria de ter as respostas, não todas, mas pelo menos, desvendar algumas.

   Meus três irmãos foram comer, eles são mais velhos, as vezes não nos damos muito bem, mas não posso fazer nada, há, e ainda tem a mãe de minha sobrinha, minha única irmã, mas velha que eu também, de quatro irmãos que tenho, ela é a única que não mora conosco. Ela tem sua própria casa com seu marido e sua filha. Até que a gente se dá bem, mas de vez em quando ainda temos algumas brigas, chegando a ficar no máximo uns três ou quatro dias sem nos falarmos, mas tudo se resolve naturalmente.

   Assim que os três saíram, fomos nós duas comer, ela fez um suco e eu coloquei as talheres e pratos na mesa para nós. Assim que terminamos fomos para o quarto, o lugar que a gente passa a maior parte da nossa vida dentro.

Free Minds (Mentes Livres)Onde histórias criam vida. Descubra agora