Eu: Estrangeiro? Veio de onde?
Bea: Acho que é britânico. Adoro rapazes com sotaque britânico.
Eu: Então e quando é que ele vem?
Bea: Hoje à tarde. Já vi a mãe dele hoje de manhã na secretaria, por isso não deve tardar a chegar.
A nossa professora chegou e entrou na sala. Entrámos todos atrás dela, e começámos a aula. Sinceramente, não estava a prestar atenção nenhuma à aula, estava a pensar em mil e uma caras que o novo aluno podia ter.
Xxx: Bárbara! Bárbara!
Acordo dos meus pensamentos e reparo que a minha professora e a turma toda estava a olhar para mim.
Eu: Hm, desculpe.
Professora: Pode responder à minha pergunta?
Eu: Não ouvi a pergunta..
Professora: Já calculava. Diana, pode responder à minha pergunta?
Diana: Hm, acho que são os países em desenvolvimento.
Eu: Certíssimo.
Como odeio as aulas de Geografia logo de manhã. A voz daquela velha rabugenta e rugosa tira-me do sério. Depois da tortuosa aula, fomos para o intervalo. Fui com a Ni comprar uma senha para ir ao bar da escola.
Eu: Ni, como achas que vai ser o rapaz novo?
Ni: Não sei, mas os britânicos costumam ser giros.
Eu: Pois, estou ansiosa para o ver.
Ni: Também eu, pode ser que apareça um bonito nesta escola, estou farta de ver as mesmas fronhas.
Fomos dar uma volta e falando de como seria o novo rapaz. Entrámos e a aula passou lentamente como a anterior, sempre a pensar no tal aluno novo. Saímos para almoço e juntei-me com as minhas amigas mais próximas e foi uma hora de almoço como todas as outras. Na aula a seguir, era Matemática, e estava tudo a correr seca e normalmente quando alguém bate à porta. O meu professor foi abrir a porta.
Professor: Entra, entra! Bem-vindo à turma! Harry não é?
Xxx: Sim, é. Obrigado. – Disse aquilo com uma voz rouca e um sotaque típico e perfeitamente inglês.
Professor: Pode-se sentar ao pé da sua nova colega, e tente acompanhar a matéria.
Naquele momento o meu coração parou. O professor apontou para mim. Sim, para mim. Eu, que estava sossegadinha na última fila e estava sozinha. Vi-o a aproximar-se lentamente e com um sorriso tímido nos lábios. Ele era simplesmente lindo. Tinha cabelo encaracolado, olhos verdes, era alto, e tinha covinhas. À vista de qualquer um, ele era perfeito. Resta saber se é assim tão bonito por dentro. Mas eu não tardaria a saber.
Harry: Hm, sou o Harry, muito gosto.
Eu: Sou a Bárbara, mas gosto mais que me tratem por Bá.
Harry: Então, parece que vamos ficar juntos, Bá. – Sorriu ao dizer o meu nome e eu sorri também automaticamente.
Eu: Pareces ser simpático.
Bárbara, que foste tu dizer? ‘Pareces ser simpático’, não tinhas mais nada para dizer?
Harry: Hm, obrigado, acho eu.. – Olhou para mim um pouco desconfiado e virou a cara para os livros. Fiquei mesmo envergonhada.
O resto da aula passou rapidamente, e quando estava a sair para o intervalo sinto alguém a puxar-me para trás.
Harry: Olha, se não for pedir muito, preciso de alguém que me mostre a escola, não te importas?
Eu: Claro que não. – Respondi com um enorme sorriso.
Harry: Boa.
Saímos para o recreio, e só se viam putos a saltar e a correr e a gritar por todo o lado.
Harry: Isto é sempre assim?
Eu: Aham, todos os dias. Com o tempo habituas-te. – Disse revirando os olhos.
Harry: O que é ali?
Eu: Oh, é o campo de futebol. Ou melhor, um deles. Anda, vamos ver melhor.
Passámos pelo sítio onde de manhã estavam os gémeos a lutar, e eu parei a olhar para o chão.
Harry: Que foi?
Eu: Hm, hoje estiveram aqui dois irmãos a lutar, e estão aqui algumas manchas de sangue.
Harry: Uh, devem ter ficado em mau estado.
Eu: Nem imagino.
Demos duas voltas à escola e eu fui-lhe contando histórias minhas que eu tinha passado em cada lugar da escola por onde passávamos. Ele ria-se, via-se que estava feliz com esta mudança.
Harry: Obrigado, Bá. Foi muito bom ter estado na tua companhia. – Disse com um sorriso.
Eu: De nada, acho eu. – Sorri também, embora um bocado tímida. – Hm, Harry?
Harry: Sim?
Eu: Desculpa a pergunta, mas porque é que te mudaste para cá a meio do ano?
Harry: Ah. – O seu sorriso desapareceu. – Os meus pais separaram-se e a minha mãe decidiu procurar trabalho cá em Portugal.
Eu: Mas tu falas bem português, embora com um pouco de sotaque.
Harry: Nós vínhamos sempre passar férias a Portugal, desde pequeno que me habituei aos ares portugueses. Tenho família cá, e sempre que tinha férias ficávamos em casa dos meus avós.
Eu: Mais uma vez, desculpa a pergunta.
Harry: Não faz mal. – Notou-se que fez um esforço para sorrir.