IV

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Jamila estava melhor, mas a sua irmã insistia para esta no dia seguinte visitar um médico, pois estas fraquezas já a perseguiam à algum tempo. Enquanto isso, estando as três raparigas em casa das irmãs Malik (como era assim conhecida no bairro), Karim e Jamila ansiavam brutalmente pela chegada da mãe, que poderia estar na rua ferida, ou refugiada nalguma loja e precisasse de ajuda urgentemente.

Minutos passaram. Minutos que se tornaram horas. A mãe de Jamila e de Karim não aparecia.

- Algo não está bem... - diz Karim, num tom triste e pessimista, como que já estivesse a dar a mãe como desaparecida ou mesmo morta.

- Karim não digas isso, não tarda ela aparece. - retribui Jamila

Enquanto esperavam, Laila já se tinha oferecido e encarregue de fazer o jantar: sahawaq acompanhado com arroz de caril, comida típica e básica na capital.

- Vou à procura da mãe!! -exclama Karim de repente.

- O quê? Estás louca?! Não vais sair agora depois do que aconteceu hoje, e além disso já é de noite, a mãe vai aparecer.

- Exato Karim. -concorda Laila - não vai adiantar de nada. É melhor esperarmos até de manhã.

No entanto, naquele momento, ouve-se bater à porta, com punho forte, que faz com que o barulho da mão contra a madeira se espalhe por toda a casa. Logo se levantam as 3 raparigas. Trocam olhares cruzados, e é Laila quem se dirige à porta, estando Karim ao pé da mesa de jantar e Jamila sentada numa poltrona já bastante afetada com o passar dos anos.
Laila puxa a porta para si, no jeito de a abrir, e é um rosto masculino que lhe aparece à frente, de áspero forte, também cansado. Era Nadir.
Nadir passara agora por casa de Jamila para saber como ela estava.

- Ah olá Nadir!! Entra entra! Ainda não é muito seguro estar na rua. - diz Laila com um tom apressado, e ao mesmo tempo que o puxa para dentro e fecha de imediato a porta.
Nadir cumprimenta tanto Laila como Karim, e vai de encontro a Jamila, ajoelhando-se ao pé dela.

- Então Jamy? Como estás?

- Estou melhor Nadir, obrigada. Mas o que andas aqui a fazer? Provavelmente tiveste que dizer aos teus pais onde vinhas, e eles não gostaram muito.

- Eu disse-lhes que ia à embaixada despachar trabalho atrasado, não te preocupes.

Jamila sorriu, olhando nos olhos negros e aguados de Nadir.

- Nadir já jantaste? Ainda sobrou comer. - diz Karim.

- Não obrigado, já jantei. Fica para a próxima. -diz, gargalhando. Foi a única gargalhada que se ouviu naquele dia, dadas as circunstâncias.

É naquele preciso instante, às 21 horas da noite, que se ouvem passos do lado de fora da casa. Batem à porta. Todos se levantam de imediato. Jamila, sendo uma rapariga romântica, logo toma uma atitude impulsiva e dirige-se à porta. Antes que chegasse com a mão à maçaneta, Karim põe-lhe a mão no pulso da irmã, impedindo que esta abrisse a porta, e faz um gesto de silêncio, com o dedo indicador colado à sua boca. Laila tenta ver quem está no exterior da casa através da janela, mas não obtém quaisquer respostas. Nadir chega-se à frente, fazendo com que as duas irmãs se pusessem atrás dele. Logo de seguida, ouve-se uma voz do outro lado da porta:

- Boa noite!! Abram a porta, sabemos que as irmãs Malik estão aí! É do serviço social!

Todos os presentes olham-se de novo. "O que será que eles estão aqui a fazer?" "Terá alguma coisa a ver com a mãe?", eram as palavras que vinham à cabeça de Jamila. Nadir abre a porta. Vê logo dois homens altos e magros, de barba escura. Estavam vestidos ambos de igual forma, de camisa branca, calças de sarja bege e umas botas castanhas já sujas da areia e lama.

- O que desejam daqui? - diz Nadir, num tom agressivo, pensando que estes deviam pedir mais impostos.

- Você não é filho de Ahmad Al-Bashara?

- Sim sou eu mesmo! Mas o que querem daqui?

- Queremos falar com Jamila e Karim Malik, filhas de Fadir Malik pressuponho. - afirma um dos senhores.

- Sim, somos nós. A nossa mãe não está em casa. Não aparece desde a hora de almoço mais ou menos, e estamos mesmo preocupadas. Por favor, entrem. - diz Karim.

Os dois homens entram, enquanto Jamila e Laila puxam as cadeiras junto à mesa para ambos se sentarem.

- Nós infelizmente não temos boas notícias, e vamos ser bastante diretos. A vossa mãe estava na praça principal à hora do ataque.

Assim que estas palavras saem da boca de um dos homens, Jamila senta-se de novo na poltrona. Nadir fica ao seu lado, a dar-lhe a mão, enquanto que Laila se encontra ao pé da porta e Karim está sentada à mesa com os homens.

- A vossa mãe, Fadir Malik, foi apanhada no meio das explosões dos rebeldes. Ainda foi levada para o hospital mas já não havia nada a fazer, tinha imensas queimaduras de segundo e terceiro grau e ... não resistiu. Lamentamos imenso.

Neste momento, escorrem das faces brancas de Karim um rio de lágrimas. Jamila levanta-se, mas assim que o faz, cai para a frente como um peso morto, e tudo fica preto.

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