Capítulo 5

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Terminei de prender meu cabelo em um rabo de cavalo e preparei meu espírito para sair o banheiro e finalmente enfrentar a sala de estudos. Já havia passado das sete horas da manhã e logo serviriam o café.

Estava me sentindo um pouco aliviada por ter resolvido minha situação com Jasper e derretido o paredão de gelo que havia entre nós, mas nem isso parecia aliviar a sensação de impotência que me dominava toda vez que as imagens do dia anterior invadiam minha mente. Pior do que me lembrar de West caído no chão era lembrar que eu estava lá e não havia feito nada. Era como se cada segundo que passamos naquele jardim estivesse tatuado nas minhas íris e não importava para onde eu olhasse: sua figura sempre estaria ali, me encarando de volta com seus olhos vazios, da mesma forma com que me olhou antes de eu covardemente abandoná-lo.

Conforme eu caminhava por entre as camas, sentia o mundo à minha volta diminuir a sua velocidade enquanto a gravidade tentava a todo custo me puxar para suas entranhas e me enterrar sob o assoalho amadeirado. Castigava-me por tudo e por nada.

As meninas arrumavam suas camas com movimentos regrados. Todos os lençóis deveriam ser esticados, alisados e com a ponta direita da cabeceira dobrada em um ângulo perfeito de quarenta e cinco graus. Os travesseiros deveriam obedecer uma ordem conforme os tamanhos, dos maiores aos menores. Bichinhos de pelúcia, álbuns de fotografias, diários... tudo deveria ficar guardado em seu devido lugar, seguindo um regime de aparências que destoava completamente da realidade vivida por todos nós. Do lado de fora, sempre tínhamos alguém para arrumar a nossa bagunça, independentemente de qual fosse. Mas ali... ali não havia quem o fizesse.

Ali éramos todos obrigados a limpar nossa própria sujeira. Tínhamos que estancar qualquer vazamento e consertar o que se quebrasse. E mesmo parecendo banal, essa é uma das coisas mais difíceis de fazer quando se trata de nossas ações. Encarar os próprios erros é desesperador, é sufocante e aterrorizante. É como sentir seu coração batendo forte e depois perceber que ele está fora do seu peito, em suas mãos, e não há mais nada dentro de si para mantê-lo vivo.

As meninas continuavam arrumando as coisas, tagarelavam entre si, contando as fofocas do dia que mal havia começado, rindo de piadas sem noção ou suspirando por nomes não ditos. Passei por elas e saí. Minha cama ficou exatamente da mesma forma que estava quando acordei, eu não me importava de levar advertência; afinal, o que eu tinha que arrumar de verdade estava longe de qualquer supervisão da monitoria.

Desci as escadas e já me encaminhava para a saída quando a voz de Tyler soou atrás de mim:

— Nossa primeira aula será de Economia... — parei, me virando para encará-lo. — Pelo estado de seu uniforme, parece que você levou a sério nossa última lição — brincou ele, tentando me fazer rir.

— Desculpe por não estar encaixada no seu padrão — respondi, rís­pida. — Pelo visto eu ando fazendo muito isso ultimamente, não é mesmo?

— Mai...

— O que foi?

— Eu só estava brincando.

— Oh, claro. Como ontem, quando você deixou bem claro pra mim que eu sou socialmente incapaz de escolher meus amigos.

— Você e Westcott nunca foram amigos.

— E isso faz toda a diferença.

— Ok, veja bem, eu não quero mais discutir o que aconteceu, certo? Já está feito. Não há nada que você possa fazer para mudar isso.

— Isso é o que você acha. Ou melhor, isso é o que sua namoradinha quer que você acredite. "É a Mai, Tyler, não seja bobinho, ela não fará nada. Ela não tem coragem de fazer nada". Bem, ela está errada. Então, se me der licença, eu estou um pouco atrasada para fazer exatamente o que eu deveria ter feito ontem.

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