Jogo de Máscaras [Amostra]

Capítulo 13

O restante da semana foi tranquila. Havia parado de tomar os analgésicos no segundo dia e as marcas em meu rosto estavam praticamente invisíveis. Era maravilhoso poder me olhar no espelho e não ver os vergões. De certa forma, não vê-los me fazia esquecer um pouco o terror daquela noite, como se tivesse sido apenas um pesadelo e nada mais.

Ficar longe de West também colaborou muito para isso. Passava as últimas aulas com a mente ocupada e só aparecia em público acompanhada de um dos meus mais novos velhos amigos, uma excelente forma de manter as piadinhas e comentários sob controle. Afinal, não era todo mundo que tinha coragem de apontar para mim na frente de Madson ou Turner. Eles impunham respeito. Eles me respeitavam.

Na sexta à noite, Amy foi até o dormitório onde estávamos Leanne e eu para declarar que, oficialmente, meu nome não era mais o alvo de fofocas pelos corredores de St. Jullians. Pelo que entendi, uma briga entre o pro­fessor Thompson e o professor Della Peña por causa de uma das secretárias da instituição era o ponto alto da vez. Claro que ela não perdeu a chance de me parabenizar por eu ter quebrado o recorde de protagonista nas fofocas jullianas, caso contrário não seria ela. Agradeci de todo o meu coração e dediquei o prêmio a todos que fizeram aquela história ser possível e, entre risadas, me despedi das duas.

A semana havia sido puxada, tudo o que eu queria era aproveitar a calmaria do dormitório para dormir, deixando-as à vontade para saírem e curtirem aquela noite, que estava maravilhosa. Uma noite estrelada, de lua cheia e que cheirava a romance. Sorri ao pensar nas meninas. Elas pareciam almas gêmeas, do tipo que se vê em romances do século XIX, com suas bri­gas e discussões, que, ao final, só fortaleciam a relação delas. E foi com esse pensamento que me entreguei ao sono.

Às três da manhã, acordei com o peito apertado. Havia sonhado com o acidente mais uma vez e, depois de alguns minutos me revirando na cama na tentativa de voltar a dormir, atirei as cobertas e me levantei, saindo do dormitório. Estava na hora de respirar o ar da madrugada.

— Está tarde, West. — A voz de Madson vindo da sala de estudos chamou minha atenção.

Parei ao lado da porta, que estava entreaberta, apurando os ouvidos. Ele havia dito West? Ou será que tinha sido minha imaginação? Tentei olhar pela fresta, querendo identificar quem estaria com ele, mas a luz dos abajures nos quatro cantos da sala de estudos mal iluminava o lugar.

— Eu só preciso de um minuto com ela. — Sim, era West, e seu tom estava um tanto alterado.

— Ela está dormindo, cara. — A voz de Madson era baixa, mas urgente.

Prendi minha respiração, com medo de ser pega.

— Não me chame de "cara". Eu não vim até aqui para você me dizer que ela está dormindo. Eu vim falar com ela. Backer! — seu grito ecoou por todas as paredes.

De onde estava, pude ver o momento em que West tentou passar por Madson, chamando por mim, mas meu amigo o impediu com a mão em seu peito, irritando-o completamente.

— Qual é o seu problema? Não percebeu ainda que ela não quer mais nada com você? Se ela quisesse, já teria ido atrás de você. Ela está muito bem sem você por perto.

— Bem? Se estivesse mesmo você não estaria aqui, dando uma de amiguinho fiel, abanando seu rabo e latindo que nem uma cadela — provo­cou West. — O que você quer, Madson? Quer transar com ela? Quer sentir o gosto dela?

— Vá embora, West. Falo sério.

— Ou vai fazer o quê? Saia da minha frente!

E West empurrou Madson com força, fazendo-o tropeçar no pé do sofá e cair sobre a mesinha de centro. Os livros e copos usados se espalha­ram pelo chão. Aproveitando o momento, ele avançou a passos pesados até a porta que me escondia. Madson o segurou antes que pudesse chegar ao primeiro degrau e, agarrando-o pelo braço, virou-o para si, desferindo um soco na altura do maxilar. West cambaleou e caiu para o lado.