Capítulo 12

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Algumas horas se passaram, e eu permaneci sozinha, pensando e repassando tudo em minha cabeça com diferentes finais. De repente, um vulto parou à minha frente e me chamou:

— Ei!

Ergui os olhos e vi Madson sorrindo timidamente para mim, dois degraus abaixo de onde eu estava sentada. Eu me posicionei mais para a direita, dando espaço e permissão para que ele ocupasse o lugar ao meu lado. Em silêncio, ele se sentou e, colocando a mão dentro do bolso do seu casaco, retirou um pão de gengibre recheado com queijo de búfalo, tomate seco e alecrim. Assim que ele estendeu o lanche para mim, peguei e comecei a comer. Sentia o estômago contorcer com tamanha fome, mas o orgulho me impedira de voltar ao refeitório.

Comi sem que uma palavra fosse trocada entre nós dois. Madson era assim. Ele sabia dar o tempo necessário para que eu me sentisse confortável para falar sobre o que estivesse me incomodando. Era incrível como ele tinha o dom de aparecer sempre que eu precisava.

— Como sabia que eu estava aqui? — perguntei, quebrando o silêncio entre nós.

— Bem, eu tinha duas opções e uma delas estava muito cheia, então...

— A biblioteca estava cheia?

Sim, a biblioteca era uma das minhas opções quando queria ficar comigo mesma por três simples motivos. Primeiro: quase ninguém ia até lá. Segundo: o silêncio era obrigatório. Terceiro: nenhum outro lugar abrigava tantas tragédias. O lugar era perfeito pra mim.

A outra opção era a casa de máquinas. Apesar de ser um lugar frio, como se uma aura fantasmagórica pairasse dentro daquelas paredes, enrege­lando ossos e nervos, era também úmido, um cheiro terrivelmente forte de mofo tomava conta do espaço. O chão, além de sujo, sempre estava coberto de folhas secas. Era um dos poucos lugares que não costumava receber visitas. Madson estava certo, só havia dois lugares onde eu poderia me esconder quando me sentia perdida e acuada, e aquele era um deles.

— Você está bem?

— Eu não sei — confessei. Madson colocou suas mãos sobre as minhas, esfregando-as de leve ao sentir as pedras de gelo que elas pareciam naquele momento. Sorri comigo mesma ao ver aquele gesto dele, tão sim­ples e reconfortante. — Chay, você se lembra da primeira vez que viemos aqui? Quando demos uma de caçadores de fantasmas e subimos até aqui para descobrir o que gerava os misteriosos barulhos desta sala? Nós tínhamos o quê? Uns oito, nove anos?

— Sim. E você era uma magrelinha estranha com a mania irritante de ficar contando os números dos degraus de toda e qualquer escada que aparecia à nossa frente.

— Cala a boca, você que era irritante com aquela mania de ficar estralando os dedos a cada cinco minutos. Aquilo, sim, era irritante.

— Desse jeito? — E ele estralou seus dedos, como fazia quando éramos crianças. Revirei os olhos, e ele riu. — Isso não era nada se comparado à Lily e sua mania de "não toque", com medo de se sujar o tempo todo. Aquilo, sim, era irritante.

— Ainda é — corrigi.

— Verdade. — E, trocando um olhar cúmplice, rimos juntos. Sus­pirando, me aproximei mais dele, deitando a cabeça em seu ombro. Chay passou o braço por trás do meu corpo e me aconchegou em si. — Mas por que está se lembrando disso agora?

— Porque eu queria entender quando foi que paramos de nos perdoar. Lembro que nesse dia em especial você gritou comigo porque eu tropecei naquele degrau ali e deixei cair a lanterna do seu pai lá embaixo. Você disse que mandaria seu primo bater em mim porque aquela lanterna era cara e era a preferida do seu pai, ou algo do gênero.

Jogo de Máscaras [Amostra]Onde histórias criam vida. Descubra agora