Aquele não seria um verão diferente dos outros. Pelo menos, eu pensei que não. Todo ano, visitava a cidade beira-mar da região com minha família. Sempre no mesmo hotel, em frente ao parque que ficava do lado da praia. Seriam apenas quinze dias, até retornarmos para o frio em minha cidade, seiscentos metros acima do mar. O tempo para a diversão era contado no mesmo compasso. A cada segundo, eu poderia estar perdendo tempo — ou ganhando perda de tempo. Isso soou engraçado nos meus pensamentos. Num dos primeiros dias de ida para a praia, já a vi. A moça com cabelo castanho, levemente encaracolado nas pontas. Um vestido simples e branco, mas que combinava perfeitamente com qualquer uma de suas leves expressões faciais. E foi ali que nos conhecemos. Em frente ao mar, no ir e vir das ondas. Ela era do interior, assim como eu. Mas onde ela morava não fazia tanto frio assim. Em pouco tempo, descobri estar apaixonado. Acho que ela sabia. Com certeza ela sabia.Todas as tardes íamos numa sorveteria local. Era surpreendente sua insistência com o mesmo sabor de picolé. Toda vez eu experimentava um novo. Ela sempre escolhia o mesmo. Não sei se era medo de provar novos gostos, porque, todos eram incrivelmente bons ao meu paladar. Acho que, na verdade, ela se apegou tanto em um, que não precisava dos outros.
Quando o sol estava se pondo, partíamos para a praia. Sentávamos na rochas, e observávamos a incansável maré. Muitas vezes, escrevíamos cartas em barquinhos de papel, com somente um destinatário: o destino. E ele era incerto.
Tão incerto, que, mesmo após nove anos, ainda lembro dela, como se tudo tivesse acontecido num piscar de olhos. Mas foram apenas quinze dias. No verão seguinte, nada mais tinha graça sem ela. Os deliciosos sorvetes tornaram-se sem sabor algum, o ir e vir do mar se tornou sem graça. Queria poder ter aquela sensação novamente. A sensação de que o mundo é grande demais para se viver sozinho, mesmo em quinze dias de verão.