Já era primavera. O jardim estava mais colorido do que nunca. Os passarinhos cantavam, enquanto pousavam nos galhos das árvores. As borboletas azuis mantinham-se longe deles, porém continuavam no jardim — enquanto o vento batia, levemente, nas flores, fazendo algumas de suas pétalas caírem, as acumulando no chão.
A luz do sol adentrava minha janela enquanto eu observava toda a cena. Era lindo como tudo parecia dar certo num dia de primavera, ensolarado como aquele. Não poderia existir coisa melhor para se fazer naquela manhã — do que ficar ali, sem fazer quase nada, apenas olhando, o bater das asas das borboletas.
Era bom estar longe da cidade por mais um dia. Minha rotina era muito cansativa. Eu prometi para mim mesma que iria conseguir permanecer ali por somente pouco tempo — mas já haviam se passado semanas.
Os livros empoeirados na estante perto da janela me convidavam, sem querer, para entrar naquele jardim. Sentir o cheiro das rosas, tomando cuidado para não furar-me com teus espinhos. Observar as borboletas azuis, voando em conjunto, perto das papoulas. Escutar somente o canto dos pássaros — desta vez, sem o barulho dos carros e motos passando na rodovia.
As poesias soavam como uma música calmante enquanto eu as lia em voz alta, deixando o som ecoar pelo quarto, quase vazio. De fato, era um jardim de palavras, que tomava conta de mim, com as flores que possuem os melhores aromas já sentidos por ali. Como a calma de uma borboleta, numa manhã ensolarada e quieta de primavera. Já podia sentir meus sentimentos florescendo dentro de meu coração, seguindo o compasso do canto dos passarinhos, tornando-me, parte de tudo aquilo.
Decidi que deveria aproveitar o presente enquanto podia. Esquecer do passado e de todas as coisas ruins que aconteceram, nem que fosse só por um momento. Ser quem eu sou, individualmente, por um momento. Uma eternidade, que duraria, apenas, um momento. Deixei-me levar neste Jardim de Palavras.
Isto durou a manhã toda. Mas pareceu muito mais rápido que o bater de assas de uma borboleta.