À luz da lareira

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Uma densa cobertura de neve cobre a janela de um pequeno aposento iluminado pela luz que emana de uma lareira.

Dentro do aposento, que na verdade se tratava de um quarto, duas pessoas estavam de frente uma para a outra sentadas em uma cama super confortável. As figuras eram de tamanhos diferentes, uma era mais alta e a outra mais baixa. Uma era mais velha e a outra era mais nova: a rainha Margareth e o seu filho Jonathan.

Ambos estavam frente-a-frente e um objeto estava atravessado na cama entre eles: um tabuleiro de xadrez.

Jonathan, que era uma gracinha de menino, possuia bochechas rosadas e olhos azuis bem clarinhos. Seu corpo delgado lhe dava uma aparência de travesso e levado, o que em alguns momentos, não deixava de ser verdade. Tinha momentos em que ele se chamava de Donkey Xote ou Rei Arthur, e dentre outras figuras históricas. E ele substituia a sua verdadeira idade por idades mais velhas, para coincidir com a dos seus cavaleiros favoritos, mesmo tendo apenas 9 anos de idade. Por se tratar de uma imaginação fértil, quase ninguém tinha coragem de lhe dar um sermão sobre realidade e fantasia. Mas não era necessário, pois o próprio garoto já tinha garantido aos pais que já sabia dicernir o que era e não fato, por isso os pais nem se preocuparam mais com isso.

A sua mãe, a rainha Margareth, era a mulher mais linda e charmosa do continente de Ariath, segundo o seu marido. Além dessas características, a rainha era conhecida no Leste pelas suas ações em benefício aos vários vilarejos do reino, como o aumento de estoques de comida em suas cozinhas e a doação de roupas e cobertores. Ela fazia isso, por que sabia ela, que eles desproviam de vários recursos básicos para se sustentar, e segundo ela, nada deveria permanecer desse jeito. Não enquanto ela permanecesse em seu reinado, pelo menos.

A rainha era a mistura perfeita de todas as princesas de contos de fadas destinadas para crianças. Seu cabelo era castanho como o do Bela, que mais tarde iria se apaixonar pela Fera. Sua pele era clara como a da Branca de Neve, e os seus olhos eram verdes como a cor da grama nas épocas de verão em seu reino.

A lareira que se encontrava em frente à cama de Jonathan tremeluzia com as suas chamas ardentes. A iluminação que esta proporcionava pelo quarto, fazia com que surgesse sombras em cada hemisfério do aposento. Inclusive no tabuleiro de xadrez, que naquele momento estava parecendo um verdadeiro campo de batalha.

Jonathan sabia o quanto sua mãe era boa naquele jogo, ele só não sabia como ela era capaz de inventar uma jogada diferente a cada jogo e ainda por cima vencer ele, repetidas e repetidas vezes. Em sua cabecinha, Jonathan bola uma estratégia para tentar capturar a rainha da mãe. Naquele momento, Jonathan conseguia enxergar uma possibilidade de vencer.

Ele movimentou o seu cavalo pelo tabuleiro até derrubar o peão da mãe. Ele faz uma pequena comemoração, levantando os braços e batendo palmas no ar. A mãe acha graça de sua comemoração, mesmo sabendo que ela iria vencer aquela partida. Mas ela decide não interromper a felicidade do filho. Depois de sua comemoração, Jonathan volta a sua atenção para o jogo e espera pela jogada da mãe.

A rainha pega a sua rainha e com ela, derruba o cavalo e aplaude em comemoração a sua vitória na partida. Ela venceu o jogo.

Em menos de seis minutos, todas as peças pretas de Jonathan estavam caídas, derrotadas.

Jonathan dá um soco de frustração na cama, cruza os braços e faz uma careta de emburrado. Ele olha do tabuleiro pra mãe e fala, bufando:

- Ah, chega! Não aguento mais esse jogo!

A rainha, mesmo sabendo o porquê de sua chateação, lhe pergunta de forma solidária e com um sorriso no rosto:

- Por que, querido?

Ele pergunta, com os olhos arregalados:

- Ah, qual é, mãe? Eu nunca consigo ganhar de você...

A rainha levanta o dedo, no intuito de silenciar o seu filho e diz:

- Olha a forma como fala. Se lembre que eu sou a sua mãe e mereço respeito. Não é você, e sim, senhora.

Jonathan envergonhado, abaixa a cabeça em direção ao tabuleiro, o encarando com uma certa curiosidade. Depois, olha para a mãe e pergunta:

- Eu não entendo.

A rainha inclina a cabeça e fala, com a sua voz macia e suave de veludo:

- Não comprende o quê, querido?

Ele diz, voltando a encarar o tabuleiro:

- Esse jogo. É tão chato e enjoado. Quem poderia ter inventado um jogo desses? Eu aposto que a pessoa que o inventou, só teve uma desculpa para o inventar e o inventou.

A rainha balança a cabeça de um lado para o outro, negando a afirmação do filho:

- Nada disso. O jogo existe por uma razão, Jonathan. Existe uma história por trás dele.

Jonathan olha pra mãe com um olhar surpreso:

- Perai. É sério? Então, quer dizer que o jogo não existe por nada?

A rainha assente. Jonathan fica super empolgado para saber a verdadeira história por trás daquele simples jogo. Então, ele se aproxima da mãe e pergunta:

- Mamãe, você pode me contar a história? Prometo que eu fico quietinho. Por favor? - diz ele com as mãozinhas entrelaçadas em sinal de súplica.

A mãe encara por alguns instantes o filho e acaba cedendo com um risinho:

- Tudo bem. Mas eu vou contar bem rápido para você poder dormir cedo, ok?

Ele assente e fala:

- Ok!

Jonathan se encosta na cabeceira da cama e cruza as pernas sob a colcha felpuda. Seu olhar era o de um garoto ansioso, afinal era uma história, e Jonathan adorava histórias. Principalmente as histórias contadas por sua mãe, que estava sentada em sua cama com as sombras do fogo em contraste com a sua linda pele.

Ela passa a mão pela cabeça e pelo queixo do filho, imaginando o bonito homem que se tornaria um dia. Depois, ela dirige o seu olhar para a lareira e mexe os lábios delicadamente, como se estivesse prestes a contar algo muito importante:

- Era uma vez, há muito tempo, aqui no reino de Dallemont...

O Tabuleiro Do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora