A Rainha...

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Jonathan ainda estava de bruços, quando a rainha terminou de contar a parte mais dolorosa da história para ela:

- Mamãe? Por quê está chorando? Eu fiz alguma coisa errada?

Se não fosse pelo comentário do filho, a rainha Margareth nunca saberia que o seu rosto estava molhado de lágrimas.

Ela pensou que elas se tratavam de suor ou algo parecido. Mas após virar o seu rosto na direção de um espelho localizado na cabeceira ao lado da cama de Jonathan, ela pôde confirmar que se tratava de lágrimas e não de suor.

O seu rosto estava completamente manchado de maquiagem preta. A maquiagem que borrava a parte inferior de suas pálpebras, dava a estranha ilusão que seus olhos estavam se desmanchando em um longo caminho de tinta preta que ia até o seu queixo.

A rainha estende a sua mão em direção a gaveta da cabeceira de Jonathan. E de dentro dela, ela retira um lenço bordado e cheio de retalhos bem detalhados que só uma pessoa muito experiente era capaz de realizar.

A rainha limpa o seu rosto com o pano e em seguida os seus olhos. Ela dá mais uma olhada no espelho da cabeceira e vê que em comparação ao que o seu rosto estava antes, ele estava bem mais limpo agora.

Ela segura o pano em seu colo, caso precisasse novamente. Depois, ela dirige o olhar para Jonathan e sussurra:

- Não foi nada, filho. A mamãe só teve um pequeno e triste devaneio. Mas não foi nada. Não se preocupe.

Jonathan olha para mãe, desconfiado. Ele sabia que tinha algo de errado acontecendo. Mas para não chatear e entristecer ainda mais a sua mãe, ele resolve ficar calado e guardar os seus pensamentos para si mesmo.

Para acabar com a tensão e com o silêncio, ele resolve fazer uma pergunta a sua mãe:

- Mamãe?

A rainha responde com a voz entrecortada:

- Sim, meu amor?

Ele olha para ela e pergunta:

- Eu não sei até agora o que a história da rainha têm haver com o jogo de xadrez. O que quer dizer essa história?

A rainha responde, com um sorrisinho no canto da boca:

- Eu não posso dizer agora. Porque ainda não chegamos nessa parte da história. Mas se você quiser saber...

Jonathan responde de súbito:

- É claro que eu quero, mãe. É melhor a senhora começar a contar, se não serei capaz de ter um treco de tanta curiosidade.

A rainha, como sempre, dá uma risadinha pela atitude infantil do filho. Depois, ela diz com um olhar humilde:

- Tá bom, meu bebê - diz a rainha Margareth esticando as mãos em direção às bochechas do filho, no intuito de apertá-las. Jonathan é mais rápido. Com as suas duas mãozinhas, ele segura os pulsos da mãe. Impedindo-as de realizarem o que estavam prestes a realizar. Jonathan não gostava quando a mãe apertava as suas bochechas ou fazia algo parecido com isso.

- Mãe... - diz Jonathan, em um tom de advertência - ... O que já falamos sobre apertar as minhas bochechas?

A rainha assente, concordando com os termos do filho. Mas ela sabia que aqueles termos não eram oficiais. Por não se tratar de um decreto ou algo do tipo. Isso lhe dava a liberdade para apertar as bochechas fofas dele, a hora e quantas vezes quisesse.

A rainha ajeita os ombros e continua a história. Ela já não se sentia mais triste. Porque a pior parte da história, pelo menos para ela, já havia passado. O restante para ela se tratava das consequências das escolhas da rainha.

"Por se tratar de uma história de contos de fadas, os personagens não são reais"
Pensou a rainha Margareth.

"A rainha Octavia não é real. Não adianta ficar se lamentando pelas escolhas de uma rainha que não existe"

"Mas para mim, Octavia existe. E se ela não consegue enxergar que o que fez foi errado, eu sou bastante capaz de sentir por ela"
Assim, pensou a rainha Margareth, em um momento de reflexão.


- Depois de tudo o que a rainha Octavia fez... - diz a rainha, continuando a história. Sua voz ainda estava um pouco entrecortada, devido aos resquícios de tristeza em que esta ainda sentia.

Mas mesmo assim, ela se esforçou ao máximo para prosseguir com a história.

A felicidade de Jonathan era a prioridade naquele momento.

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