Reflexão...

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- Octávia! - gritou o rei, esmurrando a parede de pedra da sua masmorra
- Por favor, não faça isso - Leonardo sem querer deixou escapar um soluço, acompanhado por uma atrevida lágrima. Ele suspirou e disse - Você não é assim. Nunca foi!

Mas pessoas podiam mudar, pensou Léo. Principalmente, quando as pessoas carregavam um objetivo no coração. E o objetivo de Octávia foi esse desde o início. Ela nunca mudou de bom para pior, só aguardou o momento certo para agir.

O momento certo para roubar a sua coroa.

Léo vira de costas para as paredes (onde antes havia uma grade de ferro), se encosta nela e desliza para baixo, com frustração.

É melhor desistir, pensou Léo. Ninguém nunca vai conseguir me ouvir. O quê quer que Octávia fez com as paredes desta cela deve estar funcionando. Estamos em uma câmara subterrânea. Qualquer ruído que seja feito aqui embaixo, com certeza vai ecoar, pensou o rei. Eu sei disso por experiência própria. É impossível que ninguém lá em cima não tenha ouvido os meus gritos. A não ser que Octávia tenha feito algo que esteja inibindo o som.

E foi exatamente o que ela fez, pensou Léo. Ela disse que era alguma espécie de bruxa... ou sei lá. Provavelmente aquilo que ela disse possa ter sido algum tipo de feitiço.

Eu nunca acreditei nisso, pensou o rei. Em magia. Mas agora, eu creio que não há mais motivo para disfarçar a veracidade dos fatos. Existe!

E foi essa linha de raciocínio que o acompanhou durante todo o período que este permaneceu dentro da masmorra. Ele começou a repassar mentalmente, tudo o que ele e a esposa haviam passado juntos. E refletindo bastante do quanto o amor dela por ele foi verdadeiro. Ou será que foi tudo um truque? Um plano para fazer com que o rei vinhesse a se sentir atraído por ela, a ponto dele se tornar um alvo fácil para ela.

Não, pensou o rei pacificamente, Eu não fui um brinquedinho para ela. Nós nos amamos de verdade. Ela só deve estar passando por um período de crise. Nós acabamos de ter um filho com algum tipo de anomalia, e isso fragiliza qualquer mulher e é capaz de deixar elas propícias a certos tipos de loucuras.

Um pensamento um tanto marchista. Mas era o único que ele usava para se apoiar. E o único para ele poder acreditar na possibilidade de ser apenas uma crise. Nada além disso. Também poderia dizer que era uma crise, se eu não conhecesse a rainha.

Léo podia estar defendendo a sua esposa, negando o que a mente dele quer que ele pense. Mas, tanto ele quanto a sua mente sabiam, que eles não poderiam ignorar ou menosprezar essa possibilidade. Será que Octávia realmente se aproveitou do rei para obter controle?

Léo, pelo menos por enquanto, decidiu jogar esses pensamentos para escanteio e começar a se preocupar com outras coisas. Alimentar o seu filho e a si mesmo. Por alguns minutos, ele dirige o seu olhar para o bebê. Na outra extremidade da cela, havia um largo banco de pedra onde o seu filho dormia. Mas nem sempre foi um lugar confortável para se colocar um bebê, de quase 3 meses. Então, o rei teve que tomar as suas próprias providências.

Ele se lembrou...

Ele tirou as suas roupas, com excessão da cueca, e acabou juntando elas fazendo-as parecer não mais com roupas. Mas sim, uma grande bola de tecido colorido e real. Um amontoado de roupas havia se transformado em uma cama provisória para o seu bebê.

Ele havia segurado o bebê com uma mão (encostando o braço ao peito nu para fazer com que o seu filho se inclinasse para ele e não caísse) e com a outra, o amontoado de roupas pesadas de um rei. Ou pelo menos, de um antigo rei.

Ele tentou acolchoar o máximo possível o banco de pedra, e o resultado não foi ruim. Pelo menos, ao que se dizia respeito a sua situação atual. Então, ele pegou o bebê com as duas mãos e o colocou no meio daquele amontoado de roupas. Depois, pegou cada lado daquele amontoado de roupas e o cobriu, como se fosse as pontas de um lençol.

Ele ficou olhando para o seu filho por alguns segundos. Depois, se deitou (vestido apenas com a cueca, que mais parecia um fraldão) em um banco de madeira polida que ficava alguns centímetros ao lado do banco de pedra. Ele se deitou naquele dia. E não dormiu até o pôr do sol.

Quando este havia chegado naquela noite, foi quando Léo se arrependeu de não ter caído no sono mais cedo. Naquela noite, o rei pôde experimentar o que os plebeus, que moravam no Norte, sentiam ao dormir. Um frio absoluto. O frio foi tão intenso que a cada rajada de vento que atravessava os poros das paredes de pedra que constituíam as masmorras, pareciam falar com ele. As paredes de pedra não pareciam mais paredes a noite. Pareciam bocas, onde os ventos frios do Norte pareciam se pronunciar.

A situação só não ficou mais intensa, porque na cela não havia janela. Somente uma pequena clarabóia de vidro que ficava presa ao chão e dava a visão, para quem o olhasse, do Mar Congelado de Ariath. E como o próprio nome já diz, se trata de um mar congelado, cujo o indivíduo que permanecer dentro dele por mais de um minuto, tem o seu corpo transformado em gelo instantaneamente. Era isso que dizia as antigas lendas do continente. Mas mesmo duvidando delas, Léo nunca iria arriscar a própria vida, nem a do seu filho, tentando chegar ao castelo através daquele mar.

Naquela mesma noite, o rei olhou para o seu filho na outra extremidade da cela, recebendo os sussurros dos ventos de gelo. Ele chorava e se debatia por causa do frio. Uma visão extremamente torturante. O rei não podia deixar ele assim. Então, ele desceu da tábua de madeira e pegou o seu filho no colo. Ficou ninando ele por horas, até que este conseguisse dormir. Ah, como Léo desejou tanto estar no lugar dele. Estar envolto pelos braços do pai, se aquecendo (mesmo que parcialmente) com a temperatura do seu corpo. E não estar se submetendo a um intenso frio, que além de ser proveniente da própria cela, era pelo fato dele morar no Norte.

O material no qual a cela foi construída, não lhe proporcionava nenhuma sensação de claustrofobia ou falta de ar. Muitos o chamavam, principalmente os pregos (mestres, no que dizia respeito a arte de construir), de Cerótida de Bromo. Com esse material, você podia construir qualquer aposento fechado, sendo ele uma cela ou não, sem que este pudesse prejudicar de alguma forma o indivíduo. Ou seja, mesmo que o rei estivesse em um local fechado, com risco de falta de ar (lembrando, que não possui janelas) ou sensação de claustrofobia, você não correria nenhum risco. Mas infelizmente, o material não conseguia inibir o frio.

Depois de tentar, sem sucesso, chamar a atenção de alguém nos lugares de cima, o rei resolveu ninar o bebê (que já se encontrava dormindo) por alguns minutos. Pelo menos, até que se sentisse cansado o suficiente para dormir. E ele esperava, com tamanha força de vontade, que este momento chegasse. Mas o que ele não esperava, era a voz que veio em seguida. Lenta e calmamente:

- Quantos meses seu filho tem, Léo? - disse a voz, de detrás do rei, cujo corpo foi submetido a uma frieza instantânea.

Medo...

O que é que está atrás de mim?, pensou o rei, assustado.

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