O pronunciamento do rei

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- O rei do Norte... - diz a rainha Margareth, alguns segundos antes de ser interrompida por Jonathan.

- Ah! Perai, mãe! A senhora já está fazendo com que a minha cabeça exploda - fala Jonathan com uma mão em cada têmpora, expressando melhor o seu dizer - Por que a senhora não me conta logo o que foi que aconteceu? E quais foram os reinos que foram destruídos?

A rainha, serena, estende as palmas das mãos e fala, com a sua voz de veludo :

- Calma, filho. Tudo tem o seu tempo e momento.

Jonathan diz:

- É. Mas a senhora me disse que ia me contar tudo antes de eu dormir. E eu acho, mamãe, que o tempo está passando - diz Jonathan batendo em seu pequeno pulso com dois dedinhos, querendo indicar as horas para mãe. A mãe entende a mensagem e suspira:

- Tá bom. Mas eu não vou apressar as coisas, tá ouvindo? Eu vou contar a história como ela merece ser contada: início, meio e fim.

Jonathan bufa, sabendo que o que ele queria tanto saber estaria bem longe de ser contado. Mas ele dá de ombros, suspira e acaba cedendo:

- Tá, mãe.

A rainha Margareth continua a história:

- Continuando...

***

Todos as câmeras e monitores já estavam preparados para a transmissão da grande surpresa que o rei Leonardo XVIII e a rainha Octavia estavam prestes a revelar.

Fotógrafos e repórteres se aglomeravam ao redor do castelo de Dullemont, especificamente em baixo da varanda do quarto do rei e da rainha.

Era um dia perfeito para anunciar uma grande notícia, uma notícia esperada por todos.

Pássaros rodeavam e cantavam ao redor da roseira da varanda, quando o casal real apareceu, ambos com um grande sorriso no rosto. Bom, pelo menos o rei estava sorrindo. No momento imediato em que a rainha pôs o pé na varanda, uma rajada de flashes começou a disparar em sua direção. Dois cinegrafistas que se encontravam entre a multidão alvoroçada, com o auxílio de suas câmeras, fez com que o rosto do rei e da rainha aparecesse em dois telões, um de cada lado da varanda.

A resolução da transmissão era tão boa, que conseguia captar algumas rugas de expressão no rosto da rainha, mesmo que ela tentasse esconder com boa dose de maquiagem.

A rainha Octavia tinha uma aparência destinada a realeza, com um brilho no rosto, mesmo que ela não estivesse tão feliz agora. Para completar, ela tinha cabelo loiro, cuja uma parte estava presa a um coque e a outra parte estava presa a uma trança que rondava toda a cabeça: um estilo da realeza.

Seus olhos eram verdes como a grama dos campos de lírio. Estes apontaram por um segundo para o seu marido, o analisando.

Leonardo era bonito e elegante. Seu rosto transbordava conforto e determinação, assim como o rosto de sua esposa. Seus cabelos castanhos escuros e olhos azuis, lhe davam uma aparência de guerreiro e batalhador: a aparência de um bom rei, na concepção de seus súditos e da sua falecida mãe, Aurora.

O seu olhar e o da rainha se encontram por um segundo, mas não dura muito tempo.

A esperança do rei, era que o bebê fosse reacender a chama que havia se apagado há muito tempo. O amor entre eles se encontrava frio e escasso, como se fosse um trabalho forçado. Ele estava desposto a reencontrar esse amor perdido.

O alvoroço terminou, quando o rei Leonardo XVIII levantou as mãos em sinal de silêncio e todos acabaram se aquietando. Pelo menos por um momento.

O rei ajeitou as luvas em sua mão e alisou a sua vestimenta. Depois de olhar para a rainha, à procura de um sinal de confirmação. Ela não demonstrou quaisquer reação. Então, ele olhou para os ansiosos a baixo deles, pigarreou e disse:

- Querido povo de Dallemont. É um prazer ver todos aqui reunidos para testemunhar a nossa novidade mais recente.

Uma série de murmúrios e discussões rondam a multidão a baixo. Todos estavam criando mil expectativas sobre o que poderia ser a grande novidade.

- Ontem a noite, um dos nossos enfermeiros diagnosticou a minha mulher, Octavia, e acabou descobrindo um milagre. Porque como muitos sabem, a minha mulher é estéril, e isso quer dizer que não há possibilidade dela engravidar. Mas parece que de acordo com o diagnóstico médico, ela está grávida.

Um sentimento de empolgação e felicidade se espalha pela multidão. Era realmente um milagre. Um bebê. A rainha iria ter um bebê, mesmo sendo estéril. Como isso era possível, ninguém sabia. Mas isso não influenciou na alegria momentânea e escandalizada da multidão.

Os gritos de felicidade da multidão eram tão altos que a rainha teve que tampar os ouvidos, sorrindo de uma forma forçada e alternada.

Ao contrário dos outros, a rainha não estava feliz com a sua gravidez. Mas ela não pudia demonstrar isso publicamente, nem mesmo para o marido. Ela tinha planos, e o bebê os atrapalhou de serem executados.

Ela tinha que se livrar da criança, de uma forma ou de outra.

Após mais uma sessão de flashes, reportagens e matérias jornalísticas, o casal real retornou de volta aos seus aposentos reais.

Após entrarem, a rainha​ fechou a porta do quarto e se sentou na sua cama, envolta por cobertas devidamente arrumadas por camareiras experientes.

Ela olha para as costas de seu marido por alguns instantes, pensando se valia a pena ceder para a gravidez. Se ela tivesse um filho, ela faria não só o seu marido feliz, mas também todo o seu povo. Mas se ela fizesse o parto, automaticamente ela não poderia mais executar o plano desejado.

Então, a rainha já tinha um plano. Ela nem desapontaria o seu marido, nem teria que contar a verdade sobre ela ou sobre os seus planos. Mas nada havia sido concretizado ainda. Afinal, a rainha se encontrava em um beco sem saída.

A verdade nunca foi tão crucial quanto agora: revelar a verdade e perder o que conquistou ou esconder e ter que guardar o seu rancor pelo resto da vida.

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