➰ hell - jk ➰

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*palavras acompanhadas por um número à frente apresentam o significado no final do capítulo*

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Jeon rasgava suas roupas pelo tanto calor que sentia. As chamas o seguiam o tempo todo e ele apenas agitava as mãos para as apagar, o que não resultava e, na maioria das vezes, piorava a situação. A luz mal passava pelas fitas e grossas grades do pequeno quarto dele, que mais parecia uma adega(1) subterrânea pela tanta humidade.

Porquê que tinha de ter tanto calor assim no Inferno?!

"Malditas chamas" Jeon pensou ao ver, com dificuldade, chamas no jardim de arbustos queimados e quase em cinzas pelas grades. Jeon agarrou as grades e as empurrou com toda força que tinha, sem solução. Ele queria sair dali.

Todos os dias ele era obrigado a estar no seu quarto fechado até que os demônios maiores abrissem as portas de chumbo maciço e desgastas de tanto velhas que eram. Cada vez que abriam as portas, ouvia-se um estrondo(2) enorme causado pelas portas enferrujadas e logo após alguns uns segundos, que Jeon contava mentalmente, aparecia um demônio vestido de preto e de barba à frente da porta e gritava "Acorde-se, agora!" mesmo ele estando a poucos metros dele, o que o fazia ele ouvir perfeitamente, e já estando acordado há horas, pois quase nunca dormia. Como poderia dormir?!
Havia sempre alguém gritando de dor, provavelmente escravos de Lúcifer.

Os demônios menores como Jeon poderiam facilmente tornar-se escravos por sete motivos, que constituem a tábua dos 7 mandamentos, sátira da tábua dos mandamentos do Paraíso, da qual nem sabia o número exato pois ninguém nunca lhe contou, que eram: desrespeitar Lúcifer, não obedecer às suas ordens, rezar, pedir graças à Deus, falar em voz alta com Ele - Lúcifer -, interromper as suas seções de tortura aos outros escravos e falir numa missão.

Jeon levantou-se de sua cama cinzenta e empoeirada e encaminhou-se para fora após tirar os vestijos de tecido preto de sua cama, que antes compunham sua camisa. Não havia nem sequer uma pequena briza que deixaria possibilidade para Jeon respirar.

Só tinham pessoas cujas faces eram sombrias e tristes, como se estivessem eternamente destinados à malinconia.

Jeon sabia de não ser iguais a eles, ele sempre tentava ver o lado positivo das coisas, mesmo, a maior parte das vezes, nem tendo. Então porque raio estava ele no Inferno?! Ele queria ir para cima, ver os humanos de cima e não de baixo. Ele se sentia inferior por ser pisado por todos, até pelos humanos, num modo metafórico, pois o Inferno estava debaixo dos seus pés.

– Yo, sai desses seus pensamentos. — alguém interrompeu seus pensamentos do nada o que assustou Jeon então encarou a pessoa à frente dele com um pouco de raiva – Não precisa me olhar assim, brother. — Yoongi deu um soco fraco no seu ombro.

Yoongi tinha uns cabelos pretos com reflexos azuis que não se notavam tanto e seus olhos eram pretos como a morte. Era magro e de média estatura; o sorriso maligno e malicioso nunca saía de sua cara. Jeon o considerava o seu único amigo, mesmo nem tendo certeza se Yoongi realmente gostasse dele ou estivesse apenas fingindo simpatia.

– Deixa-me em paz, Yoongi. Não estou afim de rir nem nada. — era totalmente verdadeiro, ele já não aguentava mais aquela vida sem rumo algum.

– Olha, ó o sad boy. #Depressão. — falou formando um símbolo com os dedos e o Jeon o olhou estranhado. O que é um hashtag? Será que é aquilo que ele está fazendo com as mãos?  – Eu o aprendi com o humano que atormentei há uns dias atrás, ele era um deprimido. Eu acho que agora está na seção I do Inferno. I de inútil. — Yoongi continuou como se tivesse lido a mente do amigo e deu uma risada maligna sacaneando do pobre rapaz que Jeon pensou tivesse tirado sua vida.

– Para de rir dele... — Jeon murmurou, mas Yoongi ouviu.

– Porque deveria parar? Ele tirou sua vida, então era inútil mesmo. — o rapaz dos cabelos pretos azulados deu de ombros e abriu suas azas pretas que até agora guardava atrás de seu corpo escondidas.

Ele tinha se tornado num demônio maior.

– Olha o que eu consegui quando eu fiz com que o rapaz se matasse. — falou se gabando e fez uma piroetta devagar – Você tem razão. Ele não é tão inútil afinal.

Jeon arregalou os olhos. Não conseguiu acreditar que seu amigo tinha se tornado num daqueles monstros.

– E-Eu... Parabéns... — falou triste mas logo fingiu um sorriso e bateu as palmas baixinho.

– Você está orgulhoso de mim, Jeongguk? — questionou meio tristonho pois não percebeu a reação triste de seu colega.

– Sim Yoongi, estou. — mentiu.

Aproximou-se dele e o abraçou de leve. Yoongi se virou de costas pra ele e começou a bater as asas. Quando ele parou, várias penas pretas estavam espalhadas no chão. Jeon aproximou a mão das asas do amigo com curiosidade, mas Yoongi se afastou repentinamente.

– Não toque nelas. — Yoongi rosnou, mas logo colocou a mão na nuca dele – Desculpa, eu apenas não gosto que toquem nelas, não estou habituado.

– Hm... Ok. — Jeon murmurou novamente.

Yoongi olhou para cima e acenou do nada. Colocou os indicadores nas têmporas e fechou os olhos, logo sorriu. Abaixou a cabeça para encarar o rosto de seu amigo e exclamou – Jeon, Lúcifer quer falar contigo.

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dicionário:

(1 – adega) — lugar onde normalmente se guarda comida ou coisas que não se usam diariamente.
(2 – estrondo) — ruído alto.

Demon;;vkookOnde histórias criam vida. Descubra agora