Cap. 4

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Quando me dei conta já estava anoitecendo, o que significava que minha mãe já estava chegando. Levantei da cama, peguei uma toalha e fui tomar banho. Outra vez a lembrança de Marie me veio à mente e um sorriso brotou em meu rosto. Por um momento me repreendi por estar pensando tanto nela, mas logo afastei esse pensamento e voltei a reviver nosso momento juntas. Já estava terminando meu banho quando ouvi minha mãe bater a porta e me chamar.

— Helena, você está ai?

— Sim mamãe, estou terminando de me arrumar. Já já eu desço. — gritei para que ela pudesse me ouvir. Vesti um short preto de cintura alta, um dos meus favoritos, uma blusa branca mais solta,uma jaqueta preta, um tênis preto e por fim ajeitei meus cachos que estavam um pouco bagunçados. — Oie — falei sorrindo e abraçando minha mãe.

— Nossa, qual o motivo de toda esta animação? — seu rosto demonstrava um certo cansaço, mas ainda assim continuava leve e alegre. Hoje seu cabelo crespo estava preso e um turbante azul dava um toque a mais a beleza estonteante dela. Por sorte me pareço muito com ela, nossos traços são muito parecidos o que difere são nossos olhos, pois os dela são de um castanho admirável. Para ser sincera sempre tive inveja deles.

— Fui até a biblioteca hoje e... — parei no meio da fala pois não tinha certeza se deveria contar ou não à mamãe sobre Marie.

— E... — ela repetiu com a intenção de me fazer falar mais.

— E eu conheci, ou melhor, conversei com uma garota da escola e ela era muito legal e tal. Por isto estou tão alegre, acho que nos tornaremos boas amigas. — um sorriso enorme surgiu em seu rosto mostrando seus dentes perfeitamente alinhados.

— Que maravilha meu bem! A tempos que não vejo seus olhos brilharem tanto como agora. Tenho certeza de que ela vai te ajudar muito.

— Mãe, não vamos entrar neste assunto agora, por favor.

— Claro anjo, olha só, tive uma ideia. — eu já conhecia aquele olhar sapeca.

— Então fala.

— Vamos sair para comemorar!!! — a felicidade em seu rosto era a mesma de uma criança que vai ao parque pela primeira vez.

— Ótimo. Já estou pronta! — sorri. — Agora vá se arrumar. — algumas vezes parecia que eu era a mãe da família.

— Ok. Já volto. — me deu um beijo no rosto e saiu.

                     ~~~

Meia hora depois mamãe já estava pronta, dessa vez decidimos sair sem o carro para poder aproveitar mais a cidade e todas as belezas escondidas nela.
Saimos de casa exatamente às 20:30m. Para dizer a verdade não tinha ideia de onde iríamos, talvez um restaurante e depois um cineminha e terminariamos a noite em algum barzinho qualquer. Ou então uma balada poderia ser o nosso destino, dançar a noite toda. Algumas pessoas devem achar estranho mãe e filha juntas numa balada, mas entre nós sempre foi assim. Sempre que podia minha mãe me levava para sair com ela, é claro que quando era pequena ela não me levava em baladas.
A cidade parecia mais iluminada e movimentada, talvez esteja sentindo isso pois a tempos não saio a noite. Mas também o que poderia esperar da maior metrópole do Brasil, não é?! Enquanto caminhava-mos reparei que a cidade não estava mais tão colorida como antes, os grafites não estão mais nos muros como à meses atrás, tudo agora é cinza e apagado.

— Então, onde vamos? — perguntei a minha mãe, não tinha reparado como ela estava tão linda, seus cabelos estavam totalmente soltos em uma lateral e noutra uma flor roxa segurava seu crespo, usava uma calça jeans escura, uma bota preta, uma blusa meio cinza e um casaco azul escuro quase preto, na boca um batom vermelho dava um destaque aos seus lábios carnudos e bem desenhados, nos olhos somente rímel. Deslumbrante é a melhor palavra para defini-la.

— Não sei filha, que tal uma baladinha? Você já tem dezoito anos, não terei problemas. — Cátia sorriu.

— Gostei! — respondi e seguimos até nosso destino. Antes de chegarmos na boate passamos em um fast-food por que eu estava com fome. Depois de comer seguimos até a boate.

                     ~~~

A fachada da boate tinha cores de roxo e preto, era alta e mesmo estando do lado de fora já podia sentir o cheiro de álcool. Nos aproximamos da entrada, haviam dois homens enormes vestidos com ternos pretos e com a fisionomia séria. Seguranças. Mamãe pagou nossas entradas e quando nos dirigimos ao interior da boate um deles nos olhou de uma forma diferente. Eu já sabia o que significava aquele olhar, era nojo, abominação. Tudo bem que minha mãe é bastante jovem mas daí a achar que somos namoradas é um pouco demais. Mas não é a primeira vez que isso acontece, confesso que me sinto muito indignada com a forma que a comunidade LGBT é tratada.

— Aquele babaca acha que somos namoradas. — Cátia somente sorriu.

— E se fôssemos? O que ele iria fazer? — me assustei com a resposta de mamãe, ela continuou. — Tem gente que precisa aprender a cuidar da própria vida e deixar a dos outros filha.

— Você não se importa?

— Não. E se uma de nós ou as duas fossem lésbicas isso só diz respeito a nós mesmas meu bem. — então acariciou meu rosto e nos abraçamos. Que mãe maravilhosa eu tenho!

A noite foi maravilhosa, dançamos muito, bebemos um pouco. Nada além do limite é claro. Haviam pessoas de todo tipo no ambiente e isso me fazia sentir mais à vontade. As vezes algum cara chegava e jogava uma cantada barata em nós, mas mamãe não dava liberdade então eles desistiam. Chegava a ser engraçado ver ela dispensando vários caras.
Depois de algumas horas de diversão resolvemos ir embora. Na saida da boate pude observar que aquele segurança ainda nos fitava com nojo no olhar, mas dessa vez não dei importância. Segui caminho junto com minha mãe.

Essa noite foi maravilhosa! 

Oi meus amores, espero que estejam curtindo essa história. Sugestões e críticas são sempre bem vindas! ❤

Nos cachos de HelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora