Pelo amor e pelo sangue

Em meio a desilusões. 14

Hoje o dia é de piquenique fora do castelo com a realeza. Me encontro junto de Francis em nossa carruagem, um pouco ainda ressentida com os acontecimentos recentes. Mas de certa forma seu olhar calmo e despreocupado me tranquiliza. Passamos o caminho conversando sobre assuntos corriqueiros e quase me esqueço de tudo o que aconteceu entre nós. Sinto como se fossemos amigos, velhos amigos.

Chegando ao local do piquenique ao ar livre, os serventes preparam nossas toalhas e logo estamos rodeadas de quitutes saborosos, vinho requintado e uma variedade de frutas. Há uma toalha só minha e de minhas damas afastada um pouco da multidão, onde temos liberdade para conversar e eu compartilhar os acontecimentos recentes. Novamente sou lembrada de meus deveres por elas, mas também escuto os comentários de minhas companheiras em relação a beleza e sedução dos homens por quem me encontro apaixonada.

Francis está do outro lado mais distante conversando com nobres influentes. Ele olha pra mim de relance e me oferece seu sorriso meigo de sempre.

Lola comenta que é difícil não se apaixonar pelo delfim desse jeito, e todas elas riram.

Um tempo depois me aproximo da realeza como é o meu dever sendo noiva do futuro rei da França. Francis então me chama para uma caminhada no campo.

Não gosto muito da ideia de ficar sozinha com ele, mas como sua futura rainha não tenho muita opção a não ser aceitar seu convite.

Surpreendentemente ele para com seus jogos de sedução e a persistência em me ter em seus braços. Continuamos conversando, assim como na vinda e damos altas gargalhadas. Ele me oferece uma flor que pega pelo caminho e acho seu ato um amor.

Em certo momento do caminho, ele rouba o meu enfeite de cabelo, e eu começo a gritar indignada pedindo que ele me devolva.

Neste momento ele começa a correr em disparada e não posso evitar ir atrás. Ele corre rindo de mim por um bom tempo e fica fazendo manobras no ar com meu prendedor, desviando das minhas tentativas de conseguir ele de volta, até que, num impulso desconhecido, me vejo caindo em cima dele, num momento que o prendo com o peso do corpo e consigo imobiliza-lo. Ficamos parados olhando um para o outro num instante que parecia nunca acabar. Para evitar que o pior acontecesse rapidamente me levanto tirando as gramíneas de meu vestido. Então ele se levanta, e, sorrindo para mim, oferece sua mão.

O caminho de volta passamos em silêncio.

E tudo o que passa em minha mente se refere à Bash. Fico imaginando que futuro teremos assim, com esse caso, eu, sendo obrigada a passar horas e horas com meu futuro marido e ele sempre longe da corte, cuidando da segurança e dos assuntos do castelo. Tendo que viver essa vida de mentiras às escondidas. E a corte toda parece já saber de nós. Vejo-me desanimada perante essa perspectiva.

Francis, percebendo me pergunta se estou bem:

-Está tudo bem?

- Só estou um pouco cansada, com tudo que vem acontecendo.

- Mary, me desculpe por te abordar sempre de mau jeito. É que... Realmente ficou difícil deixar de lado o que eu sinto por você. E eu prometo fazer tudo o que for preciso pra te provar que eu te quero de verdade ao meu lado. Vou lutar pelo teu amor.

- Francis eu...

- Você não precisa dizer nada Mary. Eu sei que você está com o meu irmão, mas logo você vai descobrir que é comigo que quer ficar. Eu vejo como você fica comigo, você também me deseja. Mas eu vou ter paciência com você. Irá fazer sua decisão. E quando a fizer, por favor, me fale e eu vou entender. Mas antes de tudo, precisa saber que eu te amo.

Aquelas palavras ecoaram em minha mente durante um bom tempo, e cada dia mais a coisa ficava pior. Eu já não tinha mais certeza de nada, e com meu querido Bash longe de mim, me sentia um pouco carente e talvez isso estivesse mexendo comigo e me fazendo acreditar que eu estava finalmente amando meu noivo.