Percurso Ilusório

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Era um dia ensolarado, Celeste fazia seu percurso como todos dias. De sua casa ao cemitério, ela corria escutando sua playlist de rock. Seus pensamentos vagavam pelo dia de amanhã. A ansiedade percorria cada parte de seu corpo. Sentia um frio na barriga, carregado de esperança e amor.

Pela terceira vez, Celeste fez uma fertilização artificial, já que seu marido tinha infecção seminal. Os dois não perdiam a esperança, sempre encontrando meios de confortar um ao outro. Enquanto Celeste fazia a cirurgia, seu marido trabalhava para sustentar a casa. No dia seguinte, iria sair o resultado.

Com cortejo,

Seu grande desejo,

Era trazer mais uma vida a esse mundo.

Celeste fazia um percurso diferente dos outros dias. Ela voltava com um papel em mãos.  Um sorriso iluminava seu rosto. Havia uma vida dentro dela, que dependia de amor e cuidado para sobreviver. A mulher já se imaginava com o bebê no colo, junto com o amor da sua vida logo atrás. Ambos sorriam olhando para o pequeno presente que receberam.

Enquanto imaginava a vida perfeita, Celeste não sabia o que estava por vir. Seu marido dirigia tranquilamente, esperando chegar em casa e ter a melhor notícia de sua vida. Mas não era isso que o aguardava. O motorista bêbado dirigia seu carro, não se importando em causar um acidente. Os dois bateram com os carros um no outro, fazendo com que os olhos dos homens se fechassem para nunca mais abrirem.

As lágrimas escorriam por seu rosto. Celeste fazia seu percurso padrão. Agora já não corria. Não ouvia música. Não sorria.Como aguentaria? Seu marido era tudo para ela e, agora que teriam um filho, ele estava morto. "Por que a vida gosta de brincar?",se perguntava. Sua roupa preta a deixava sufocada. Apertou sua barriga fortemente, enquanto mais lágrimas escorriam. Era muita dor. Muito sofrimento.

Presente do destino,

Seu amor divino,

Se foi.

"É aqui que termino?",

Pensou Celeste, devastada.

Era um pesadelo. O pesadelo mais realista que Celeste vivia. Ela e seu marido eram felizes. Viviam de cabeça erguida, não deixando nada abalar sua relação. Por causa de um irresponsável, sua vida seria infeliz e, talvez, com um fim inesperado.

Fazia um mês que ele, seu marido, havia morrido. Celeste fazia o percurso de sempre, agora com os olhos cheios de curiosidade. Em suas mãos, um saquinho com a droga LSD se amontoava. A mulher queria esquecer suas mágoas, seus problemas. Queria esquecer o que chamava de passado. Essa era sua única solução.

Experimentando pela primeira vez, esqueceu o que era viver na tristeza. Esqueceu, também, o amor e carinho que devia ter com seu bebê. Pensou apenas em si mesma. Em se sentir bem. As consequências não importavam agora e, talvez, nem chegassem a importar algum dia. Era tudo uma grande diversão.

Cambaleando para todos os lados, Celeste fazia seu percurso até o cemitério. Sua aparência era irreconhecível, deplorável. Estava pálida, suja. Suas roupas estavam velhas e rasgadas. Tremia e ria dos pássaros que passavam voando. Estava ficando louca. Estava se autodestruindo.

A droga,

Estragou sua vida,

Bateu, roubou, matou.

Sem nenhum pudor,

A causou tanta dor.

A mulher já não tinha nada. Perdera seu bebê. Perdera sua moradia. Não se comunicava com a família. Não que isso importasse para ela. Sua vida estava sendo jogada fora, e nada disso importava. Só queria esquecer, sem pensar em consequências.

Celeste estava no meio do percurso que costumava fazer. Seu cabelo estava jogado para todos os lados. Seus olhos, fechados. Seu corpo estava caído no chão. Seu coração já não batia mais. As consequências que ela tanto ignorava, fizeram efeito.

Enfim,

Fechou os olhos.

Nem toda estória tem um bom fim.

Celeste estava morta.

~Gi e Lalah </3

Loucura em PalavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora