9. A Calmaria.

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Foi uma semana realmente movimentada no apartamento de 100m². Pri foi muito bem recebida por sua família, mas Markus voltou para casa com seu dom em segredo, mesmo os dois tendo voltado para suas vidas eles passavam muitas horas juntos no pequeno apartamento, mas esse dia foi diferente, era sábado dia de sua formatura, então estavam todos alvoroçados com os preparativos. Milene se sentia muito feliz por estar colocando um ponto final nesse capitulo de sua vida, estava se aprontando para a cerimônia em frente ao espelho, mas não conseguia esquecer a visão que teve em que seus pais não estariam lá com ela, como se ouvindo seus pensamentos um novo reflexo apareceu do nada, a garota se virou sorrindo.
-Papai!- Exclamou correndo para abraçá-lo.
-Olá Milene. -Respondeu ele ainda segurando sua filha.
A vidente se afastou do pai sem conseguir conter o sorriso que brincava em seus lábios, o homem parecia exatamente igual a primeira vez que o viu o rosto calmo de queixo quadrado em que a barba estava começando a despontar, os olhos pretos e brilhantes, mais alto do que a garota, com roupa esport. chik e ar levemente erudito.
-O que faz aqui?
-Só queria ver minha princesinha no dia da formatura dela.- Ele afastou uma mecha rebelde da frente de seu rosto.- Não quero que fique triste querida, seu mundo está se abrindo hoje, seu futuro esta todo a sua frente.
Milene fechou os olhos com força para impedir que eles se enchessem de água.
-Queria vocês aqui.- Ela mordeu o lábio não sabia o que Henrique pensava a respeito dos pais adotivos.
-Amorzinho, pode sempre falar comigo, o que está te deixado triste assim?
Ela se sentou na cama e esperou sentindo que seu pai sentava ao lado.
-Não gosto disso, eu não quero eles longe, quando eu for para Milênius...- Ela balançou a cabeça como que tentando clarear os pensamentos.- Estou com saudade.
Henrique passou os braços pelos ombros da filha.
-Milene, ter nos conhecido não muda os últimos dezoito anos, eu e sua mãe sabemos que não somos os representantes da sua figura paterna.
A garota olhou nos olhos do pai sentindo o peito apertado.
-Eles não vão estar lá, eu vi.
-Filha, o nosso dom não é infalível, o futuro é mutável, não sofra por antecipação. E além do mais, eu vou estar lá com você.
-Mesmo?
-Mesmo!
Henrique se inclinou e beijou a testa da princesa, ela deixou seus olhos se fecharem sentindo o amor de seu pai e quando os abriu de novo estava mais uma vez sozinha.
Pietro chegou logo depois já vestido com sua beca preta completamente deslumbrante seus olhos azuis brilhavam e o sorriso que lhe cortava o rosto era um bom motivo para o sol se levantar todas as manhãs. Milene forçou um sorriso para ele e juntos saíram.
Era uma tarde quente e agradável todos os amigos estavam amontoados atrás do palco montado no campo de futebol acima dos risinhos e conversas dos animados formandos ouvia-se o burburinho dos pais e amigos que já estavam sentados sobre o agradável sol das cinco horas. Enzo estava com eles organizando os alunos em ordem alfabética e deixando Milene para o final da fila.
-Está pronta princesa?
-Sim.-Disse ela com pouca convicção.
-Trouxe seu discurso?- Ele perguntou vendo as folhas enroladas em suas mãos.
Milene olhou para seu discurso, duas semanas atrás ele parecia tão adequado para a ocasião, mas agora depois de falar com seu pai e depois da conversa noturna com Ricardo ela viu que pareciam palavras guardadas em uma gaveta etiquetada para essa ocasião.
-Na verdade.- Ela estendeu os papeis para o padrinho.- Acho que eu vou improvisar um pouco.
-Como quiser princesa.- Ele fez uma mesura muito exagerada e saiu para seu lugar em meio aos outros professores.
Poucos minutos depois começaram a chamar os formandos pelo nome, cada um de seus amigos e colegas subia no palco recebia seu diploma e um caloroso aperto de mão, alguns comemoravam e gritavam para suas famílias depois desciam e se acomodavam em desconfortáveis cadeiras de plástico cobertas com um pano branco então Milene se viu sozinha esperando seu nome ser chamado.
-E agora nossa oradora, Milene Prayor.
Ela forçou seus pés a subirem os degraus sem tropeçar e sorriu fingindo que estava realmente bem quando tudo que ela queria era sair correndo. Milene apertou a mão do diretor e se pôs posicionada no púlpito. Ela olhou para seus colegas Markus, Pri e Pietro estavam sentados juntos os três acenaram a incentivando do outro lado de um pequeno corredor estavam os professores e amigos Enzo estava lá e ao seu lado estavam Lucas e Arthur esse último lhe deu uma piscadela brincalhona, depois ela deu uma breve olhada por todos os presentes o sol fraco fazendo seus rostos sumirem mas lá na última fileira seus pais a olhavam com orgulho.
Foi difícil engolir as lágrimas para então começar a falar.
-Eu tinha um discurso pronto pra hoje, mas eu percebi que a vida não é previsível ao ponto de se conseguir preparar o que falar, então eu joguei aquelas palavras fora, eu vou falar pra vocês um pouquinho do que a vida me ensinou. Todos nós aqui temos um futuro planejado, o que faremos amanhã, na semana que vem e em cinquenta anos, mas o tempo não liga para se você tem planos, o futuro chega de qualquer forma Tenysson já dizia o conhecimento chega, mas a sabedoria demora, eu não sei se tenho sabedoria, mas aprendi que sabedoria é saber que o tempo nos é limitado e precioso e que as vezes ele não é suficiente Abu Sharkur disse "talvez o tempo te ponha na sua escola, pois ele é o melhor professor que existe" todos nós aqui estamos saindo da escola, mas ainda temos muito o que aprender com o tempo pra alguns não haverá tempo de aprender. Nós somos insignificantes se comparados ao tempo, por isso nós devemos analisá-lo com cuidado ele estava aqui antes de nós e estará aqui depois de nós, talvez seja impossível quantizar o infinito, mas o tempo é e é uma pena que tenhamos acesso tão limitado a ele. Quando eu era pequena e tinha um problema meu pai me dizia que o futuro é grande e que aquilo não era nada se comparado a imensidão do tempo, mas eu era uma criança difícil e disse pra ele, que se fosse assim as coisas boas também não eram nada e ele pacientemente me disse que existia sim uma grande diferença que as coisas ruins eram como pesadelos que logo que acordamos queremos esquecer e as coisas boas são sonhos que levamos para a vida toda, o que quero dizer com essa história é que comparar nossas vidas ao tempo é como comparar pesadelos e sonhos às nossas vidas, podemos escolher se somos pesadelos e deixaremos de existir assim que o futuro nos acordar ou se seremos sonhos que são lembrados mesmo depois de muitas e muitas noites. Obrigada.

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