I CASSIE

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CASSIE


— Posso ajudar? — a secretária indaga sem tirar os olhos do computador.

— Creio que sim — gaguejo nervosa — Estou procurando Blake Hard.

      Cindy, leio o nome que está escrito no crachá preso a sua blusa, olha para mim pela primeira vez e posso sentir as palavras cafona e sem estilo passarem por sua cabeça. Ela exibe um sorriso forçado, condescendente antes de pegar uma agenda dourada com o logo da Hard Security e bater suas longas unhas no papel.

— Você tem hora marcada?

— Não, mas preciso urgentemente falar com o Sr. Hard — suplico tentando manter a compostura.

Ela não se intimida com meu pedido.

— Sinto muito, mas não será possível — diz empurrando um cartão na minha direção — Ligue e marque um horário.

      Penso em dizer que não tenho tempo para ligar e marcar um horário, que o assunto é de vida ou morte e que ele precisa saber imediatamente que....

— Hard Security, boa tarde — Cindy diz ao telefone encerrando nossa breve conversa.

Pego o cartão sobre o balcão jogando-o na bolsa, sigo para o elevador sentindo dor por todo o corpo pela falta de sono e uma náusea pela falta de comida. Aperto o botão e aguardo repassando uma das últimas conversas com Alice.

— Sei que não somos muito próximas e que não facilitei nossa convivência durante os anos, mas preciso da sua ajuda, não tenho a quem recorrer.

— O que você quer? — pergunto apreensiva, minha irmã nunca foi de pedir ajuda.

— Preciso que venha para Sydney, não é algo que eu possa falar pelo telefone — Alice faz uma pausa abafando a tosse — Vou reservar uma passagem aérea para você, me avise assim que puder embarcar.

Precisei apenas de uma semana para convencer meu chefe a me dar férias, fazia anos que trabalhava como professora de inglês na universidade de Boston e nunca havia tirado um dia de licença se quer, ele ficou feliz com o meu pedido alegando que eu precisava me divertir mais.

As portas do elevador se abrem, dou um passo para dentro e aperto o botão do térreo, as portas começam a se fechar quando uma voz grave pede para segurar.

— Obrigado. — ele diz, ocupando o lado direito da caixa de aço.

— De nada — suspiro recostando a cabeça na parede fria.

— Você está bem? — ele pergunta quando fecho os olhos.

Não! Não estou bem, mas quem se importa se Cassandra Denils está bem?

— Sim — murmuro ficando ereta.

       Observo o homem com o canto dos olhos, alto, cabelos grossos pretos, usa um terno possivelmente feito sob medida em alguma boutique de renome, seus sapatos pretos brilhosos parecem italianos e tudo o que consigo despertar nele é pena. Aos vinte e sete anos minha vida é uma piada, alugo um apartamento de um quarto próximo a universidade, não tenho animais e minhas plantas costumam morrer porque esqueço de regá-las. Minha melhor amiga é a irmã do meu ex namorado, depois que terminamos ela passou a conversar comigo e a amizade nasceu, já fazem quatro anos.

O celular do desconhecido toca interrompendo a analogia deprimente sobre minha vida.

— Oi Beatrice, é claro que tentei falar com ele, mas você sabe que o Blake não escuta ninguém — ele fica em silêncio concordando com a cabeça — Estou indo para casa, cansei de bancar a babá!

— Você conhece Blake Hard? — questiono depois que ele desliga o celular, ele me lança um olhar do tipo "como você é intrometida".

— Quem não conhece? — brinca sem sorrir.

— Sabe como posso entrar em contato com ele? E por favor, não diga para ligar e agendar um horário — falo imitando a voz de Cindy.

Penso que ele vai mandar eu cuidar da minha própria vida, mas sou pega de surpresa quando ele joga a cabeça para trás e solta uma gargalhada.

— Achei que apenas eu não gostava dela — confidencia rindo — O Blake não costuma atender ninguém sem horário marcado e duvido muito que vá me ouvir nesse momento. Lamento não poder ajudar.

— Sou de Boston, não conheço nada na cidade e não pretendo ficar muito tempo, mas preciso ver ele antes de ir embora.

— Não vai dizer que é mais uma das conquistas dele e que está apaixonada. — ele me olha de cima a baixo.

— Não. Meu assunto com ele é outro — o elevador para e as portas se abrem — Obrigado mesmo assim — agradeço caminhando para fora.

Atravesso o hall movimentado com a saída dos executivos e funcionários que trabalham para Blake Hard, esbarro em uma mulher no processo, peço desculpas porém ela me ignora retomando seu caminho.

— Espera — alguém grita as minhas costas, não me dou ao trabalho de olhar pois não conheço ninguém ali e não deve ser comigo — Espera!

O homem do elevador segura meu braço levemente fazendo com que eu pare de andar, viro de frente para ele assustada.

— Sabia que não se deve assustar as pessoas desse jeito? — pergunto irritada.

— Desculpe-me, mas é que você parece um pouco desesperada — solto meu braço com um puxão.

— Não preciso da sua pena, encontrarei outra maneira de falar com ele — minha voz sai um pouco dura demais, dou as costas ao sujeito e volto a caminhar.

— Orgulhosa, gosto disso — sua voz demonstra animação — Sexta feira a noite, o Blake costuma frequentar uma boate no centro, a Violet — ele diz caminhando ao meu lado, estende um cartão de visitas com apenas um nome escrito: Chris Carmell — Entregue isso ao segurança e ele a deixara entrar.

— Simples assim? — indago desconfiada.

— Simples assim — confirma.

— Então, muito obrigado Sr. Carmell — agradeço caminhando para a saída.

— Me chame de Chris — pede sorrindo.

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