Capítulo 7

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Deitado na cama de casal, sentindo o sol que entra pela janela queimar seu rosto, Jake pensa em Heath, exatamente como vem fazendo todas as manhãs desde aquela noite cinza. Uma vez voltara naquele antigo apartamento e estava vazio. Parou um instante, encostado na porta branca de Heath, naquele prédio marrom, tentou sentir o perfume daqueles dias de amor e sacanagem e tudo que sentiu foi que tudo aquilo tinha mofado, quebrado além de qualquer conserto.

Havia um vazio em sua vida com Rachel, a falta de um calor, algo que fizesse aquela relação ser real. Para ser honesto, cada um deles era um apoio emocional para o outro, apenas. Não se amavam, mas se apoiavam, ajudando um a carreira do outro, e quando as coisas ficavam difíceis, Jake sabia que podia contar com um abraço apertado. Para algumas pessoas, isso é o suficiente. Talvez isso seja o amor, pensava Jake: apoio mútuo,apenas, e não aquele turbilhão de hormônios, desejos, vontades e sexo que nos é ensinando em todos os livros e comédias românticas e que vivera com Heath.

Heath tinha se mudado para Nova York, deixando aquela vida e aquelas aventuras vermelhas para trás. Chega de sexo no carro em estradas vazias, chega de promessas de amor em praias desertas. Ele estava trabalhando em Batman, O Cavalheiro das Trevas, onde teria um grande destaque. Estava exausto, o Coringa roubava toda sua energia, mas era um prazer interpretá-lo, deixá-lo entrar em seu corpo. Heath se isolara por meses para conseguir capturar e encarnar cada tom do vilão, aprofundando-se em sua solidão. Por recomendação médica, Heath tomava remédios para dormir e remédios para acordar, e por recomendação própria, Heath consumia maconha para relaxar e, uma única vez, numa noite quente com estrippers, cocaína para curtir.

Uma vez, em uma noite, Heath tinha bebido tanto que ligara para Jake, com saudades. Queria abrir mão de tudo só para se encontrarem. Ele andava se sentindo muito sozinho ali, afastado de sua família, sem amigos de verdade. Queria que Jake viajasse para Nova York, conhecesse seu novo apartamento, ficasse só mais um pouco ali com ele, deitado em seu peito como antes.

― Nós sempre vamos querer só mais um pouco. ― a voz de Jake cortara as costuras do coração machucado de Heath, que desligara o telefone, deitando-se no chão, bebendo um gole de vinho no gargalo, as lágrimas salgadas escorrendo para sua boca.

― Por que você disse isso a ele? ― perguntava Rachel, que ouvira e sabia de tudo.

― Porque assim dói muito menos. ― disse apontando para as lágrimas que desciam em seu rosto pálido. ― E eu menti. Eu não quero fazê-lo infeliz e eu não quero que ele me ame. ― as lágrimas misturando-se ao muco. ― Ele merece alguém muito, muito melhor que eu. Dói muito mais está ao seu lado e sentir a incapacidade de fazê-lo satisfeito e feliz. ― soluçava agora.

Rachel o abraçou e o levou para a cama, onde molhou todo o travesseiro com o rio de suas incertezas, tristezas e arrependimentos.

Heath foi ao banheiro e pegou dois comprimidos de diazepam e dois de hidrocodona e bebeu com vinho, se arrastou pelo quarto e se jogou na cama, derrubando e quebrando a garrafa no chão, molhando o tapete. Adormecera e Jake o visitara em sonho, repetindo aquela frase eternamente.

Nós sempre vamos querer só mais um pouco.

Nós sempre vamos querer só mais um pouco.

Nós sempre vamos querer só mais um pouco.

***

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