Capítulo 4

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Sábado, 10 de junho de 2006.


O carro parado em frente a China Beach cheirava a perfume e esperma, suor e vinho. Jake olhava o pôr-do-sol violeta do sul de São Francisco enquanto Heath estava com a cabeça encostada em seu ombro, de olhos fechados, agradecendo por aquele momento. Eles não falavam sobre o que sentiam, deixavam acontecer, primeiro só no apartamento de Heath, depois em plena luz do dia, no carro de Jake.

Heath guardou o pênis ainda inchado dentro da cueca branca e fechou o botão de sua bermuda jeans e desceu convidando Jake para caminhar um pouco na areia. A China Beach é uma praia bem pequena de águas rasas e geladas que Jake ainda não conhecia.

Eles caminharam pela praia deserta, flutuando no ar romântico e com gosto de sal, sem falar uma palavra, apenas digerindo a paisagem. Quando se sentaram próximo da água, Jake beijou Heath, um beijo doce com gosto de maresia, e ficara feliz por agora poder o fazer. 

― Obrigado. ― Disse Heath passando os braços em torno de Jake em um abraço.

― Eu juro que pensei que isso nunca fosse acontecer. ― Jake sorriu passando os dedos pelos cabelos dourados de Heath e devolvendo o abraço.

No horizonte, Jake observava a Golden Gate, cartão postal de São Francisco, então foi sua vez de agradecer ao universo por ter escrito aquele momento para eles.

― Eu passei um bom tempo tentando entender se eu era ou não, o que eu sentia ou não por você. ― Jake disse ainda fitando a ponte que o inspirava a dizer, pois ele se sentia atravessando uma ponte com Heath agora ― Eu nunca pensei em fazer com outro cara, eu tenho a Rachel, sabe? Mas com você... Eu sinto que achei algo maior que tudo, algo que me atingiu na alma.

Heath permaneceu em silencio, olhando para as ondas que iam e vinham, e ele sentiu que era como elas, indo e vindo, um pêndulo entre a vida pública e aqueles momentos de felicidade privada com Jake.

― Eu ansiava pelo seu toque, Heath. ― sorriu ― exatamente como a letra de uma música ruim. Passei muito tempo tentando entender se era certo ou errado, devido a tudo que meus pais e a sociedade me ensinaram, mas, sinceramente, eu não me importo mais. Amar ― tropeçou no amar e consertou em seguida ― Sentir essas coisas não pode ser errado. É puro, entende?

― Entendo, sim. ― Heath olhou diretamente no azul dos olhos de Jake.― Naquela noite, depois que você foi embora naquele táxi, eu tive uma dor tão forte no peito que pensei que estava tendo um infarto. Levei um bom tempo para entender que era porque eu não devia ter deixado você ir embora, mas quando percebi era muito, muito tarde.

Jake puxou a mão de Heath até seus lábios, deu um beijo e sorriu.

― Eu senti a mesma coisa, Heath. Mas quando eu resolvi te procurar eu vi você num programa de TV falando sobre está saindo com a Michele Willians e de como vocês se "apaixonaram" durante as filmagens. Eu fiquei muito triste. ― disse abraçando as próprias pernas.

― E isso te fez cair imediatamente nos braços da Rachel-top-model-da-Cosmopolitan.― Heath disse o empurrando levemente e fazendo uma careta, e Jake o empurrou de volta, com força, o derrubando na areia e se jogando por cima dele. Gargalhadas altas e pequenos socos, algumas cócegas e muitos beijos.

Jake levantou e o puxou pela mão, correndo em direção ao mar quente agora já noite. Eles sorriam desajeitados, entrando na escuridão, tirando as roupas, sentindo a água na cintura, esbarrando um no peito do outro, sentindo o calor dos corpos, sorrisos iluminados como uma árvore de natal, água sendo jogada por mãos nervosas, gargalhadas saiam como de duas crianças em férias.

Eles pararam por um instante, se olharam e como rio que corre para o mar, se abraçaram novamente ali, nas águas geladas da praia solitária, ouvindo apenas a melodia de seus corações pulsantes. Eles se sentiam livres como nunca antes em suas vidas, como os pássaros que ali voavam no céu azul marinho perseguindo o vento e voltando para o mar, e, então, se beijaram.

Eles voltaram a terra e sentaram na areia esperando as cuecas secarem um pouco antes de zarparem. Heath explicava alguma coisa sobre o mar ser quente à noite e frio durante o dia e aquela explicação remetia a alguma coisa sobre os dois, mas Jake estava hipnotizado pelos movimentos da boca de Heath, e quando ele sorria, Jake queria mais um beijo. Era um sonho se tornando realidade.

O paraíso azul dos dois fora quebrado quando a ligação de Rachel tocou no Nokia do Jake, algo sobre um compromisso dos dois naquela noite. Heath desmarcara tudo da sua agenda por dez dias para ficar ali, e Jake não se fazia reciproco nisso.

―Fica mais uma noite ― Heath pediu chegando um pouco mais perto daqueles lábios rosados.

―Você sabe que não posso. ― Jake disse beijando a ponta do nariz de Heath.

O silêncio tomou conta daqueles últimos momentos, eles abraçados à beira da praia, acorrentados por seus medos e anseios. As palavras e as verdades ditas e não ditas voavam longe com a maresia.  Talvez um dia as coisas se tornem simples, mas isso nunca parece acontecer. Amar não deveria ser assim tão complicado.

Eles entraram no carro às 20:39, o cheiro de sexo ainda vivo, agora misturado com a tristeza crescente daquele final. Jake estava indo deixar Heath em seu apartamento para encontrar com Rachel.

― Eu queria muito que você ficasse, Jake. ― A frase dita de supetão quase não saída da boca de Heath.

― Hoje não posso mesmo. ― disse com amargor e tristeza que também sentia.

― Eu queria muito que você ficasse.

― A gente não pode ter sempre tudo que a gente quer, né? ― A frase parecia ter atingido como um tiro o coração de Heath, que finalmente entendeu e levantou-se do banco de couro preto do carro de Jake.

― Ok. Até mais. ― disse fechando a porta do toyota.

― Até mais.

Heath o olhou ainda esperando que ele mudasse de ideia e ficasse, mas Jake fechou a porta e partiu em direção ao outro lado da cidade. Heath subiu as escadas do prédio marrom, abriu a porta branca e deitou-se no sofá vermelho. Talvez um dia ele o procure diga que sente muito também, ele pensou. Talvez a porta fique aberta para sempre, talvez feche amanhã, ele sentiu. Ele pregou os olhos ali mesmo e adormeceu, sonhou que era um pássaro, como aqueles que vira na praia, e ele voava, voava para longe disso tudo.

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