- Ordene que parem de lutar por você. Que se ajoelhem para mim.
Aquilo era pedir muito. Ele jamais iria falar algo assim, não para seu povo que sangrara e morrera por ele. Fosse por ele ou pela filha, jamais iria permitir um azul abaixar-se para um vermelho. Quando virou-se para o humano coroado ele viu algo mais. Atrás dele estava um outro orelhas curtas, o olhar de ódio e prazer ao colocar outro punhal no pescoço do coroado e enfiar. Sangue jorrou sobre Astye, ela acotovelou e se afastou do homem que agora tinha soltado a única coisa que a tornava refém. Os olhos dele varriam tudo no campo de visão, ele deu um passo falho para a frente sujando Corlan ao passar a mão coberta da cor dele no peito do Rei. Depois se virou e viu quem o matara, mas com o movimento se desequilibrou e caiu para trás. Uma poça de sangue logo se formou ao redor dele e então o olhar de todos se ergueu para o assassino que ainda segurava o punhal sorrindo. Ele falou com Corlan.
- Não vamos começar outra guerra agora que esse desgraçado morreu.
- Você é louco?
Corlan colocou a filha atrás de si. Não precisava de mais um o enganado. O homem fingiu pensar, ficando sério brevemente.
- Posso ser louco, mas sou mais esperto. Ao menos mais esperto que esse daí.
- Mestiofe...
Um humano em armadura o chamou, um dos que tinha cercado Corlan mais cedo. Mestiofe o indicou que parasse com o punhal.
- Agora não, Clert. Não vê que o novo rei está fazendo um acordo benéfico para o povo?
- Que acordo?
Corlan esbravejou. Não tinha mais controle sobre sua raiva contra aquela cor. O homem voltou a prestar atenção nele, sorrindo o tempo inteiro.
- Como eu disse, não sou tolo e sei que o que está acontecendo aqui é apenas perda de tempo.
- O que quer dizer?
Ele falou entredentes e com fúria no olhar fazendo o homem gargalhar baixinho.
- Você sabe, não é mesmo, Corlan? Você sabe o que é guardado nas montanhas brancas. Sabe o que os humanos realmente guardam e sabe que as montanhas não os segurarão por muito mais tempo.
Ele sabia. Cada palavra não dita, ele sabia, ele tinha assinado o acordo. Mas sobre não ter muito mais tempo...
- Como?
Mais uma gargalhada.
- Os Brancos ainda vivem, os fantasmas e as bruxas ainda existem dentro daquelas montanhas e um grito ecoou delas.
Maldição maldição maldição.
- Agora, vamos parar de matar uns aos outros e tentar sermos racionais. Vocês azuis se dizem inteligentes por viverem muito, mas na verdade não passam de um bando de brutamontes se continuarem isso.
- Se isso for verdade...
- É.
Corlan engoliu a resposta.
- Se isso for verdade, vermelhos e azuis não bastam.
O humano abriu mais o sorriso.
- Não escutou o que eu disse? Os Brancos ainda existem. Então...? Temos um acordo?
Ele odiava aquilo. Odiava humanos e sua cor vermelha. Mas... se dizia a verdade, ele não tinha outra escolha. Já tinha visto os incolores, se estavam se erguendo, não podia fazer mais nada além daquilo.
- Vamos precisar de todas as cores.
O vermelho afirmou.
- Temos um acordo, então.
Com isso, vermelho e azul abaixaram suas armas e se uniram para lutar pela segunda vez, lado a lado. Mas antes, precisariam unir todas as cores, dos Brancos aos Negros.
Fim...
Nota: 562 palavras
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O Rei Azul - Conto de Corea
Historia CortaConto de Corea. Corlan está preso há oito anos. Ele era o Rei dos azuis, porém os humanos o destronaram em um golpe que pôs a espécie a beira da morte. Usado como refém para que os azuis nunca ataquem, mas um rei não deixa seu povo a mercê de outros...