Além do [Pre]conceito

Capítulo 3

# Elisabete

Parece que foi ontem que comecei a trabalhar nesse escritório, isso já faz dois meses e o meu treinamento finalmente terminou. Vitor me disse que eu serei a secretária da presidência, pois o todo poderoso chefão demitiu a ultima tem quase quatro dias e precisa de alguém urgentemente. Nesse período que comecei a trabalhar aqui fiz uma grande amizade com Alicia, a moça da recepção e foi através dela que fiquei sabendo que o presidente da empresa é conhecido por seu humor diabólico e que não tem secretaria que consiga agrada-lo. Oro mentalmente para que seja um exagero sem tamanho, porque segundo Vitor me falou meu salário vai aumentar significativamente, além de todos os bônus que terei. Para quem vive tendo que contar as moedas todo mês isso é uma noticia espetacular. Tem que dar certo.

Hoje é mais uma segunda-feira e começo a trabalhar para o presidente. Escolhe a minha roupa mais apresentável, estilo secretaria de rico, riu do meu pensamento enquanto me dirijo ao prédio do escritório. As coisas estão cooperando hoje, isso tem que ser um bom presagio. Quando passo pela recepção, logo a mocreia da Leila me encara sorrindo debochada.

_ Realmente esse lugar já foi melhor frequentado, atualmente qualquer uma trabalha aqui, uma perca na qualidade.

Eu olhei para ela e realmente tentei ignorar, só que essa minha força de vontade não durou muito tempo, me virei e sorrindo sarcasticamente responde:

_ Isso deve ter começado no dia em que você foi contratada não é mesmo queridinha?!

Ela me fulminou com os olhos, eu sorri e pensei "ponto pra mim vadia". Segue rumo a cobertura onde ficava a sala da presidência, eu só tive aqui uma vez, e caramba, esse lugar expira luxo. Aqui só tem a sala do presidente, a sala de reuniões e uma pequena sala de recepção onde se encontra uma mesa que possivelmente irei ocupar. Respiro fundo e dou uma batida de leve na porta.

_ Entre!

Uma única palavra que me fez tremer dos pés a cabeça. Droga Bete, se controla. Vai dar tudo certo, eu creio. Depois desse meu curto momento de reflexão, entro na sala. O lugar é muito espaçoso, todo em tons escuros com a parede de trás toda de vidro que permite uma vista privilégiada da cidade. Fico imaginando assistir um por-do-sol daqui, deve ser magnifico. No fundo da sala tem uma mesa de madeira que parece brilhar de tão polida, e sentado majestosamente em uma cadeira de couro preta encontra-se o homem mais bonito que já vê.

_ Bom dia senhor Montinegro!

Ele não me responde, pelo contrário, fica me analisando de cima a baixo e, poxa eu já vê esse mesmo olhar preconceituoso e julgador outras vezes. Ele sorri de canto e me responde:

_ Deve ter acontecido algum engano, eu não trabalho com tipos como você.

Eu juro que nesse momento eu tive duas vontades quase incontroláveis, a primeira era de enfiar a mão na cara daquele filha da puta por ser tão... tão preconceituoso; a segunda é de chorar por pensar até quando eu vou ter que lidar com isso, com tantos julgamentos. Respiro fundo e respondo:

_ Bom, eu prefiro nem saber o que quer dizer "com gente do meu tipo", mas vou avisa-lo que não tem engano nenhum, fui contratada para trabalhar como secretária e é isso que vim fazer aqui. Se o senhor tem alguma objeção a fazer, reclame com o RH, por que "GENTE DO MEU TIPO", são pessoas que ganham a vida honestamente e que infelizmente não pode controlar o "tipo de gente" que vai encontrar.

Ele se levantou e minha nossa senhora dos homens grandes, ele era ainda maior do que me lembrava e parecia estar extremamente irritado com a minha resposta. Eu não vou abaixar a minha cabeça para esse racista de merda. O mundo é tão falso, pessoas ricas e brancas se acham superior, é tão lamentável que até hoje ainda tem alguns que pensam assim.

_ Então vamos tratar de trabalho senhorita....?

Ele estava na minha frente e seu perfume amadeirado já tinha chegado até a mim, o que fez eu perder o foco por alguns instantes.

_Elisabete Santos.

Ele sorri diabolicamente e volta para trás da mesa.

_Muito bem senhorita Santos, vamos ver a sua "competência". Eu quero que você leia esses contratos aqui e os separe em ordem alfabética e de acordo com a urgência _ ele aponta para uma pilha de pastas em cima da mesa, eu posso resolver isso _ e depois quero que responda aos meus emails e organize a minha agenda. Depois venha até minha sala e falarei o que desejo mais.

Vou até a mesa e pego as pastas, me viro para ele e falo:

_ Tudo bem senhor.

Me viro e vou saindo da sala e escuto ele sussurrar:

_ Vamos ver quanto tempo você vai durar.