Segundo capítulo – Angústia tem cor de Amarelo
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Rio de Janeiro
Engraçado como algumas coisas funcionam, não? Principalmente convenções sociais e relações interpessoais, parece que o natural é deixar-se levar pela maré e nunca ousar em nadar contra a correnteza, Cassiane era uma espécie de meio termo, nem nadava contra nem deixava-se levar, seria mais assertivo dizer que boiava sobre todas as outras pessoas; não fazia questão de ser igual e sua diferença não era muito perceptível também. Precisariam, de fato, conhecê-la para perceber suas excentricidades.
Os dedos brincando com o canudo do seu copo de suco, melancia, seu favorito. Os ouvidos atentos e o cérebro buscando respostas rápidas sempre que sua participação mais ativa no assunto era requisitada, assunto o qual não dominava: sexo. A professora de vinte e oito anos sentiu uma quentura nas bochechas com a fala de Letícia, sua melhor amiga. E tinha certeza que a pele negra não disfarçava o rubor.
- Vocês não tem noção! Ele era tão grande que na manhã seguinte eu tive dificuldades para andar e me lembrei dele durante as horas que precisei ficar sentada no escritório... - Despojada, disse em seu jeito naturalmente expansivo e riu de modo delicado, feminino e ousado, arrancando risadas de Joice e Raquel, as outras amigas sentadas à mesa do barzinho.
Cassiane se esforçou para rir, ou melhor, forçou um sorriso porque sempre que a conversa mudava para uma conotação sexual ficava sem jeito e se sentia boba, incompreendida, já bastava o fato de ser motivo de piada interna entre o pequeno grupo inseparável desde o colegial. Virgem e sem previsões de deixar de ser, percebera há um tempo que amigas também podem ser cruéis e por isso evitava falar de si. Sugou o canudo com mais afinco, bebendo o último gole e já tinha planos de pedir outro suco - manter a boca ocupada para não participar de certos papos era sua tática de guerra, valia até fingir que acabara de sair do dentista e estava ainda anestesiada. Desta vez, Letícia foi mais rápida:
- E você, Cass, quando irá nos contar suas peripécias sexuais? - Indagou, o sorriso em seu rosto tinha uma malícia nada amigável.
- Eu... - A professora iniciou, mas calou-se antes de completar. O quê poderia dizer? Elas nunca entenderiam, visto que já tentou explicar algumas vezes.
A noite com as amigas começava a perder a graça...
- Minha tia já perguntou se ela é lésbica. - Joice segredou, indiferente ao desconforto da prima.
- O quê? - Elevando o tom de voz, Cassiane chamou a atenção para a mesa aonde estava e odiou-se por isso - Minha mãe te perguntou isso quando? - Abaixou o tom, envergonhada.
- Ah, Cass... Já tem um tempo e é bem compreensível, afinal a tia nunca te viu com um homem, nem nós.
- E o Ricardo? - Raquel palpitou - Já vi os dois juntos numa festa, não estavam fazendo nada demais, mas...
- Vamos parar? Por favor. - A protagonista do assunto pediu, pronta para se levantar e ir embora - Eu realmente não quero falar sobre isso, pensei que essa noite fosse para comemorar a promoção da Raquel e não para colocar minha vida privada em pauta.
Após mais alguns comentários afiados de Letícia, a conversa voltou para o rumo e Raquel, feliz por ser promovida à gerente de vendas, bebeu um pouco além da conta e proporcionou momentos engraçados que seriam lembrados posteriormente aos risos, até mesmo Cassiane pareceu mais leve e relaxou quando o encontro já estava perto do final, embora, na verdade, estivesse fingindo em partes... Estava um pouco entristecida pelas provocações da noite e recusou a carona de Joice, optando por caminhar pela orla até chegar em seu prédio.
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Amores em Aquarela
General FictionEncontros e desencontros, Rio de Janeiro e São Paulo - ponte aérea para o acaso. Pessoas interligadas, incapazes de saber o final da peça onde são meros coadjuvantes, sem espaço para protagonistas ou figurantes, coadjuvantes da própria história. Ima...