Seis - Ametista para brindar o renovo.

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Sexto capítulo - Ametista para brindar o renovo.

Rio de Janeiro.

O transcorrer das aulas seguiu com a normalidade habitual, não houve maiores alardes e perto das 18hrs Francisco já havia encerrado os tempos de estudo do dia, assim, estava livre para voltar ao seu apartamento e o fez após "despistar" Cloe, não que odiasse passar tempo com a dona da nacionalidade européia, mas naquele dia em especial sentia-se cansado e não precisava forçar-se em conversas que não o interessavam. Sua cabeça doía, era como uma escola de samba em plena concentração de aquecimento da bateria martelando em seu cérebro, a enxaqueca que o acompanhava há anos. Sabia que a amiga não ficaria magoada com sua fuga, principalmente porque estava entretida conversando com o professor... Depois mandaria uma mensagem e ficaria tudo bem. Na saída, deparou-se com Juliana e o cansaço que sentia era tão grande que não perdeu muito tempo olhando-a, apenas seguiu seu caminho acompanhado da mochila pesada e dos livros que carregava nos braços, deixando-o com o aspecto nerd atrapalhado em alta.

Talvez pelo caminho ser feito diariamente já não parecia tão longo quanto realmente era e alugava um apartamento relativamente perto da universidade, aceitou a carona de um colega de curso que sempre esquecia o nome, algo entre Ronan ou Reinaldo, e logo estava no local que chamava de lar no último ano, morar sozinho sendo libertador e, na mesma medida, assustador. Ainda sentia falta da casa dos avós, mas sua necessidade de liberdade gritou, afinal todos em algum momento passam pela transição de crescimento ao chocar-se com a fase adulta. Para Francisco, as coisas aconteceram de forma precoce, fora um choque atender o telefone na madrugada e ouvir sobre o acidente dos pais que saíram para comemorar o aniversário de casamento, aos treze anos, a dupla perda nublou sua adolescência e morar com os avós trouxe, sim, certo bálsamo, porém ainda precisava lidar com todos os acontecimentos passados e faria isso sozinho, estava decidido. Adentrou o apartamento e logo foi largando os livros sobre um aparador que ficava perto da porta, onde também soltou as chaves após trancar a mesma, a mochila foi ao chão e o estômago roncou, denunciando a fome que sentiu e negligenciou durante o dia, contudo, um miado manhoso e levemente acusador chamou sua atenção.

Sorriu.

Luna vinha caminhando belamente pelo corredor que se seguia o quarto, até chegar na sala e saltar no sofá, deitando-se como uma verdadeira lady - as esmeraldas culpando o dono pelo abandono. Arisca, a gata não aceitava bem as poucas visitas que Francisco recebia e parecia odiar Cloe, sempre arranhava a ruiva nas oportunidades que tinha e era xingada por isso, uma vez que Cloe também parecia não simpatizar com a pequena. Às vezes, o rapaz se perguntava como Luna aceitou-o como dono, era tão antipática e cheia de si, mas em momentos como esse em que assemelhava-se com uma pelúcia em fofura, toda sua antipatia era esquecida pelo dono e a saudade falava mais alto; Francisco jogou-se no sofá e rapidamente capturou Luna, abraçando-a apertado ao que ouviu um ronronar. Beijou o topo de sua cabeça e ficou ali com ela no colo, acariciando-a, adiando sua ida até a cozinha em estilo copa americana para preparar o jantar, ou melhor, requentar alguma coisa ou colocar algum congelado no micro-ondas. Vida de universitário solitário não é fácil, realmente. Sentia sono, mas a barriga roncou novamente e o celular apitou em sinal de mensagens.

Adoraria dormir, mas sabia ter uma longa noite de insônia pela frente.

Arqueou as sobrancelhas ao deparar-se com o grupo "Party: A FESTA!" no aplicativo de mensagens e riu da estupidez dos colegas. Quem havia escolhido o nome do grupo? Apesar da indagação ter sido feita em pensamento, o rapaz mostrou o visor do celular para Luna - como se ela pudesse ler e indignar-se também. Recebeu um miado de descaso em resposta e passou a ler sem muita intenção as conversas ali expostas, não demorou muito e percebeu um número conhecido naquele mar de pequenos textos sem sentido e áudios curtos: Cloe. Suspirou e digitou um "oi" simples e curto, mas capaz de expressar toda a apatia que sentia no momento. Deixou o celular de lado após se certificar de que o aparelho estava no silencioso. Tudo o que não precisava era de um grupo com mensagens pipocando. Pipoca!

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