Capítulo 11

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GREGORY HOOVER

Estranho. Uma palavra que sempre considerei até certo ponto um elogio. As pessoas sempre se referem como estranhos alguém muito diferente do que estão acostumadas ou esperam que seja de alguma forma; seja por aparência ou comportamento. Engraçado como sempre está automaticamente ligado ao fato de que é ruim. Desde quando? Ser o padrão esperado, o já programado é que é legal? Só... Puff. Adoro essa palavra e odeio como a rotulam para algo vil.

Eu era um dos padrões de pensamento, durante um grande período da minha vida. Até que mudanças ao meu redor me levaram junto para mudar, não fui obrigado ou imposto, foi natural, como várias coisas mudam na nossa vida, pensamentos, gostos, opiniões, reflexões... O tempo, muda. Somos um pouco de tudo, somos um tiquinho de vários por aí e isso nos torna incrivelmente únicos. Temos um pouco das pessoas que passaram pela nossa vida, dos momentos, dos erros. No final você aprende algo, até antes do fim. Tenho um ódio visceral por quem julga, humilha e maltrata a "pessoa estranha", é algo que vai além de mim. Talvez por isso eu tenha dado um soco em um cara dentro dos domínios da universidade e agora esteja olhando para o vice-reitor com a probabilidade de não jogar hoje pelo time.

Irônico como as coisas são e se modificam. Durante um longo tempo achei normal ouvir colegas chamando outras pessoas, em maioria garotas que eles não achavam atraentes, de estranhas. Considerava normal esse nosso dedo que adora apontar os defeitos nos outros, o que nos deixa insatisfeito no corpo alheio, mas... A pessoa está satisfeita? Se ela está. O que você tem com a vida dela? É só, tão óbvio. Entretanto durante um período extenso considerei tudo aquilo natural, coisa que todo mundo faz. Até doer em mim, até ouvir falarem "sua irmã está estranha cara" como se ela fosse doente de algo que eles não gostavam. É claro que ela mudou, foram as piores 24h da vida dela. Aquele dia, que a destruiu de tal forma... Que nem todo o amor que dávamos a tirou dali, daquele monte de cacos.

Toda a euforia do início da semana sobre Orchid e a confusão sobre Audrey se foi, é ironicamente estranho como tudo funciona e como nunca parecemos acostumados.

Respirei fundo observando meu punho machucado, certo que não machuquei ele na cara do idiota, foi na parede depois. Se fosse realmente descontar minha raiva daqueles comentários de merda teria provavelmente feito ele ir parar no hospital, sem a p0rra da consciência. Que merda! Sou totalmente contra violência, mas tenho meus próprios limites, sei que socar o infeliz não vai mudar a mente deturbada dele. Só precisava... Fazer aquilo.

Todo ser humano tem um limite, alguns maiores, outros menores. E quando penso em limites não é sobre a dor de uma tatuagem, é totalmente sobre o quão bom e mau alguém pode ser. Afinal, somos todo um pouco dos dois. Uma misturinha, por vezes malfeita.

Precisava me acalmar dentro da minha cabeça, encarar o técnico do jeito que meu crânio ferve para ouvir sermão não vai ser nada útil agora. Fechei meus olhos me concentrando nas cenas boas que já passou pelos meus olhos, sorrisos, gargalhadas.

Odeio a morte e como ela é o fim de todos. Odeio não superar ela, odeio ter me acostumado a falta da minha irmã, mas não conseguir superar o que a morte dela me fez. Odeio como me pareço totalmente descontrolado sobre o assunto às vezes e por outras vezes pareço tão sensato e centrado. Odeio como vou para extremos de sentimentos numa forma que não existe controle. Odeio ouvir babacas falando como se alguém tirasse sua vida por vontade. Zombam os chamando de fracos. Eles são mais fortes que todos os que continuam vivos, com medo de mudarem de profissão, com medo da sociedade hipócrita os julgarem. Não endeuso suicidas, só não os pinto como idiotas. Como infernos alguém pode pensar que a pessoa chegou aquele ponto final porque quer? Acham que realmente alguém se desmotiva, é destruído, mastigado e cuspido, porque quer? Caralho! Esses sim são covardes! Uns filhos da puta que só pensam em julgar e não em ajudar! Fechei meus olhos mais firmemente, não quero chorar ali, na sala da reitoria. Odeio mais ainda em saber que existe vezes que podemos tentar ao máximo, e mesmo assim nos é retirado o chão, não é suficiente.

Smoked FlowersOnde histórias criam vida. Descubra agora