Capítulo 27

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"Sentir raiva não é algo incomum. Você se sente virando algo grande dentro de algo menor, então você parece que vai explodir. Não gosto de vários rótulos colocados na minha embalagem ao decorrer dos anos e por diversas pessoas. Mas eu decididamente não sou uma pessoa que vive para nutrir algum tipo de raiva. Não sou do tipo que ataca primeiro, bem, tenho teorias sobre várias coisas, eu observo as pessoas em seus habitats e fora dele. Quando geralmente alguém é sarcástico para te machucar – e não porque você fez uma pergunta idiota – é necessariamente por medo de se machucar primeiro. Todo mundo em algum momento de sua vida vai sentir sentimentos ruins, e isso não torna a pessoa má. É natural. Todos temos rachaduras, porque é exatamente assim que a luz entra."

CAPÍTULO 27

GREGORY HOOVER

Fiquei alguns bons minutos observando a luz que adentrava meu quarto pelo entreaberto das janelas. A cortina não era blecaute, então a luz não era impedida de nada. Soltei um longo suspiro, aceitando que não iria conseguir ignorar minha família até início de setembro, que é quando voltaria para a faculdade.

Era um costume que criei depois do suicídio da minha irmã, se eu pudesse evitar causar qualquer tipo de dor a eles, eu evitaria. E se isso significasse fingir que não existia em um espaço, eu faria. Eles perderam uma filha, por vezes eu não conseguia entender como eles ainda estavam vivos já que eu mesmo considerei suicídio em algum momento, mas novamente, não conseguiria deixar meus pais assim. Era quase como se eu estivesse tentando reparar toda a situação. Não vou fingir que em certos momentos não julguei meus pais, eles deveriam estar chorando mais? Eles deveriam estar sem conseguir seguir em frente? Temos uma noção meio conturbada sobre o luto e como as pessoas devem passar por ele, mas na realidade é que ninguém entende mesmo como fica sua cabeça. Mesmo quem passa pela mesma situação contigo. Mesmo quem já passou pelo luto. É uma coisa básica, a outra pessoa pode compreender certas coisas, mas vocês não são iguais. Luto é um negócio que você só entende passando por ele e ainda assim, só sua experiência. Sua reação não é a certa ou errada, é apenas o que é.

Enquanto nossa vida desmoronava em nossa frente, meus pais me colocaram na terapia. E essa é uma dessas coisas básicas que sempre irei ser grato.

Faz três dias desde o meu momento chegando em casa, encontrando as garotinhas, na praia com Audrey... fechei os olhos com força ao pensar em Audrey. Ela estava ignorando minhas mensagens, o que ela está no seu direito depois de eu ter agido como se ela tivesse aproximado de mim com algum plano diabólico. Certo que não confiava nela e havia um grande rancor ali por sentimentos antigos. Eu superei? Deveria. E então eu estava machucado e quis machucar a Audrey e aquilo foi um golpe desnecessário. E mesquinho.

Virei na cama enfiando meu rosto no colchão, tinha conhecimento que não iria conseguir evitar todos naquela casa para sempre e que estava machucando minha mãe. Mas eu precisava de tempo e pelo menos agora eu estava comprometido em digerir a situação, marquei uma consulta para hoje com o meu antigo psicólogo que me acompanhou no período do suicido da minha irmã.

Peguei meu celular para verificar a hora e noite que passava das duas da tarde, caralho, o meu horário no psicólogo era as três.

Segui em direção para o banheiro com uma toalha no ombro, precisa tomar um bom banho e acordar de verdade para o dia, mas para o segundo realmente acontecer seria necessário além de um banho uma xicara cheia de café bom.

De banho tomado e depois de vestir minha calça jeans, procurei a chave do carro e coloquei no bolso. Havia conversado com o Ethan ontem e ele iria me acompanhar hoje, não que eu o tenha convidado a ficar sentado algumas horas na sala de espera do meu psicólogo, mas ele costumava fazer isso quando éramos mais novos.

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