Primeira Estrela - O MEIO

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Nicolas.

Até hoje me vejo pensando nesse nome sem ao menos querer, porém, naquela noite, ele não saia da minha cabeça de forma alguma. Já havia passado cinco minutos que fiz meu pedido. Fiquei sentado em uma mesa um tanto distante do balcão, encarando a janela que, apesar de estar totalmente estampada de vapor do frio, ainda dava para ver as gotas de chuva começarem a escorrer por ela, e o barulho da chuva que vinha de lá de fora ficava cada vez mais forte. Suspirei, deixando a janela ainda mais embaçada com o vapor que saiu da minha boca. Fiquei pensando se não fiz burrice, se eu deveria somente escutar e não ligar para o que minha família diz. Pensei também em como eu iria para a casa, mas esse pensamento logo se tornou um pesadelo, pois a palavra "casa" era só uma sala cheia dos meus sons mais sombrios.

— Essa chuva só não é mais sem graça que as últimas músicas que dominam o top 10 das paradas americanas — Ela diz rindo e eu acabo soltando uma risada leve também. Em seguida, ela me entrega um copo de café e eu o pego.

— Obrigado. — digo a olhando enquanto bebo um pouco do meu café. — A propósito, qual o seu nome?

— Alyssia, e o seu?

— Ítalo. — respondo sorrindo, porém sua expressão continuava a mesma. 

Alyssia estava sentada na mesa ao meu lado, balançando as pernas e encarando o chão. Iria tentar conversar mais com ela, mas algo me impediu comentar alguma coisa: um barulho forte veio da cozinha, parecia vários vidros se quebrando, e muitos deles. Quando olho para o lado, a garota já não está mais em cima da mesa. Ela caminhava até a cozinha irritada, e, quando foi passar pela porta, alguém apareceu na sua frente. Foi difícil ouvir o que ela dizia, apesar de estar dizendo em um tom alto e rude, porém, consegui escutar algo como "Papai vai te matar se descobrir isso". Aquilo me fez pensar se ela e o irmão dela, ou quem é que seja que está atrás dela, tenha problemas com a família. Suspirei e tomei mais um pouco do café, e, quando voltei a encarar Alyssia, ela já não estava mais na porta. Provavelmente tinha entrado, porém o garoto com quem ela estava discutindo ainda estava parado. Ele me encarava com uma cara tímida e surpresa, seus cabelos cacheados tampavam um pouco do seu rosto, porém, ainda conseguia ver o seus olhos castanhos que combinavam com o tom negro de sua pele. Nicolas.

— O que você está esperando? Vai ver se ele precisa de mais uma coisa. — Alyssia murmurou irritada para Nicolas.

Ele acorda, parecia estar em um transe, talvez assustado por ter feito alguma besteira na cozinha, ou talvez porque eu estava lá e ele teria que falar comigo, mas eu não sou um monstro, ou pelo menos não era. Ele caminhou devagar e eu ri em tom irônico. Levantei da cadeira e caminhei até ele.

— Não preciso de mais nada, obrigado. — digo entregando o dinheiro da bebida, e, quando me viro para ir embora, Nicolas segura meu braço.

— Alyssia e eu estamos fechando a loja e indo para uma festa da escola, você não quer ir? — ele me pergunta falando tão rápido que mal pude entender.

— Uma festa da escola? Na chuva? — pergunto com uma expressão de desconfiança.

— Sim, Arvid vai dar uma festa enquanto sua família está viajando. — Alyssia nos interrompe e sai andando, terminando de fechar a loja.

— Arvid? Não obrigado. — me viro e novamente Nicolas me puxa pra ele.

— Está uma chuva forte lá fora, posso pelo menos te levar até a sua casa?

Se eu fosse falar na hora, seria um "não" sem nenhum tipo de dúvidas, mas naquele mesmo instante eu pensei que não tinha outra saída: ninguém veio me procurar e, como Nicolas disse, a chuva ficava cada vez mais forte lá fora.

— Tudo bem. — suspiro. — Porém é só dessa vez. — digo e ele sorri. — Vamos. 

Nicolas pega as chaves do seu carro, porém, antes de sairmos, ele conversa com Alyssia. Estava sem celular e precisava saber as horas. Foi quando eu vi que havia um relógio grande na parede do balcão: era exatamente 23h03 da noite e nesse horário todo mundo da minha casa deveria estar dormindo, e espero que estejam, pois seria bem difícil minha mãe estar preocupada.Meu pai eu não preciso nem citar, e meu irmão... Bom, ele tinha acabado de chegar de viagem, deveria estar cansado, e eu prefiro que seja assim.

— Vamos. — Nicolas diz passando por mim.

Caminhei para a porta da loja e abri olhando em volta enquanto a chuva caia na minha frente. Nicolas entrava em seu carro preto muito lindo, uma BMW, e eu só sei o nome por causa dos sussurros que as pessoas faziam sobre o seu carro. Aquilo me dava uma impressão de uma pessoa egoísta, mas quando parei pra refletir, apesar de eu não ser tão conhecido na escola, muitos sabiam que eu vinha de uma família rica também. Nicolas trouxe seu carro para mais perto da entrada da cafetaria e, em seguida, abriu a porta do seu carro. Passei pela chuva rapidamente e entrei no carro fechando a porta em seguida. Mesmo passando tão rápido, a chuva havia molhado muito a minha roupa.

— Desculpa por molhar o seu carro. — digo e o olho, ele estava mais molhado do que eu e aquilo me fez rir, e ele riu também.

Nicolas ligou o carro e saímos de lá, encostei minha cabeça no vidro e fiquei observando as gotas de chuva escorrerem e pensando em tudo que aconteceu hoje. Era vários sentimentos misturados e isso fazia eu me sentir incompleto. Foi quando Nicolas ligou o seu rádio e começou a tocar Born to die da Lana Del Rey, e naquele momento eu tentei deixar meus pensamentos de lado e apenas aproveitar o momento.

— Você gosta? — Ele pergunta revirando os olhos.

— Sim... E você? — digo e viro meu olhar para ele, as gotas de chuva em seu rosto o deixaram ainda mais lindo. Eu não podia mentir que sempre tive uma atração por Nicolas desde o primeiro momento que eu o vi, mas não sabia se ele tinha o mesmo.

— Eu amo. — Nicolas responde sorrindo. 

[...]

Nicolas parou o carro na entrada de casa. Não dissemos mais nada depois daquilo, apenas trocamos olhares como sempre fizemos. A visão da casa do lado de fora era escura e quieta, e, assim como na cidade, apenas se via as luzes dos postes e ouvia o barulho de chuva que dessa vez já estava mais fraca.Acho que pela chuva, os seguranças haviam sido mandados embora. Minha mãe não deixava eles aqui quando estava chovendo, e eu nem quero saber o motivo.

— Obrigado pela carona.

— Não foi nada, ainda queria que você fosse à festa.

— Deixa pra outra hora, não estou em um bom momento. — digo e ele concorda com a cabeça.

— Até outra hora, talvez?

— Até. — respondo e abro a porta do carro, já correndo para um lugar onde a chuva não me pegasse mais.

Olho o carro de Nicolas indo embora e suspiro. Foi quando a porta de casa foi aberta, me dando um pequeno susto.

— Precisamos conversar. — me viro assim que escuto a voz de minha mãe.

Capítulo revisado por: Bruna Policarpo

O Assassino de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora