Bruno Antônio César e Cleiton de Pádua Leite cresceram juntos no Rio de Janeiro. Suas mães, vizinhas de longa data, colocaram os filhos no mundo quase na mesma data. Bruno, nasceu em agosto de 1993. Cleiton, em setembro do mesmo ano. Devido ao fato de terem a mesma idade, já se entrosavam desde a infância, ou jogando bola na rua ou soltando pipa no lote vago do Brocão, um enorme espaço abandonado por uma antiga lanchonete falida.
O tempo passou e a amizade só fortalecia. Os dois estudaram juntos na mesma sala por vários anos. Na adolescência, por volta dos 16 anos de idade, a relação entre os amigos se enfraqueceu por conta de uma bela jovem.
- Cleiton, que treta é essa ai, irmão? Tu tá de gracinha com a Paola, mano? Vi ela passando e tu lambendo as beiças como se ela fosse um pedaço de pão sovado.
- Tu tá doido, Bruninho? Eu devia de tá chupando uma bala e a língua saiu pra fora sem eu querer, caramba! E eu vou lá mexer com mulher tua?
- Tô de olho, ein?! Fica esperto, talarico!
Paola, de 19 anos, era conhecida no bairro por, além de ser uma linda mulher, por também já ter se envolvido com os principais traficantes do Complexo do Alemão. Há aproximadamente 2 meses, após alguns beijos e amassos, Bruno pediu a jovem em namoro. Para a surpresa dos que a conheciam, Paola aceitou o pedido.
- Mãe, vou dar um pulo ali na pracinha e já volto. Já é?
- Bruno, já são 20 horas, meu filho. Você sabe como essa região é perigosa. Fica em casa comigo! Não gosto de ficar sozinha e me preocupo demais com você.
- Prometo que volto logo, mãe!
- Tá bom! Vai com Deus. Não demora senão a comida vai esfriar. Não demora, ein!? - indagou Dona Júlia, mãe de Bruno, preocupada com a decisão repentina que o filho havia tomado. - Tá levando blusa de frio?
- Precisa não, mãe. Meu sangue já tá meio fervido.
Após ouvir a fala do filho, o coração de Júlia acelerou. Na mesma hora, lembrara da morte do marido, assassinado há 4 anos após ter saído para trabalhar à noite e ser confundido com um traficante.
- Como assim, filho?! O que que tá acontecendo!? Vem cá, vamos convers...
Antes da mãe do garoto terminar a frase, a porta de madeira que dava acesso à sala já havia sido batida com extrema violência.
- Alô, Beth?! O Cleiton está perto de você? Pergunta se ele tá sabendo de alguma coisa do Bruno. Ele saiu correndo daqui de casa e não me falou nada. Me ajuda!
- Calma, Júlia! Vou perguntar o Cleiton. Talvez o Bruno tenha vindo aqui pra casa. - responde Elizabeth, mãe de Cleiton, com um tom de voz sereno que acalmou os ânimos da mãe de Bruno.
Após 37 segundos, a conversa foi retomada.
- Júlia, depois que eu perguntei o Cleiton sobre o Bruno ele também saiu correndo sem me dizer nada! Vamos aguardar um pouco. Se não voltarem em 20 minutos vamos acionar a polícia, tá bom? - afirma Elizabeth, mãe de Cleiton, com um tom de voz que agora envolvia serenidade e preocupação.
Bruno, perdidamente apaixonado por Paola, recebeu a informação de que a namorada estava se envolvendo com Jardel, filho de um dos traficantes mais influentes do Morro. Na mensagem anônima de um número desconhecido constava o endereço do local do encontro.
Após 15 minutos de caminhada, Bruno aproximou os olhos despistadamente na janela da segunda casa do Beco B, e, com lágrimas nos olhos e o coração partido, comprovou a veracidade da denúncia. Paola, todas as noites, subia para a casa de Jardel para que pudessem transar e se drogarem.
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7 Contos Capitais
Misterio / Suspenso7 Contos Capitais apresenta histórias que retratam um pouco da realidade do mundo contemporâneo. Os humanos, cada vez mais fragilizados emocionalmente, ora agem pelos impulsos, ora são retraídos pelos próprios medos. Procuram entender a vida do próx...