SEGUNDO SOL, E O VISITANTE

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SEGUNDO SOL, E O VISITANTE

No céu, existia dois sóis, os orc's e os goblins em sua esmagadora maioria não gostavam de luz, seus hábitos eram noturnos eles se sentiam confortáveis sobre sua proteção da noite ou dentro dos seus escuros túneis, para sorte de Rhogar e Orun as pesadas nuvens que pairam sobre o vale Ugur, amenizava a luz do astro celeste. Mas mesmo as criaturas da noite sabiam que o sol era o pai do fogo, e o fogo tinha que ser respeitado, o fogo moldava e o fogo matava.

Para surpresa do Orc, havia dois sóis pairando sobre sua cabeça, um era o mesmo desde do começo do mundo forte e silencioso olhando para terra como um deus. Já o segundo era a cólera, vermelho como um olho de um lobo-sangrento, da suas bordas o fogo brotava com fúria, e parecia que ele galopava ao encontro da aldeia. Seria um castigo enviado por Oruguim para avassalar a aldeia? Se perguntou Rhogar.

O pânico foi instaurado entre os habitantes muitos correram aos gritos para o abrigo inútil mais acalentador da escuridão, eles buscaram refúgio nas tocas no barranco, entre os túneis ou nas frágeis cabanas. Enquanto poucos corajosos que contemplavam aquele espetáculo no céu.

O xamã estava agitado, tentando em vão implorar misericórdia a seu deus, enquanto Durgum chefe da aldeia olhava de longe Rhogar: o orc era o mais alto e forte dos orc's da aldeia, havia conquistado o lugar de chefe quando matou o último e um duelo, onde perdeu uma das mãos que foi arrancada a deitadas pelo adversário que acabou morrendo com Durgum empurrando a mão dilacerada pela garganta do oponente. No lugar da mão colocou uma capa de ferro que envolvia todo pulso. O chefe tinha um certo prazer em derrotar os seus inimigos com aquele arma improvisada, gostava especialmente de socar os dentes de outros orc's e gobins e ver seus caninos voarem com a força do impacto.

Durgum era orgulhoso e rancoroso, tinha por hábito culpar Rhogar por todo e qualquer evento ruim que acontecia contra a aldeia e o castigava quando tinha chance. O único motivo do Mestiço ainda respirar o mesmo ar que ele eram o xamã, que por algum proposto secreto mantinha o jovem meio-orc vivo. Drood o Espinha Torta, já era xamã daquela tribo mesmo antes do pai de Durgum ou a mãe de Rhogar nascerem, era o mais velho entre o habitantes daquele lugar e sua sabedoria era respeitada e seus poderes temidos. Era um goblin albino, mais alto que os demais chegando perto de um orc e altura, seus olhos eram fundo e cansados, e as rugas eram escondidas por uma pintura tribal que misturava sangue e cinza, carregava em sua cabeça uma ossada javali, envolta do pescoço um colar com pequenos crânios ratos, pássaros e cobras. O quase esquelético goblin, tinha a coluna saltada e torta como um "S" esticando a fina e castigada pele, de longe que os viam tinham a impressão que uma cobra subia em sua costa.

- Que afronta é está, Espinha Torta? - gesticulou Durgum - Por que Oruguim quer nos castigar?

- A vontade de Orunguim e um segredo para mim meu chefe-de-guerra.

- A culpa disso é sua velho, devia ter deixado eu matar o Mestiço quando tive chance. Antes que a ira de Orunguim caísse sobre nós.

- Tolo, maneta! -interrompeu Drood cuspindo no chão, sem se preocupar com a fúria de Durgum. - Quantas vezes já te disse, Rhogar não morrerá pela mãos de nenhum desta vila. Se isso fosse para acontecer eu mesmo teria sacrificado em nome de Oruguim quando ele nasceu.

O chefe orc olhou o velho com respeito. Escutou suas palavras, mesmo que consumido por ódio.

Rhogar e Orun olhavam fascinados para bola de fogo no céu, porém seus corações estavam apreensivos, eles sabiam que aquele sinal no céu, era algo maligno para eles e os seus.

- O que você fez agora Rhogar? - grunio o goblin caindo na real.

-Como assim eu?

- Sim! Você... Que porra de templo você profanou agora, que ruínas você resolveu explorar, que maldita tumba você maculou, com este seu louco apetite de conhecimento? - Orum gesticulava e andava de um lado para o outro.

- Eu não fiz nada! Se eu fui a algum lugar, vocês estaria comigo seu goblin burro!

- Eu sei!- gritou - Eu só não quero acreditar... De toda forma, você sabe que a culpa disso irá recair em você, e em mim por consequência. - Passou as mãos no rosto tentando desfazer aquele pesadelo - até o Sanuk sabe que o castigo virá com força contra a gente.

- Hum... - Murmurou o meio-orc.

- Devíamos ter fugido desta aldeia a muito tempo Rhogar, não sei que maldito amor você tem por este pedaço de chão, que não tem coragem de deixá-lo.

"Rhogar não falava sobre este assunto nem com o melhor amigo, tinha uma dívida com aquela aldeia... sentia um amor por aquele lugar. Naquele pedaço de chão cercado por nuvens densas sua mãe tinha nascido, vivido e morrido, foi lá que ela sofreu tanto para trazê-lo a vida, ali podia manter uma certa ligação com ela e seu espírito. Sabia que este vínculo que sentia não devia vir do seu lado orc e sim do seu lado qualquer-coisa.

Com um vento agourento, uma figura surge entre as cabanas, saindo a floresta que cercava a tribo. Um ogro retorcido, disforme e monstruoso, menor em estatura que os seus consanguíneos, porém mais amedrontador; ele mancava de uma perna e usava seu cajado para dar equilíbrio a seu corpo redondo o braço direito que sustenta o cajado era atrofiado, no entanto mantia certa força. Seu cajado era uma versão macabra do que Espinha Torta usava, um galho que Sabugueiro Roxo, enrolado com pele de cobras de todas as cores; orelhas de anões, humanos, élficas e de raças que não podia-se distinguir esta enfiadas num corda formando um colar repugnante que ele deixava caído sobre as pontas do galho, para coroar o artefato poderoso um crânio de um dragão bebê estava encravado em cima dos galhos com dois rubis em cada órbita ocular. Sua capa escura cobria o corpo, ao longe parecia o próprio deus Oruguim encarnado, sibilava palavras esquecidas enquanto se arrastavam para perto dos corajosos que testemunharam a cena.

O monstro encapuzado caminhou a passos lentos, roubando os olhares dos poucos que não estavam escondidos, ao passar por uma pedra tropeçou e perdeu o controle do corpo opulento, e estatelou no chão com a cara enfiada na terra vermelha, "todos queriam rir, no entanto a prudência pesou" o ogro bufou fazendo a terra alojada em suas narinas voar, e soltou um urro ensurdecedor ao se levantar, seus olhos faiscaram de fúria e a terra sob seus pés tremeram. Aquele era uma pequena amostra de seu poder e todos ficaram ainda mais ameaçados pela aquela figura.  

Lágrimas de Rhanor - Coração de NaragonOnde histórias criam vida. Descubra agora