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Por Mariel

— O que faz ai parada, Loreta? Não deveria estar escondendo suas seringas? — Perguntei, ao sentir seu perfume, abaixando o arco e o violino.

Era um tarde gostosa, sentia minha pele quente pelos raios de sol, havia um aroma que me lembrava a infância e as tardes em que eu explorava cada canto desse jardim. O céu estava azul, isso eu podia visionar, tal fato me incitava a querer pintar, porém tocar um pouco também era interessante.

— Estava te vendo tocar — Ela solta uma risada

-— Estava bom? — Me ajeito sobre o banco de cimento levemente aquecido pelo sol, dando uma sensação de profundo conforto.

-— Ótimo — Comentou em um sorriso. — Como você está? Guardei minhas agulhas e seringas no mesmo lugar há quase uma semana e elas ainda estão lá.

— Estou sim — sorrio — Logo estarei fuçando como você diz, não se preocupe! Até o fim da semana elas sumirão. — abro um sorriso sapeca

—  Eu e minha boca — Ela praguejou

— Se sente observada? — Perguntei em um sussurro, girando os olhos como se olhasse ao redor.

— Eu? Não, não me sinto. Por que? — Ela devolve o tom.

— Não, por nada, só uma ligeira curiosidade. — balançando os pés no ar.

— Estou de olho em você Mariel! — Ela se levantou indo para a enfermaria.

Deixei o banco onde estava tocando e fui ao jardim. Senti aquele perfume novamente. Quem será que era? Por que era tão calado ?

— Quem está ai? — Perguntei virando a cabeça de um lado a outro dando a impressão de que eu estava procurando alguém com os olhos — mesmo que eu não estivesse — apareça! — Disse em um tom de ordem mas desisti e voltei para ala das meninas.

>>>...<<<

— Tutor?  — Lucrécia sorriu largamente organizando os clipes sobre a longa mesa de madeira maciça em um tom de cobre escuro

— Sim. Tutor. — O misterioso diz se aconchegando a poltrona em frente de Lucrécia.

— E o que deseja com isso? — Disse esperançosa

-—Quero o quê qualquer tutor quer Sra Dornebalie's. A guarda dela. — diz em tom de quase deboche.

— Ah claro! Que cabeça a minha — sorriu esganiçadamente

— Quando posso leva-la? Daqui três meses talvez? — Diz pensativo, como se fizesse cálculos mentais

— Tão longe? Meu caro...? — Diz com uma pitada de desespero.

— Caperini. Aires Caperini

-— Sr. Caperini — Sorriu com astúcia — Creio que pela quantidade de visitas podemos adiantar esse tempo, entende?

— Claro que eu entendo! — Fez uma carranca — E enquanto tempo podemos resolver isso?

— Em uma semana?

— Tão rápido? —  A olhou incrédulo

— Ela está aqui a dezessete anos, querido, te garanto que não é rápido!

— Porque nunca fora adotada? —  Isso despertou sua curiosidade

— Digamos que...An...Bom Mariel é uma garota sanguínea, entende? E as vezes um pouco difícil de... Lidar. — Engoliu em seco.

— Eu não aguento mais! — A enfermeira Loreta entra abruptamente na sala gelada — Mariel sumiu com minhas seringas e agulhas de novo! Ela estava tão calma! Faz uma semana, que ela não mexia em nada! Só porque eu lhe perguntei se estava bem. Comentei levemente sobre minhas agulhas de acupuntura. E pronto! Ela sumiu com todas, de novo! Levou as seringas pra fazer sei lá o quê no jardim! Por favor encomende outras Sra Dornebalie's — Ela finalmente se vira e empalidece no mesmo instante — Céus! Perdão. Mil perdões, com Licença. — Saiu correndo do recinto da mesma forma que entrou.

-— Entendeu Sr. Caperini? — Ela diz sarcástica

— Entendi — Ele engole em seco segurando uma risada.

— Olha com Licença Sra Dornebalie's. Sei que está em uma reunião, mas assim não dá, não mesmo! Mariel fez a maior bagunça com as panelas, misturou todos os temperos, sumiu com as ervas e quebrou três côcos! Tudo isso pra socorrer o frango do almoço! Diz ela, que ele se prendeu nas panelas e por todo o resto. Céus assim não dá! — Carmen a cozinheira chorava as pitangas para a diretora que se manteve com os olhos esbugalhados desde que ela entrava.

— Aonde ela está? — Perguntou Lucrécia

— Ninguém sabe! Loreta disse que ela passou por lá também. As cabras saíram correndo do cercado. Ela deve ter passado por lá. — Suspirou — Vou voltar a cozinha! Já aviso que o almoço vai atrasar. Preciso achar o frango. Com licença.

— Ela é bem...Enérgica, não? — Ele segurava a risada

— Enérgica? Ela é uma peste! Dezessete anos! E não muda. Pelo menos agora ela não consegue se esconder no jardim. Quando ela era menor ninguém a encontrava. —diz suspirando olhando na direção da porta.

-— Acredito que sim! —  Colocou novamente sua carranca no rosto.

— Bom, o senhor quer leva-la hoje? — Ela questiona ansiosa.

— Dentro de duas semanas se verá livre dela Sra. Lucrécia — Se levantou e seguiu o caminhos das duas intrusas.

Passou pelo corredor de paredes de cor rosé e assoalho antigo e gasto, porém bem encerado, saindo pela portas francesas brancas que se encontrava na lateral. Tinha esperança de vê-la aprontando alguma coisa. E lá estava ela com os cabelos presos em um coque alto. Algumas manchas coloridas no rosto e as mãos, totalmente coloridas, brincavam com os temperos emergidos em água.

Ela fazia uma pintura, não dava pra saber o que pintava. Mas as cores eram diversas e vivas, e muito naturais. Ele pensou. A olhou novamente e percebeu que ela olhava em sua direção com um semblante perdido. Ele tentou esboçar um sorriso de lado. Mas sua carranca fez parecer uma careta. E pra sorte dele, ela nada vira. Voltou a pintar o ignorando por completo, ferindo seu ego. Ele se virou rancoroso e foi embora.

>><<

-— Magda?

— Sim, senhor?

—  Prepare tudo para recebê-la.

MarielOnde histórias criam vida. Descubra agora