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Por Aires

   A mesa estava animada, mesmo há altas horas da noite. O uísque sobre o copo de cada um, uma grande negociação, sobre a exportação de louças e porcelanas da empresa Vistovo.

  O assunto corria, mas minha cabeça em outro lugar, sempre que pronunciava-se a palavra Vistovo por mais de três vezes, lembrava-me eu  da carta do velho George, e de Mariel herdeira de toda minha fortuna.
  Precisava rever meus planos, precisava pensar em uma forma onde eu ganhasse. A garota possuía uma beleza distinta, mas cega. Tal fato lembrava-me que eu deveria ter alguma conversa séria com a Sra. Dornebalie's.

  A reunião estava em seu ápice, todos extremamente saturados, dias e dias em uma negociação estratégica e arriscada, mas enfim um contrato fechado com sucesso.
Tenho certo apreço pelo o que faço, mas no auge dos meus vinte e oito anos, herdar uma empresa e manter a confiança e ações sobre ela diante de tantos nomes renomados e idades avançadas no mercado, é um tanto desgastante. A luta para mostrar responsabilidade e construir  contratos sérios cresceu e bom, é preciso muita estratégia.

Tal estratégia que terei que usar com Mariel, garota enérgica mas não sei, me causa um certo ódio, lutei tanto e tudo será passado de bandeja para uma cega fedelha? Eu preciso pensar em uma forma de também sair ganhando nisso.

O contrato é assinado e todos nos levantamos para um aperto de mãos. Observo o ambiente praticamente vazio, um restaurante requintado no centro da cidade de Isobeia, com lustres discretos por todo ambiente, mesas em posições estratégicamente distribuidas pelo salão, de cor creme e pisos brilhantes em carvalho escuro que combinam de fato com a mesa no mesmo tom.

Todos se retiram e Vicente, pronto a minha espera, abre a porta do carro e começa a nos locomover de volta pra casa. Releio os contratos e confirmo as assinaturas, retiro meu relógio de bolso e confirmo as horas, vinte e três horas e cinquenta minutos. Definitivamente todos estarão dormindo, bom aposto que Magda vai surgir do além questionando sobre o jantar.

Ao passar pelo hall, noto algumas pequenas lamparinas acesas, absoluto silêncio, nada de Magda e quase me decepciono.
Subo as escadas passando pelos quartos, ouvindo ruídos no de Mariel.
Abro uma fresta da porta e noto Magda, passando algo na testa da garota, que aparentemente treme de frio. Continuo observando até que em dado instante Mariel grita — notavelmente em um sonho tempestuoso — como se sentisse muita dor, as mãos vão em direção aos pés e soluços podem ser ouvidos, Magda tenta arduamente acalma-la.
De um segundo a outro, Mariel parece entrar em uma crise de convulsões por todo corpo, ainda em sono profundo, seu corpo convulsiona e vejo o desespero de Magda, em um súbito instante desço ao escritório ligando para o médico da família, ao pegar o telefone noto as mãos tremendo e isso de fato me assusta.

Afinal, o que está acontecendo?

Começo a repensar sobre o dia em que estivemos com a Loreta, será que é apenas cegueira, o que há com Mariel? Me importo? Sim. Mas por que?

MarielOnde histórias criam vida. Descubra agora