- Arrumar minhas coisas? Perguntei confusa
- É Mariel! Arrumar suas coisas. Finalmente vou me livrar de você, ainda não entendeu? Lucrécia diz rancorosa.
- Tudo bem, senhora Dornebalie's. Estou indo - suspiro.
Sigo para a ala das meninas e pego meu livro especial. Loreta conseguiu pra mim. Ele é em braile. Ela me ensinou. Peguei o meu porta violino e o coloquei nas costas. Era tudo o que eu tinha.
Desci as velhas escadas de madeira que fizeram parte da minha pequena e mísera história.
- Obrigada! Notei Loreta e a abracei - Por tudo que fez por mim. - Entreguei uma pequena caixa que eu havia pegado embaixo da escada. Ela me olha confusa e abre desconfiada. E logo solta uma gargalhada emotiva.
- Minhas agulhas? Todas elas? Desde quando você tinha sete anos, Mari? Sorri e assenti Ela me puxa pra um abraço - Estarei aqui para o que precisar, minha menina! Sorrimos e ela enlaça meu braço no seu.
- Obrigada. Tenho que ir ao jardim e irei embora, com quem? Não sei! Lucrécia disse que finalmente tinha se livrado de mim. Vamos ver no que dá - Saí pelo corredor e segui andando devagar, aproveitando cada minuto.
- Escuta aqui! Lucrécia me empurra pra parede. - Se você contar a ele que é cega e ele te devolver. Eu farei o inferno na sua vida! Te aturei por dezessete anos Mariel. Se voltar será expulsa! Assenti assustada e ela me solta e volta para sua sala, ao que parece.
Corri ao jardim cortei uma rosa branca, minhas preferidas, e segui para a entrada. Deixar tudo isso aqui, não é tão simples. Pra eles, sim. Vão se livrar do incômodo. Da avassaladora Mariel.
Eles eram minha família, mas pra eles eu era nada. Tirando A Loreta, claro. Segui para a entrada o mais devagar possível segurando minha rosa branca.
Cortei o hall do interno e segui para a diretoria.
- Tudo certo. Ela já está vindo. - Ouvi atrás da porta.
- Sim, eu acabei de vê-la vindo - A voz rouca de um homem ecoa.
- Licença? Entro após bater na porta - Estou pronta - Informo.
- Ótimo! Esse é o Senhor Caperini. Seu novo tutor. - Ela diz e solta uma risada esganiçada
- Vamos logo então? Ele diz impaciente e eu assinto. Ele passa na minha frente, vejo pelo vulto, aquele perfume...Será dele? Mas meu tutor?
>>><<<
Ela vinha com seus cabelos negros numa trança longa, com uma blusa branca simples e uma saia rosa claro que ia até o chão, pés descalços e violino nas costas, ela cortará uma rosa branca e vinha calmamente até a minha direção, com um semblante triste e amargurado. Vi pouco tempo antes ela entregando para a enfermeira a caixa de agulhas. Ambas se emocionaram. Aquilo me deu uma sensação estranha. E quase, quase desisti do meu verdadeiro plano. Mas voltei a mim. E prossegui.
- Vamos logo então? Ela assente e eu sigo para a saída ouvindo o barulho baixo de pés batendo na madeira.
Vicente, meu motorista destrancou as portas e a ajudou com o violino. E eu a ignorei me sentando no banco de trás do motorista e ela ao meu lado. Notei que ela encarava a rosa como se fosse uma diamante mais raro do mundo. Mas a forma como ela encarava parecia que olhava cada membrana que consistia em cada pétala da rosa.
O olhar dela continuava o mesmo. Distante ou perdido mas encarava a rosa com mais profundidade. Ela suspirou fundo como se temesse algo. Virou a cabeça para a janela e seu semblante mudou para triste e angustiado. Voltando seu olhar para a rosa e para janela seguidamente.
Isso me intrigava muito, ela me ignorava, não que eu seja tão maioral assim. Mas o que quero dizer é que era como eu não estivesse ali, ela virava ao meu lado me olhava mas seu semblante não mudava. Não houve susto, temor. Absolutamente nada. Isso era o estranho de tudo.
Mas ignorei, virei meu rosto para a janela e não a olhei mais. - por mais que a vontade fosse muita - Logo chegaremos na propriedade de pedras brancas, que era meio deserta e enorme. Mal nos veríamos. Ainda bem.
- Magda? Chamei e ela logo apareceu secando seu avental. Não sei aonde essa mulher arruma tanta louça pra lavar, toda hora secando as mãos. - Leve essa menina para o quarto dela - Digo rude mesmo e subi as escadas de mármore escuro, largando as duas para trás.
Parei em dos quartos de hospedes, entrei me escondendo e fiquei ali esperando.
- Qual é seu nome? Magda perguntou , amigável como sempre, subindo as escadas.
- M-Mariel - Suspirou olhando sua rosa.
- Mariel? Que lindo nome. - Ela sorriu
- Obrigada. Muito gentil da sua parte.
- Preciso confessar: Achei que você era metida! Aires me mandou arrumar um quarto todo especial para você - O semblante dela mudou para confuso.
- Quem diabos é Aires, mulher? Ela perguntou fazendo Magda gargalhar e eu me segurei também.
- Aires Caperini. - Magna pronúncia
- Ah! O homem que fica me vigiando - Ela diz tranquila. - Perfume bom aquele. Meu perfume?
- Não sabia que ele te vigiava! Magda diz curiosa.
- Nem eu! Descobri hoje por quê o perfume era o mesmo.
- Mas você não o viu?
- N-Não! Ele se esconde ou sempre fica muito longe...- Ela diz temerosa e isso me intriga...como não me viu?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mariel
General FictionMariel Avelar, a avassaladora órfã do internato de Dornebalie's, ali há dezessete anos. De uma beleza estonteante, porém, cega. Ela é uma negação, quando se trata de uma futura adoção. Copyright 2019 © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS