Caramelo Azedinho-doce

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Josey deteve-se diante de um pequeno bangalô amarelo e comparou o número da caixa de correio com o endereço que copiara do catálogo telefônico naquela manhã. Era isso mesmo. Della Lee obviamente não cuidava do seu pequeno quintal desde o verão. Anões de jardim e flores de plástico ainda enfeitavam o passadiço que levava até a varanda, e havia uma espreguiçadeira para banhos de sol no quintal, agora coberta de folhinhas vermelhas e pretas que haviam caído do corniso próximo à casa.

Josey estacionou o enorme Cadillac dourado - ideia da mãe - e desligou o motor.

Ela tinha alguma familiaridade com aquele bairro operário, pois o pai costumava atravessá-lo aos domingos, em seus passeios de carro, quando ela era pequena. Josey ansiava por aqueles passeios. Eram os únicos momentos, em toda sua infância, em  que ela se sentia calma. Passava o resto do tempo numa constante luta de poder com a mãe. Não tinha a menor ideia do motivo pelo qual havia sido uma criança tão má. Não tinha a mínima noção do motivo pelo qual tivera ataques de fúria. Mas durante aqueles passeios, Josey relaxava enquanto Marco falava. Ele sabia tudo sobre Bald Slope. Tinha sessenta e muitos anos quando Josey nasceu, era uma figura respeitada na cidade, rico, com cabelos grisalhos, arrogante.

Marco morreu quando Josey tinha nove anos e tudo o que lhe sobrou foi a mãe. Foi então que decidiu que, mesmo que lhe levasse todo o tempo do mundo, compensaria a mãe por todas as coisas terríveis que já fizera. O dia que o pai morreu foi o primeiro em que Josey mordeu a língua; o primeiro em que aceitou uma crítica sem revidar; o dia em que começou a se dar conta de como seria difícil mudar a visão que as pessoas tinham dela como criança. Quase vinte anos depois, ainda estava tentando.

Respirando bem fundo, Josey saltou do carro.

Tivera um momento de sorte naquele dia, depois de deixar a mãe no salão. Josey normalmente ficava sentada, esperando por ela, batendo papo com as velhinhas. Mas a mãe lembrou-a de que tinha de ir buscar o óleo de hortelã feito especialmente para ela por Nova Berry, a mulher cuja família administrava o mercado de produtos orgânicos.

Josey foi buscar o óleo, mas Nova ainda não o havia aprontado. Pediu-lhe que voltasse dali alguns dias. Saindo do mercado, Josey quis apenas passar pela casa de Della Lee. Della Lee já estava no seu closet havia dois dias e Josey ainda não havia conseguido decifrar por que estava ali ou como, exatamente, faze-la sair. Talvez a casa dela lhe desse algo com que barganhar.

Nada como uma pequena invasão de domicílio para alegrar o dia!

Quando Josey chegou à varanda, surpreendeu-se ao encontrar a porta da frente aberta. Bateu na porta de tela. Ninguém veio atender.

-Olá?- chamou.

Continuou sem resposta. Abriu a porta de tela e entrou.

O lugar estava um caos. Havia latas de cerveja por todos os lados, uma caneca quebrada no chão e uma cadeira de pernas pro ar.

Ela dera apenas alguns passos para dentro quando parou, e seu coração saltou contra as costelas como um gato assustado.

Havia um homem dormindo no sofá.

Ela ficou ali por alguns instantes, paralisada, temendo ter feito barulho o suficiente para acordá-lo. Ele não era, muito claramente, o tipo de homem que alguém iria querer acordar.

Não vestia camisa, e os músculos indicavam que passava um bocado de tempo numa academia. As maçãs do rosto eram salientes, e os cabelos eram longos, lisos e escuros. Exalava alcool e alguma outra coisa gostosa, embora obscura e defumada, que deixou Josey intoxicada, como se de alguma maneira estivesse se perdendo naquilo tudo.

Rainha Dos DocesOnde histórias criam vida. Descubra agora