Caramelos de leite

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Na segunda-feira à tarde, a caminho do mercado de produtos orgânicos para pegar o óleo de hortelã da mãe, que finalmente ficara pronto, Josey passou pelo Palácio da Justiça para ver Chloe. No instante em que a viu a meio caminho na rotunda, percebeu que algo estava errado. Chloe estava sentada a uma das suas mesinhas de café, na frente do balcão, com uma xícara de café nas mãos, olhando para ontem.

- Chloe?

Ela imediatamente ergueu os olhos. Quando viu quem era sorriu.

- Ah, oi, Josey. - Não usava maquiagem e os cabelos estavam presos num rabo de cavalo amarfanhado. Havia tristeza sob a sua pele, que lhe dava uma palidez frágil, sem brilho.

- Qual o problema?

Chloe deu de ombros, os movimentos desconfortáveis.

- Acho que passei um tempo em estado de choque. Com Jake me dizendo que dormiu com outra mulher, e eu o expulsando de casa. Este fim de semana acho que, finalmente, caí em mim. Bum!

Josey tentou pensar em algo reconfortante para dizer, do tipo quando tudo der errado, comer chocolate ajuda.

Chloe balançou a cabeça.

- Desculpe. Não quis despejar isso em cima de você. Vai querer um sanduíche?

- Tenho de ir ao mercado de produtos orgânicos pegar óleo de hortelã. Eu só queria passar aqui e dar um oi e agradecer, mais uma vez, pelos livros.

- Óleo de hortelã? É por isso que você sempre tem cheiro de Natal?

Josey riu.

- Minha mãe insiste em que o óleo de hortelã seja usado nas esquadrias da casa. É para manter os visitantes inesperados longe. Eu tenho quase certeza de que a velha herbanária do mercado fica espalhando esse tipo de superstição para ganhar dinheiro. Ela diz que consegue fazer poções do amor, elixires para sonhos agradáveis, encantamentos que produzirão mais horas num dia. Nova Berry. Ela é hilária.

- Nunca ouvi falar nada.

- Pouca gente ouviu. Só trabalha para gente recomendada.

Pensativa, Chloe disse:

- Acha que pode me recomendar para ela?

- Ora, claro. Do que é que você está precisando?

- Não sei - respondeu Chloe. - Quem sabe ela não me diz.

~~~~~~~~~~~S2

Nova Berry parecia um galho seco de nogueira-americana: alta, magra e nodosa. Nos dias de hoje, as pessoas tratavam o que ela fazia como novidade, mas houvera um tempo em que as mulheres da família Berry eram muito conhecidas pelos seus remédios naturais. Olmo para os problemas digestivos. Trevo-dos-prados para afecções da pele. Calêndula para os mal-estares femininos mensais. Nova dizia que o para a azia também corações partidos e que o seu remédio para cólicas também aumentava a fertilidade - ou diminuía, se assim quisesse.

Os filhos de Nova administravam o mercado, e ela tinha o laboratório de manipulação nos fundos. Josey levou Chloe até lá, afastando a cortina que o separava do resto da loja. Nova estava sentada à sua bancada de trabalho, macerando alfazema num almofariz com um pilão.

Ergueu os olhos quando elas entraram.

- Josey! Estou com óleo de hortelã de sua mãe bem aqui. Por favor, peça-lhe desculpas por ter demorado tanto. - Ela se levantou e entregou um pequeno frasco de vidro antes de apontar para uma explosão de cachecóis de tricô e ervas desidratadas pendurados num canto. - E então quer um cachecol? O vermelho é a sua cor mágica, Josey. Experimente o vermelho.

Rainha Dos DocesOnde histórias criam vida. Descubra agora