Oh how I wish

10.9K 1.1K 1.3K
                                    

Louis estava colocando suas coisas no armário que dividiria com a irmã que ainda estava emburrada. Ela sentara-se na cama perto da janela e falara por horas o quanto sentia falta de Doncaster. Só tinha se calado quando Phoebe passara pela porta e dissera que ela parecia uma criança chata. Louis riu e comentou o quanto deveria ser grave ouvir isso de uma menininha de oito anos carregando um ursinho cor-de-rosa nos braços. Lottie se deitou na cama e virou-se para o lado oposto ao do irmão e acabou dormindo.

Louis também sentia falta de casa, claro. A escola não era ruim e seu melhor amigo estava lá. Stan e ele se divertiam e ele era seu único amigo realmente próximo.

Louis não gostava de ser o centro das atenções, isso lhe causava um enorme desconforto. Ele poderia ser classificado como alguém quieto, mas isso era totalmente falso quando se conseguia alguma amizade com ele: o garoto era engraçado. Um humor sarcástico que fazia Stan repetir sempre, entre gargalhadas:

- Tinha que ser você para vir com uma dessas, Tommo! Impagável, cara!

Mas ainda sim, ele era quieto no geral. Tudo desde aquela apresentação do jardim de infância, há exatos onze anos atrás. Louis não conseguia se entender: ele não tinha uma crise apresentando trabalhos ou mesmo quando tinha que perguntar algo a um estranho. Mas cantar... e ainda em cima de um palco... Aquilo sim era um problema. Não era um simples medo de criança: Louis tinha dezesseis anos e continuava a se sentir com apenas cinco quando se deparava com a possibilidade de ter que subir em um palco.

Ele ia ao psicólogo desde semanas depois do ocorrido. Não era ruim, porque ele basicamente brincava enquanto um doutor de meia-idade lhe fazia perguntas que o pequeno nem prestava atenção. O homem também gostava de ficar com seus desenhos e só depois de anos ele descobriu que desenhos falavam o que ele não queria ou mesmo sabia que tinha que falar.

Louis não era uma criança atípica. Na verdade, não havia nada de errado com ele além de uma timidez inocente. Mesmo assim, após seis meses de tratamento, quando o médico, ele e a mãe foram até um teatro do bairro onde moravam e o pequeno Louis teve a visão do palco, suas perninhas se recusaram a andar. Ele chorava que não queria ir lá. Apesar de só estar com a mãe e com o psicólogo, aquilo fazia suas mãos suarem, seu coração acelerar e, durante a segunda tentativa, meses depois, ele desenvolvera dois novos sintomas: estremecimento nas mãos e náusea. O diagnóstico? Ansiedade social leve.

Na verdade, deixar Doncaster poderia lhe fazer bem, Louis pensou enquanto continuava a colocar suas coisas no lugar. A cidade lembrava muito de sua “doença”: a antiga escolinha, o teatro do bairro, aqueles adultos chatos que tinham presenciado o ocorrido esbarrando nele no supermercado e sempre comentando “Lembra daquela sua apresentação na escolinha? Deu tanta dó!”. Nunca mais aquilo, era um alívio!

Talvez Cheshire fosse seu novo começo.

Na hora do jantar, os Tomlinson foram para o restaurante da Pousada Sulivan que estava razoavelmente cheio. Jay e Mark sempre tinham problemas em arrumar uma mesa com cadeiras e espaço suficiente para abrigar toda a família. Mas uma mesa grande no centro do local fora reservada para eles por Megan e puderam se sentar com folga.

A comida era ótima. O estilo era self service e havia muitas opções. Havia também uma parte só para sobremesas que havia interrompido o caminho de volta a mesa por uns bons minutos, até Jay pedir a Louis para tirar as irmãs de lá, o que rendeu mais uns minutos de espera já que ele próprio ficara paquerando o bolo de cenoura com cobertura de chocolate.

Finalmente sentados, o jantar prosseguiu tranquilo, até o pequeno palco a frente do estabelecimento – se é que se poderia chamar um quadrado de ladrilhos brancos como o chão com pouco mais de 30 cm de altura, de palco - ser preparado para uma apresentação.

Lottie se empertigou na cadeira quase esbarrando no braço de Louis e fazendo com que este derrubasse o pedaço de carne que levava a boca. Olhou torto para ela, mas a garota estava tão interessada no que estava acontecendo no palco que não percebeu a indireta.

- Meu Deus, aquele garoto lindo vai se apresentar? – ela falou com um misto de surpresa e excitação na voz.

Ele e a mãe, mais próximos dela, ouviram e olharam na mesma direção a qual seus olhos surpresos focavam: ali, no pequeno e alto palco a frente, um garoto de cabelos cacheados cheios, olhos verdes e sorriso simpático ajeitava o microfone enquanto outro garoto loiro sentava em um banquinho de madeira atrás dele.

- Uau, ele é uma graça mesmo! – a mãe concordou e Louis rolou os olhos, não prestando muita atenção no garoto em questão.

- Aparentemente mamãe adoraria tê-lo como genro... – Lou sorriu de lado para as duas e Lottie mostrou a língua para ele voltando sua atenção ao garoto no palco imediatamente.

As irmãs, que se sentavam do lado oposto e estavam de costas para o palco, se viraram ao mesmo tempo quando ouviram a voz grave ao microfone. Ele parecia ter uma voz um pouco firme demais para a idade.

- Boa noite, pousada Sulivan! – falou simpático. – Eu sou Harry Styles, este é meu amigo Niall Horan! Espero que gostem do pequeno show.

Os acordes de “Imagine” de John Lennon soaram suavemente. Niall mantinha a cabeça um tanto baixa e era óbvio que o outro era a estrela do espetáculo.

Quando Harry começou a cantar, Louis encarou a toalha de mesa e deixou o garfo a meio caminho de sua boca. Voltou os olhos lentamente à figura que cantava de olhos fechados. Aquela voz era grave e simplesmente feita para cantar. Louis tinha certeza que ficaria boa com qualquer música, era impressionante.

Lottie parecia hipnotizada a seu lado, enquanto suas outras irmãs e seus pais faziam comentários elogiosos ao modo que ele cantava.

- Ah, ele é ótimo não? – Lottie se assustou com a voz atrás dela. Tia Megan estivera na cozinha verificando se estava tudo ok junto aos funcionários e estava passando pelo salão quando Harry começou a cantar. Ela deu uma olhada na mesa da família e, com um sorriso divertido ao reparar os olhos hipnotizados de Lottie, se colocou atrás desta e começou a falar. – Harry é um achado. E só tem catorze anos! Imaginem esse garoto com dezesseis, dezenove?

- Ele é realmente muito bom. Tem uma voz firme. – Jay comentou enquanto Lottie mentalmente processava a informação de que aquele garoto era somente dois anos mais velho que ela.

- Ele entrou aqui no verão passado. A voz dele mudou de lá para cá, mas já prometia muito! Eu disse a ele que poderia cantar uma música por noite porque a voz dele ainda estava naquela fase de mudança e eu não queria arriscar que acabasse desafinando de tempos em tempos. – A senhora deu uma pequena risada, Jay a acompanhou. – Agora, olhem só: o garoto canta umas quatro músicas por noite, às vezes até mais porque todos gostam muito. A maioria das garotinhas esquece até de comer, imaginem!

Tia Megan finalizou piscando para Jay enquanto batia nas costas da cadeira de Lottie. Esta voltou sua atenção à conversa finalmente e as olhou confusa. Mark observou o gesto de sua tia e arqueou as sobrancelhas na direção da filha, não gostando muito da insinuação.

Louis, por sua vez, tentou se concentrar na comida, mas toda vez que o tal Harry começava uma música nova ele acabava passando uns segundos o observando. O mais novo não parecia conseguir tirar notas muito altas, mas Tia Megan tinha razão: ele  prometia. Louis sentiu inveja por ser mais velho e não conseguir fazer aquilo também. Bom, ele também não tinha aquela voz afinada, bonita como aquela. Não tem nada demais achar a voz de um cara bonita, alias. O garoto ali na frente também tinha presença de palco: sorria, encarava os presentes, introduzia as músicas de forma animada. Era óbvio que as pessoas deveriam pedir mais, ele era mesmo muito bom.

Com o olhar decepcionado, Louis voltou a comer sem interrupções quando o show acabou. Tinha ficado abatido com todos os pensamentos. Odiava se sentir fraco por causa daquela doença estúpida. Quase desejou ser capaz de estar naquele palco também. “Continue sonhando, loser” uma voz em sua cabeça o repreendeu. 

The CureOnde histórias criam vida. Descubra agora