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       O VENTO GELADO  cobre minha pele branca por inteiro, o ar entra com dificuldade em meus pulmões, minhas mãos pequenas e desprotegidas – sem luvas – estão trêmulas e doem por conta do frio, meu corpo inteiro doí pelo impiedoso frio, meus láb...

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       O VENTO GELADO  cobre minha pele branca por inteiro, o ar entra com dificuldade em meus pulmões, minhas mãos pequenas e desprotegidas – sem luvas – estão trêmulas e doem por conta do frio, meu corpo inteiro doí pelo impiedoso frio, meus lábios estão secos e machucados, e posso não vê-los, mas tenho a certeza de que eles estão arroxeados, a rua está escura, melancólica, e não tem sinal de outra vida humana a caminhar por ela, sendo iluminada somente por alguns postes de luz, as casas que se encontram à beira da calçada estão silenciosas e escuras, as vitrines das lojas não tem luz, estando esquecidas em meio a escuridão febril, a cidade está adormecida, e acredito veemente que sou a única pessoa a andar por essas ruas gélidas e solitárias.

   Meu estômago se revira em uma fome penosa, a dor ultrapassa os níveis normais, respiro fundo e sinto meu corpo tremer, o casaco fino não ajuda em nada, o frio consegue se esgueirar por sua camada e atacar-me, tento pensar que já estou próxima de casa, que são só mais alguns simples e irreverentes minutos até o conforto de minha cama, mas no fundo isso não é verdade, estou sim próxima de casa, ou daquilo que eu gosto de fantasiar ser minha casa, quando na verdade, não se passa de um cubículo fétido e sem estruturas, em um péssimo e perigoso bairro, onde eu não vou encontrar conforto, nem aconchego, o aquecedor não vai funcionar, a geladeira vai estar vazia, o colchão duro estará jogado no chão álgido, nada que lembre um lar.

   Mas não permito que nenhum desses pensamentos me abalem, tudo irá melhorar, eu tenho que acreditar nisso, é á esse pensamento o qual eu me agarro com todas as forças que ainda restam.

   Chego no prédio onde moro e corro para a porta, a chave já pronta em mãos, tudo para que possa adentrar rapidamente, o bar que fica na esquina está fechado indicando o quanto está tarde, arrasto a porta com dificuldade, empurrando ela com o lado direito do meu corpo, fazendo força principalmente em meus ombros, no mesmo segundo que atravesso a porta sinto o calor abraçar-me, aliviando a dor e fazendo-me soltar um suspiro de abrandamento, posso sentir até mesmo meus ossos agradecendo a quentura e a calmaria da entrada do pobre e destruído prédio.

   Com um grande esforço eu consigo chegar ao quarto ao andar, a porcaria do edifício não tem um elevador, o corredor do meu andar se relaciona muito com a escadaria que acabei de passar, as paredes beges escuras, com grandes manchas de mofo e um cheiro ainda pior, a pintura se descascando e dependendo do dia – não é o caso de hoje – posso encontrar baratas perambulando pelos corredores, como se elas mesmas fossem moradoras pagantes daqui.

   Meus tênis me levam direto para a porta do apartamento 403, colado na porta com um pedaço de fita estava um recado do meu síndico, avisando de um modo pouco amigável que eu tinha até as sete da manhã para pagar o aluguel, não só o deste mês, como também o do mês anterior que eu ainda não havia pago, 600 dólares ao todo, ou seria despejada na mesma hora.

   Bato a porta atrás de mim e amasso o papel com força antes de jogá-lo no lado oposto da cozinha, deixo minhas costas baterem contra a parede fria e escorrego paro o chão, meus joelhos colados em meu peito, não me permito chorar, se uma lágrima sequer cair irá me destruir por completo, de dentro para fora, e dessa vez não sobrará nada para ser salvo.

O Frio Do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora