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    NÃO É FÁCIL, MAS VALE A PENA, minha mãe constantemente recitava essa pequena frase, roubada de um livro de poemas que ela nunca terminou de ler, eu corria para seu colo sempre que algo em minha vida parecia ir para o lado errado, e ela sussurr...

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    NÃO É FÁCIL, MAS VALE A PENA, minha mãe constantemente recitava essa pequena frase, roubada de um livro de poemas que ela nunca terminou de ler, eu corria para seu colo sempre que algo em minha vida parecia ir para o lado errado, e ela sussurrava em meus ouvidos com sua melódica voz, que não era sempre fácil, mas que valia a pena.

   Olho para o rosto sorridente do homem, com sua filha no colo sorrindo também, uma família feliz, queria dizer que não estou com inveja, que ver eles tão contentes não faz com que algo dentro de meu coração se corroa, no fundo eu estou satisfeita por eles, eu sei que estou, mas neste momento, ver que eles têm o que eu um dia já tive dói, lembrar da felicidade que um dia fez parte de mim dói, tudo dói.

   Por esse único motivo, eu forço minha mente a se lembrar da frase que minha mãe tanto adorava, tentando provar a mim mesma que vai valer a pena, que tudo vai dar certo, tem que dar.

   — Bom, eu tenho que ir, até outro dia princesa Aurora. — sorrio para a garotinha radiante e arrumo a coleira de Mike em minhas mãos.

   — Espera, entrega o convite para ela papai, o da apresentação de balé, vai ser lá na minha escola Daisy, e eu vou estar divina, muito especial, você precisa ir. — ela junta a palma de suas mãos juntas, e me implora com seus intensos olhos azuis, fazendo biquinho com seus lábios.

   — Talvez eu vá Aurora, mas eu trabalho muito, e talvez os horários não combinem, mas eu vou tentar.

   Me sinto ruim por mentir para uma criança, mas eu não posso ir, trabalho o dia inteiro, das oito da manhã até as duas da madrugada, não tenho tempo disponível, somente aos domingos, que eu uso quase inteiramente para recuperar o sono da semana.

   — Vai ser domingo, assim todos os pais podem ir, né papai? — a pequena olha para o pai com os olhos bem abertos, procurando confirmação, o que ele concede rapidamente, em um leve aceno — Viu? Você vai poder me ver dançar lindamente, e divinamente, bem igual a uma princesa, lembra que você disse que eu era uma?

   — Lembro sim, e você é, e eu vou sim na sua apresentação. — sorrio, sabendo que não vou dormir tanto assim esse domingo.

   Ela solta os braços do pescoço do pai e tenta ir para o chão mexendo os pés freneticamente, quando ele nota e a solta com cuidado e ela corre para minha frente abrindo os bracinhos, logo que entendo o que ela quer olho para seu pai, procurando permissão, a qual ele concede novamente com um aceno, então a pego no colo e sinto seu cheirinho de criança, um perfume doce e infantil.

   — Sabia que eu dançava balé quando tinha sua idade? — ela nega e continua a me olhar, querendo uma história — Pois é, eu era muito boa, a melhor, eu ainda tenho meus trajes, mas já não os uso mais, mas eu ainda devo saber dançar.

   O tio dela me olha sorrindo quando termino de falar, todos sempre acham engraçado meu nível de autoconfiança, mas eu era realmente boa, não tenho porquê mentir, me dou meus méritos.

O Frio Do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora