Capítulo 05

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- Desculpe, eu... Não estou te entendendo. - Maite riu mais uma vez, atônita.

Não deveria ter escutado direito mesmo, o som estava alto, pessoas conversavam e riam alto ao seu redor, só poderia ter se confundindo. Mas, curiosamente, a falta de atenção que ela resolverá negar aquela garota, aguçou seus sentidos... Maite agora sentia algo estranho, como se tivesse o dever e a curiosidade de escuta-la. Automaticamente, a saliva de sua boca pareceu travar na garganta, tamanha firmeza que aquela garota a olhava.

- Vem cá, você quer que eu desenhe?! - Lucy a encarou. - Eu sou a tal garota que te ligou, marcando uma entrevista, e por mera coincidência, sou a filha que você abandonou a dezessete anos atrás.

A expressão que Maite mantinha agora, não era de surpresa, - como Lucy esperava -, e muito menos de susto. Maite permanecia totalmente sem expressão, e isso levou Lucy a aproximar-se ainda mais dela, encarando-a firme nos olhos, tamanha era sua frieza.

- Isso é algum tipo de brincadeira? - Maite questionou. Lucy riu, negando.

- O que você acha? - questionou, Maite abriu a boca para dizer algo, porém Lucy a interrompeu. - Sou eu, Maite. Sou eu o bebê que você largou naquele orfanato, que você jogou como se não significasse nada, como se tivesse algum tipo de culpa, por qualquer que fosse o motivo para você cometer tamanha barbaridade.




Maite escutava aquela garota atentamente, tentando buscar em sua memória, algo que fizesse sentido em meio a enxurrada de palavras que ela lhe dirigia. O olhar dela era frio e desesperador, até que por uma lembrança rápida, Maite lembrou-se que a exatos dezessete anos atrás, um acontecimento inesperado ocorreu em sua vida, era inacreditável. Como aquela garota poderia saber do que havia lhe ocorrido? A morte do bebê que Maite deu a luz, era mantida em segredo, e apenas seus pais e seus irmãos sabiam, nem Anahí, que era sua confidente chegou a saber do caso. Agora, tanto tempo depois, Lucy dirigia-se a ela com tantas informações e, acusações. Acusações essas, que Maite não entendia o porquê. O bebê havia morrido minutos depois de seu nascimento, a dor que Maite sentia ao saber da notícia dada por Victoria, sua mãe, fazendo-a sentir-se vazia, tinha decidido ter aquele filho, não iria abortar, não faria o gosto dos pais, iria cuidar da criança, sozinha ou não, jamais abandonaria um ser indefeso e inocente. A irresponsabilidade dela, ao engravidar envolvia apenas a ela e ao tal garoto que mal conhecia, que dormirá apenas uma noite, e que acidentalmente, conceberam um filho. Apenas eles, carregaram essa responsabilidade, ninguém mais, o bebê nasceria, o término do ensino médio, e da faculdade que viria logo depois, ficariam para um segundo plano, e tudo sairia bem, afinal, seriam apenas alguns meses. Mas, nada, definitivamente nada sairá como o planejado. O bebê morreu após o nascimento, e todos, decidiram então esquecer.

Agora, tudo parecia girar em sua cabeça, Maite não conseguia ligar as coisas, não conseguia raciocinar, eram coisas demais...

- Você não vai falar nada?! - Lucy esbravejou, alterando o tom de voz. Maite, pela primeira vez naquela conversa, encolheu os ombros, assustada.

- Eu... eu... isso só pode ser...

- NÃO! NÃO É NENHUMA BRINCADEIRA! - Lucy gritou assim, interrompendo-a. - Eu estou aqui. Vamos lá, me diga algo! - Lucy exigia, seus olhos agora lacrimejando, já não podia controlar as emoções...

Uma irá incomum lhe consumiu, e Lucy sentia vontade apenas de gritar aquela mulher, seu silêncio a irritava, era como se para ela, nada significasse. Como poderia ser tão fria? Como conseguia, estando frente a frente com a própria filha que havia abandonado?

Mãe e filha, frente a frente. Ver aquela cena, fez Zac ficar em alerta. Lucy tinha feito, estava consumado, e por conhece-la tão bem, Zac avançou até ela, segurando-lhe o braço discretamente.

- Lucy... - chamou, tentando amenizar a tenção. - Você gritou e todos te olharam, acalme-se.

- Me solta. - Lucy continuou a encarar a mulher a sua frente, dessa vez buscando algo em sua expressão que a fizesse ter certeza que todas as palavras que havia dito, tinha surtido algum efeito, apesar de serem tantas outras preparadas para aquele momento. - Zac...

- Lucy... - Zac a chamou mais uma vez, dessa vez, segurando-a mais firme pelo braço. - Você prometeu não fazer nenhum escândalo.

- Eu não fiz. - Lucy o olhou, afastando-se calmamente. - Não fiz e nem vou fazer. Essa mulher fria, não merece. - direcionou o olhar para Maite novamente.

- Escuta aqui, garota. - Maite aproximou-se pela primeira vez, olhando-a com um certo desdém. - Eu não sei qual é a sua intenção, qualquer que seja, me polpe desse seu showzinho. Você deve estar me confundindo, eu não tenho nenhuma filha. Nunca...

- Vai me dizer que nunca teve?! - Lucy esbravejou. - Oh sim, claro. - ironizou. - Você prefere negar, não é?

- Eu já disse, você deve estar me confundindo com alguém. - Maite pontuou, respirando fundo. - Se você puder me dar licença...

- Eu só saio daqui quando você me explicar porque me abandonou. - Lucy virou-se para Zac, que tentou uma vez mais, interromper-lhe. - E você, não tente me impedir.

- Lucy, por Deus! - Zac encarou-lhe com o olhar firme.

- Eu vou te dizer, se você faz tanta questão em saber. - Maite interrompeu-o, chamando a atenção dos dois. - Eu engravidei aos dezessete anos, foi com um garoto que eu não conhecia muito bem, acidentes acontecem, você sabe. Eu decidi ter o bebê, ele não tinha culpa, apesar de saber que eu iria perder um tempo na escola e talvez até na faculdade, eu decido ter a criança. - Maite repitiu mais uma vez, sem deixar ser interrompida. - Mas ele morreu assim que nasceu. - os olhos de Lucy arregalaram-se, surpresa, a garota olhava-a com uma certa dúvida. - É apenas isso que eu tenho para te dizer. Me deixe em paz. - Maite virou-se e seguiu em direção ao bar. Precisava beber um pouco, estava tensa.

- Espere! - Lucy soltou quase como um grito, indo atrás dela. - Victoria. Victoria Perroni, essa foi a mulher que me deixou no orfanato. - concluiu, observando Maite parar, virando-se para ela.

Talvez, agora fizesse todo o sentido...

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