Capítulo 19

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- Será uma conversa rápida... - Lucy ressaltou, séria.

- Olha, eu não quero discutir com você, nós não temos que... - Maite começou a falar, mas Lucy rapidamente a interrompeu.

- Nós precisamos conversar. Será uma conversa rápida. - a garota pontuou, firme.

- Vou deixar vocês a sós... - Logan disse calmo, retirando-se da sala.

E o silêncio se fez novamente. Lucy esperava uma resposta, e Maite permanecia sem pronunciá-las, a situação condizia, e ambas não sabiam sequer o que falar.

- Eu só quero conversar. - Lucy começou. Dava para notar em seu tom de voz, que ela realmente precisava, então, Maite resolveu ceder.

- Entre. - Maite respondeu imediatamente, sem deixar que ela continuasse. - Eu não esperava... - ela continuou, fechando a porta, assim que Lucy avançou para dentro.

- Me desculpe por ter vindo sem avisar. - Lucy passou o olhar por toda a sala, curiosa, inquieta, e a forma que ela avaliava tudo, fez Maite encontrar algo em si própria. Lucy tinha no olhar, a mesma inquietação que ela.

- Tudo bem, eu só não esperava. - Maite respondeu rápida, olhando-a. - Sente-se.

- Não. - Lucy recusou de imediato, direcionando o olhar para ela. - Primeiro eu quero te entregar uma coisa. - puxou a mochila que mantinha apenas por um ombro, para a frente do corpo, buscando algo no pequeno bolso. - É algo seu, e eu me achei no direito de te entregar. - Maite franziu o cenho, não entendia o que poderia ser, mas apenas esperou que ela terminasse. - Estava comigo quando fui adotada.

Lucy tirou uma correntinha de ouro de dentro da bolsa, esticando o braço para que ela pudesse pegar, e a surpresa logo veio a Maite. O pingente dourado, em formato de uma meia-lua, finalizada com um pequeno e notável diamante, a fez estremecer. Ela lembraria, onde fosse daquele colar, havia ganhado de sua avó, hoje já falecida, e significava muito, na verdade significou, já que na noite em que supostamente sua filha havia morrido, o colar também sumiu. Era como sentir todas as lembranças novamente, mas Maite não sentia mais raiva, remorso, ou rancor. Lucy tinha carregado consigo uma pequena parte dela, além de seu sangue nas veias, e, para Maite, foi como sentir um alívio incomum.

- Obrigada... - Maite respondeu, pegando o colar, avaliando-o. - Mas, ele é seu. - voltou a olhá-lá.

- Não. - Lucy negou. - Eu sei que ele pertence a você, posso imaginar... Tem seu nome escrito atrás.

- Eu ganhei da minha avó. - Maite sorriu com as lembranças. - Obrigada. - voltou a olhar para Lucy.

- Imagine. - Lucy juntou as mãos, torcendo os dedos. - Eu usei ele na minha festa de quinze anos, e... Para mim, ele também é muito significativo. Meus pais nunca me esconderam o lance da adoção, e, eu fui crescendo com a vontade de ir atrás das minhas origens, entender o porquê...

- Por favor... Não...- Maite pediu, sem deixar de fixar o olhar no dela.

- Me deixe continuar, eu só preciso falar. - Lucy respirou fundo. - Eu não vou te culpar, te xingar, agora eu entendo. Eu já sei de todas as respostas, e entendo você... - as últimas palavras saíram em um fio de voz, e ela se concentrou em suas mãos, torcendo-as, em um ato nervoso. - Eu jurei te odiar pelo resto da minha vida, eu jurei que iria te sufocar com todo o sentimento de culpa, e que iria destruir você, mas eu... eu, meu Deus, eu falhei. Eu falhei como nunca antes. Você não teve culpa, você não me abandonou como eu pensava, você foi, você é, uma vítima tanto quanto eu... - Lucy soluçou, e então as duas primeiras lágrimas caíram, pesadas.

Maite não sabia como responder, mas já reagia, seu coração apertado, as lágrimas rolando por seu rosto, o choro tão contido, sufocando-a. O sentimento que ela teve naquele momento, foi de correr para abraçá-lá. Sim, sua filha estava ali em sua frente, a filha que cruelmente arrancaram de seus braços, enganando-a, a filha que ela pensou estar morta, que foi poupada de cuidar, educar... E, incrivelmente, Lucy era tão parecida com ela... Não só pela aparência, mas o jeito, o jeito daquela garota fazia com que Maite senti-se orgulho de alguma forma, mesmo por conhecê-lá tão pouco, havia algo mais forte que as uniam ainda mais. Algo muito mais forte. E, pela primeira vez, Maite agradeceu internamente por finalmente estar vivênciando aquele momento. Lembraria de agradecer tanto Mark quanto Lexie por ter cuidado tão bem da filha, que agora também era sua...

- Eu acabei envolvendo pessoas demais nessa minha obsessão louca, de querer a todo custo encontrar respostas. - Lucy soluçou. - Eu entendo o quanto os meus pais sofreram, e olha que eles sequer tinham culpa. Eles me deram tudo, eles salvaram a minha vida, e eu simplesmente resolvi ignorar isso um pouco, pensando apenas em mim, em minha bagunça interior. Também tinha o Zac, ele é, ele sempre foi um namorado maravilhoso, e, mesmo sabendo que eu corria o risco de perdê-lo, eu resolvi arriscar. - suspirou, baixando o olhar. - E a Hannah... Eu a usei para chegar até você. Eu joguei sujo com ela, eu fui egoísta...

- Você não precisa... - Maite tentou, mas Lucy voltou a falar.

- E, eu não odeio você. - Lucy a olhou, com os olhos repletos de lágrimas. - Eu não odeio você, eu só disse porque estava com raiva, eu tinha fechado os olhos e decidi enxergar apenas o que eu sentia. Me perdoe, eu não odeio você. - ao finalizar essas palavras, Lucy de todos os jeitos, desarmou Maite, porque, por aquilo, ela não esperava.

- Ouvir isso me dá um certo alívio, porque... Eu realmente senti muito quando te ouvi dizer que me odiava. - foi tudo o que Maite conseguiu falar.

- Eu fui atrás de histórias parecidas com a minha, e eu ouvi muita coisa. Cada caso é um caso, mas, teve uma história que mexeu comigo, a garota, diferente de mim, não queria ir atrás dos verdadeiros pais, e, mesmo sem saber quais foram os motivos, ela os odiava. Eu não, eu sentia raiva de você, mas queria poder entender.

- E você veio...

- Eu estou aqui agora. - Lucy murmurou. - E... E depois de descobrir toda a verdade, eu não quero te perder. Eu... Eu não posso. - negou, arfando. - Eu não posso...

- Oh meu Deus, Lucy... - Maite soluçou, apertando os olhos, sentindo as lágrimas escorrer pelo rosto. - Eu... Eu sei que também não foi fácil para você, eu sei a bagunça que você tem aí dentro. - aproximou-se, afagando os cabelos de Lucy, tocando seu rosto, em um desespero incomum para abraçá-lá.

- Todos nós estamos bagunçados, um pouco... - Lucy murmurou, mirando o chão, sentindo Maite beijar seus cabelos, enquanto soluçava. - E eu não preciso te perdoar... - levantou o olhar para ela, chorando ainda mais. - Eu só precisava... Eu só precisava te falar... - antes que pudesse terminar, o desejo de abraçar Maite foi maior, e assim, Lucy o fez, permitindo aquele momento somente as duas...

Não precisava que palavras fossem ditas, o abraço apertado bastava, naquele momento, era suficiente...

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